Título: Sem baixa, títulos do Tesouro continuarão atraindo bancos
Autor: Góes, Ana Cristina
Fonte: Jornal do Brasil, 30/10/2008, Tema do Dia, p. A2

Como o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa de juros Selic em 13,75%, os títulos do tesouro nacional continuarão atraindo as instituições financeiras por causa de sua alta performance. No entanto, segundo especialistas, a restrição ao crédito é uma questão de tempo. Nas próximas reuniões, o governo deverá investir na redução da taxa para estimular a volta do crédito e o aquecimento da economia.

É o que sustenta Alcides Leite, professor de Economia da Trevisan Escola de Negócios. Leite considera acertada a decisão, mas avalia que o governo brasileiro deverá incentivar a redução mais adiante. Perplexos com a crise internacional, os bancos decidiram pôr o pé no freio e fechar a torneira para o crédito, além de terem concentrado as aplicações em títulos do tesouro nacional.

Como esses títulos estão atrelados à Selic, quanto mais alta a taxa, mais rentável eles ficam. Por isso, a aplicação torna-se ainda mais atrativa. Contudo, Leite acredita que a opção das instituições financeiras pelos títulos do governo é temporária.

Paralisação momentânea

Segundo o professor de economia, a paralisação momentânea do crédito ocorreu porque os bancos não sabiam o rumo da crise internacional, mas essa tendência não perdurará por muito tempo.

¿ Quando os bancos públicos voltarem a emprestar dinheiro e ganharem mercado, as instituições privadas terão de se mexer ¿ disse.

O aumento da taxa de juro, no entanto, "segue na contramão de todas as medidas implantadas até hoje, que objetivam reduzir o volume de dinheiro em circulação", diz.

¿ A própria pressão inflacionária é menor, diante do desaquecimento da economia global. Não há razão para seguir com a alta ¿ analisou.

Já Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central (BC) e atual chefe do Departamento Econômico da Confederação Nacional do Comércio (CNC), considera que os bancos têm escolhido a aplicação mais rentável e segura.

Para Freitas, a restrição ao crédito é uma solução temporária, mas pode levar mais tempo do que se imagina porque a situação internacional é nebulosa.

¿ Enquanto o dólar continuar pressionando a economia, o governo não vai baixar os juros. Estamos navegando com bastante nervosismo ¿ avaliou.

Reinaldo Azevedo, professor de Economia da UFRJ, diz que a taxa de juro já está mais cara.

¿ Na ponta ela já subiu. Pegar dinheiro emprestado hoje custa mais do que há 15 dias, então não há necessidade de aumentá-la ¿ ressalta Azevedo. ¿ O mundo inteiro pratica uma ação coordenada para reduzir juros, só o Brasil não. É um erro gravíssimo.

O economista também acredita que os bancos continuarão a comprar títulos do tesouro por ser a melhor opção, já que emprestar dinheiro hoje em dia é muito arriscado.

¿ Ninguém sabe o tamanho da crise e se o tomador do empréstimo vai ter condição de honrar a dívida. Por isso, os grandes bancos continuarão aplicando em títulos do governo ¿ prevê. ¿ Para impedir a prática, o governo deveria colocar fiscais dentro dos bancos, mas isso não vai acontecer porque são eles que financiam as campanhas políticas.