O Estado de São Paulo, n.46377, 08/10/2020. Política, p.A5

 

'Acabei com a Lava Jato', diz Bolsonaro

Jussara Soares

Emilly Behnke

08/10/2020

 

 

Em resposta a 'lavajatistas', presidente afirma ter 'orgulho' do fim da operação porque, segundo ele, 'não tem mais corrupção no governo'

O presidente Jair Bolsonaro disse ontem que tem "orgulho" de ter acabado com a Lava Jato, porque, segundo ele, "não tem mais corrupção no governo". A declaração foi uma resposta a críticas de defensores da operação por ter se aproximado de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que questionam métodos da força-tarefa.

Bolsonaro selou a indicação do desembargador Kassio Marques para o Supremo após uma reunião com os ministros da Corte Dias Toffoli e Gilmar Mendes, que chancelaram a escolha. O nome de Marques também teve o aval do Centrão, grupo político que se aliou ao governo federal em troca de cargos. A base bolsonarista reagiu e acusou o presidente de traição por não ter indicado um nome alinhado com pautas mais conservadoras.

"É um orgulho, é uma satisfação que eu tenho, dizer a essa imprensa maravilhosa que eu não quero acabar com a Lava Jato. Eu acabei com a Lava Jato, porque não tem mais corrupção no governo. Eu sei que isso não é virtude, é obrigação", afirmou Bolsonaro durante evento no Palácio do Planalto, quando discursava no lançamento do Programa Voo Simples, do Ministério da Infraestrutura.

A declaração ocorreu momentos depois de os ministros do Supremo decidirem alterar o regime interno para que ações penais e inquéritos voltem a ser analisados pelo plenário, e não mais pelas duas turmas de julgamento. A medida retira inquéritos e ações penais da Lava Jato da Segunda Turma, onde são julgadas hoje. Recursos, como habeas corpus, continuam sendo analisados pela Turma.

Com a possível chegada de Marques ao colegiado, o receio era de que poderia haver um "reforço" no grupo formado pelos ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski, que costumam fazer críticas à operação.

A indicação de Marques, costurada com o apoio de políticos do Centrão e do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-rj), vem sendo contestada por diversos grupos de apoio ao presidente. Evangélicos, militares e "lavajatistas" externaram a "decepção" com o escolhido para a vaga aberta com a aposentadoria do ministro Celso de Mello, decano do tribunal. Como o Estadão mostrou, informações do currículo de Marques são inconsistentes (mais informações na pág. A6).

Ontem, Bolsonaro voltou a sair em defesa de seu indicado para o Supremo. "Quando eu indico qualquer pessoa para qualquer local, eu sei que é uma boa pessoa tendo em vista a quantidade de críticas que ela recebe da grande mídia", disse.

Prazo. No mês passado, o procurador-geral da República, Augusto Aras, prorrogou o prazo para o funcionamento da forçatarefa da Lava Jato de Curitiba por mais quatro meses, até 31 de janeiro do ano que vem. O prazo é menor do que o grupo havia pedido, de um ano a mais. A decisão de Aras foi tomada em meio a uma queda de braço com a força-tarefa da Lava Jato paranaense. O procurador-geral é crítico do modelo de forças-tarefa e já defendeu o que chama de "correção de rumos" na operação. Nos bastidores, porém, a ofensiva do chefe do Ministério Público Federal é considerada por procuradores como uma tentativa de enfraquecer as investigações.

Corrupção

"É uma satisfação dizer (...) que não quero acabar com a Lava Jato. Acabei com a Lava Jato, porque não tem mais corrupção no governo."

Jair Bolsonaro

PRESIDENTE DA REPÚBLICA