Título: CNI quer reformas contra a crise
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 29/10/2008, Economia, p. A18

Sugestões incluem eficiência nos gastos públicos, mudança no sistema tributário e educação

Márcio de MoraisViviane Monteiro

BRASÍLIA

O deputado e presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto (PTB-PE), defendeu ontem uma agenda de reformas para reduzir custos da economia brasileira e ampliar a escala de produção, como "dever de casa", para superação da crise financeira internacional. Para ele, a necessidade de o país investir "pelo menos" R$ 25 bilhões nos setores de infra-estrutura pode tropeçar na falta de marcos regulatórios e incertezas jurídicas que impõem taxas de crescimento menores ao país.

Monteiro Neto disse que as "estratégias robustas" para o Brasil vencer a crise incluem a modernização do sistema tributário e das relações trabalhistas, a eficiência do gasto público e a melhoria na educação. O dirigente também defendeu a redução da taxa de juros pelo Conselho de Política Monetária (Copom), em sua reunião de hoje.

¿ Se todos os países reduzem (os juros), como o Brasil pode ir na contramão? ¿ questionou, ao afastar qualquer chance de recessão interna. ¿ Não haverá quadro recessivo, mas uma desaceleração ¿ avaliou, otimista.

No Encontro Nacional da Indústria, com a participação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, empresários e parlamentares da oposição, em Brasília, Monteiro Neto lamentou a demora de até 30 horas para que um navio consiga atracar em portos nacionais, as estradas esburacas, as hidrovias e ferrovias insuficientes ao escoamento da produção, para observar que só a modernização pode evitar o retrocesso e a paralisia do mercado. O dirigente disse que a CNI apóia as medidas adotadas pelo governo, mas acredita que é preciso mais agilidade e rapidez para evitar que a demora traga impactos à economia real.

¿ Para este ano, a indústria vai crescer acima da média (mais de 5%); o desafio é o próximo ano (2009) ¿ observou. Ele lembrou que a dificuldade de crédito começa a afetar setores, como o automobilístico, que já registra uma pequena retração. ¿ Aumento de exigências cadastrais e prazos mais curtos influem diretamente no consumidor ¿ disse.

O dirigente manifestou o temor de que o mercado brasileiro seja invadido por produtos da China, face à guerra comercial que a desaceleração econômica pode provocar no mercado internacional.

¿ O mundo inteiro teme uma invasão da China, que pode voltar-se para o mercado externo, com a oferta de produtos baratos.

Para ele, o Brasil precisa das reformas para também poder oferecer produtos mais baratos e evitar entrar na onda de medidas protecionistas locais, cujo resultado "será a recessão e mais prejuízos à economia internacional". Defendeu ainda que os países da América do Sul adotem estratégias comuns contra a crise, para evitar tensões regionais:

¿ É o momento de voltar para a própria agenda, de fazer o dever de casa, sugeriu, ao defender a redução da burocracia e maior controle dos gastos públicos. Desperdícios, corrupção e gastos ineficientes são origens de mais tributos ¿ refletiu, referindo-se à imobilidade da sociedade na questão do controle dos recursos oficiais. A alienação "nossa e da sociedade sobre a qualidade dos gastos públicos explica a carga tributária atual", disse, ao propor o monitoramento permanente dos gastos federais, estaduais e municipais, nas instâncias do Executivo, Legislativo e Judiciário.

Mercadante na oposição

Presente ao encontro, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) embarcou no discurso da oposição e disse que o governo precisa "sair do palanque" e promover medidas estruturais para resolver os problemas da atual crise de liquidez no curto prazo. Assim, evitará problemas mais drásticos que a crise poderia provocar à economia brasileira. Categórico, Mercadante defendeu cortes de gastos de custeio do governo e reformas estruturais para garantir os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na economia.

¿ Precisamos sair do palanque. As eleições já acabaram e temos que enfrentar essa crise de forma séria ¿ disse o senador, defendendo a criação de reformas anti-crises.

Mercadante pediu ainda mudanças nas leis para fixar limites para o aumento da folha de pagamento do governo, limitar gastos de custeio e regulamentar a greve de funcionários públicos. Tal medida foi apoiada por Mantega. O ministro da Fazenda, que ficou mais na defensiva durante o evento, disse que o governo tem feito uma política fiscal eficiente, com fortes superávits primários e espera que a reforma tributária, em trâmite no Congresso Nacional, seja aprovada ainda este ano.

No debate, o presidente do Conselho de Administração da Gerdau, Jorge Gerdau, afirmou que a política adotada pelo governo para melhorar a liquidez do sistema financeiro "está correta". Porém, cobrou flexibilidade do governo para que o dinheiro chegue ao caixa das empresas que passam por dificuldades de acessar crédito no mercado. Gerdau reclamou do atraso dos investimentos em infra-estrutura e disse que o governo precisa reduzir os custos para o setor produtivo e evitar que toda a economia brasileira seja afetada pela crise.