Título: BC pisa no freio e segura juros
Autor: Góes, Ana Cristina
Fonte: Jornal do Brasil, 30/10/2008, Tema do Dia, p. A2

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central interrompeu uma série de quatro altas e decidiu ontem pela manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano, em linha com a expectativa da maior parte do mercado. A decisão foi unânime e sem viés, e levou em conta "o cenário prospectivo e o balanço de riscos para a inflação, em ambiente de maior incerteza", como informou a nota divulgada pelo colegiado.

Portanto, o atual cenário turbulento, com a possibilidade de uma recessão mundial, e a escassez de crédito levaram o Conselho a interromper o ciclo de aperto monetário e optar pela manutenção da Selic.

Compasso de espera

¿ O comunicado destacou a palavra incerteza, e a avaliação do Copom é a de que, desde setembro, o mundo mudou. Tomamos um susto com o câmbio e o crédito, mas nos últimos dias ficou mais claro que não é preciso elevar o juro básico para levar o câmbio para um patamar razoável. Com a desaceleração econômica, a melhor coisa que o Copom pode fazer é ganhar 45 dias para ver o que acontece ¿ pondera o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.

Para o presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), Walter Machado de Barros, a decisão do Copom mostra que o Banco Central está sensível às necessidades do mercado.

¿ Com a desaceleração da demanda, a manutenção da Selic foi uma decisão natural ¿ conclui o especialista.

Segundo o economista-chefe da corretora Gradual, Pedro Paulo Silveira, "prevalece a idéia de que a queda no preço das commodities (matérias-primas) neutraliza o câmbio e que a possibilidade de um choque monetário paralisaria a economia".

O diretor da Daycoval Asset Management, Roberto Kropp, observa que o atual cenário justifica esta parada técnica no aperto monetário.

¿ A queda na oferta por crédito, a redução da confiança dos empresários na economia, a piora nas perspectivas de crescimento, cortes de investimentos em geral e a queda nas expectativas de lucro levaram a essa parada técnica, apesar da desvalorização do real que pode vir a impactar os preços no varejo ¿ arrematou Kropp.

E o economista-chefe da corretora Concórdia, Elson Teles, prevê uma ata do Copom ¿ que será divulgada na próxima quinta-feira ¿ austera.

¿ O Copom pode sinalizar a possibilidade de uma retomada no processo de alta na taxa Selic caso o cenário para a inflação se deteriore.

Fed derruba taxa

O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) cortou ontem a taxa básica de juros americana em 0,50 ponto percentual, na tentativa de evitar que a intensificação da crise de crédito leve a economia para uma profunda e prolongada recessão. E deixou a porta aberta para mais reduções se for necessário.

A decisão unânime colocou a taxa básica em 1,0%, o menor nível desde junho de 2004. A unanimidade também prevalecia em Wall Street na crença de que o Fed cortaria os juros, ainda que mostrasse divisão sobre o tamanho da redução.

"O ritmo da atividade econômica parece ter desacelerado fortemente devido, principalmente, a um declínio nos gastos do consumidor", destacou o Fed em comunicado. "Além disso, a intensificação da turbulência no mercado financeiro deve exercer pressão adicional sobre os gastos".

Riscos continuam

O banco central dos Estados Unidos já cortou os juros de 5,25% em nove atuações nos últimos 13 meses para conter a tempestade financeira que começou com o colapso do mercado imobiliário do país e se espalhou por todo o mundo.

O Fed tem agido agressivamente para combater a crise de crédito com uma série de medidas para injetar liquidez nos mercados. Os formuladores de política monetária enfatizaram essas medidas no comunicado.

Mas a autoridade monetária dos EUA concluiu que "os riscos ao crescimento continuam", mantendo a opção de cortar mais os juros.

¿ A economia deve ficar fraca por vários trimestres, e com algum risco de uma desaceleração prolongada ¿ afirmou o chairman do Fed, Ben Bernanke, no dia 20, ao Congresso americano.

O Produto Interno Bruto (PIB) do país será divulgado hoje, e especialistas têm dito que, possivelmente, terá havido uma retração de 0,5 % no terceiro trimestre.