Título: Desafio é impedir bloco anti-PT de se alastrar
Autor: Dirceu, José
Fonte: Jornal do Brasil, 30/10/2008, Opinião, p. A9

ex-ministro chefe da Casa Civil

Apurados os votos não foi dessa vez que a oposição venceu. Ao contrário, no balanço geral perdeu e feio. 72% dos eleitos são da base governista. O PMDB e o PT são os grandes vencedores ¿ cada um elegeu seis prefeitos de capitais. Nas 26 onde houve eleição, 20 prefeitos eleitos ou reeleitos são da base governista.

Se somarmos o número de prefeitos do PMDB, cerca de 1.200, a maioria nas pequenas cidades, aos 559 do PT, a maior parte nas médias e grandes, veremos que os dois tiveram cerca de 50 milhões de votos. É fácil entender, portanto, porque é tão importante a aliança entre o PT e o PMDB. E porque o governador tucano José Serra fez questão de aliar-se ao PMDB do antes arquiinimigo Orestes Quércia em São Paulo, que indicou a vice-prefeita de Gilberto Kassab em troca do compromisso de ter a vaga de candidato ao Senado na coligação PSDB-DEM em 2010.

Não foi dessa vez que a oposição e grande parte da mídia levaram o país ao medo e a desesperança. Foram inúteis suas tentativas de envolver os eleitores num clima de pânico e pessimismo por causa da crise internacional e seus efeitos no Brasil. O eleitorado não se deixou contaminar, votou e deu ao presidente Lula, a seu governo, ao PT e aos demais partidos de sua base um voto de confiança.

A mídia, que dirigiu a oposição e pautou seu discurso nas eleições, seja no Rio, seja em São Paulo, sem escrúpulos e numa violação aberta da legislação eleitoral tomou partido, apoiou candidatos, interferiu nos debates, pressionou a Justiça, desconstituiu candidaturas, mas não levou. Não elegeu o deputado Fernando Gabeira, da coligação PV-PSDB no Rio, apesar da vitória de Gilberto Kassab, do ex-PFL-DEM-PSDB em São Paulo.

Infelizmente não temos só o problema do poder econômico ou do uso da máquina pública nas eleições. Cada vez mais fica evidente o papel da mídia e o uso e abuso de seu poder de monopólio a favor da direita e da oposição ao projeto político que o PT e Lula encarnam. Essa verdade que não dá para esconder. Chegou a hora não só da reforma política para combater o caixa 2 e o uso da máquina, mas também o abuso do monopólio da mídia e sua interferência nas eleições a favor de candidaturas e propostas políticas.

Em São Paulo, no Rio, e de certa forma no Rio Grande do Sul e no Paraná a direita conservadora, com apoio da mídia, construiu um bloco social e uma coalizão política contra Lula e seu governo, contra o PT e seus aliados, apoiada num discurso falsamente moralista de resgate da velha UDN, e no antipetismo. Dividiu o eleitorado em termos de renda, escolaridade, idade, região e moradia, procurando nos isolar das camadas médias da sociedade e penetrar no eleitorado popular, apoiada na máquina dos governos e no apoio da mídia ou da propaganda eleitoral.

Esse é o maior desafio que temos pela frente: impedir que essa tendência se expanda para o Brasil e, ao mesmo tempo, reconquistar os setores da nova classe média altamente favorecidos pelo governo Lula, que abraçaram um discurso preconceituoso e antipetista.

A vitória de Serra e de seu candidato em São Paulo ¿ atenuada pelo avanço do PT na Grande São Paulo e no interior ¿ e a tentativa de eleger Gabeira consolidam a aliança PSDB-DEM-PPS-PV para 2010, e fortalecem a candidatura Serra à Presidência da República pelo PSDB. Mas ele ainda precisa derrotar o governador de Minas, Aécio Neves, ou atraí-lo para uma vice-candidatura. Sem Minas, o Rio e o Nordeste ¿ estados/região onde não tem votos ¿ dificilmente Serra vencerá em 2010.

A definição de 2010 não se deu nessas eleições. Depende de como o governo e o PT vão equacionar a crise. E a coligação para 2010 depende de como vamos enfrentar essa santa aliança da mídia com a oposição, de nossa capacidade de renovar e reformar o PT e sua política, e de construir um programa e uma coalizão que representem para o povo uma continuidade, sem Lula, do projeto político de desenvolvimento que ele retomou e representa referendado pelo povo em 2006 e agora em 2008.