Correio braziliense, n. 21054, 15/01/2021. Brasil, p. 6

 

Salvação pode vir da Venezuela

15/01/2021

 

 

A White Martins, principal empresa fornecedora de oxigênio do governo do Amazonas, pode trazer oxigênio da Venezuela. Isso porque verificou a disponibilidade do produto em seus estoques no país vizinho e que, "neste momento, está atuando para viabilizar a importação do produto para a região". A iniciativa visa mitigar a crise vivida por Manaus, cuja rede hospitalar colapsou devido à covid-19 e pacientes com a doença estão morrendo por asfixia devido à falta de oxigênio para a intubação.

De acordo com a empresa, a demanda por oxigênio subiu cinco vezes nos últimos 15 dias. Atualmente, o volume é de 70 mil metros cúbicos diários, com tendência a continuar aumentando –– consumo que é quase o triplo da capacidade de produção da unidade de Manaus da White Martins, de 25 mil m³ por dia.

Para viabilizar a disponibilização do oxigênio, a produtora de gases fez um requerimento à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que "autorize a flexibilização temporária, em caráter excepcional, do percentual mínimo de pureza do oxigênio medicinal produzido no estado do Amazonas. Dessa forma, a porcentagem mínima seria alterada para 95%", informou em nota. Atualmente, o percentual mínimo de pureza exigido é de 99,9%.

Devido à demanda crescente, no início deste ano, a White Martins informou que carretas e tanques de sete estados do país foram desviados para Manaus, aumentando o volume médio de 22 mil m³ por dia. A empresa acrescentou que "colocou à disposição das autoridades o envio de 32 tanques criogênicos móveis que, neste momento, estão em São Paulo e aguardando nova mobilização para serem transportados" para a capital amazonense.

Entre abril e maio, na primeira onda da pandemia da covid-19, o pico de consumo de oxigênio foi de 30 mil m³ por dia.

À noite, o ministro das Relações Exteriores da Vanezuela, Jorge Arreaza, publicou no Twitter que manteve contatos com o governador do Amazonas, Wilson Lima, e garantiu a ajuda do governo venezuelano para mitigar a crise em Manaus.

O Amazonas registrou ontem mais 5.930 mortes, sendo 44 nas últimas 24 horas. Em Manaus, houve 254 internações de quarta para quinta-feira. O total de casos no estado é de 223.360, com 3.816 em 24 horas e, desses, 2.516 apenas na capital,

Pedido ao Rio
No último domingo, Wilson Lima enviou um pedido de ajuda ao governador em exercício do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PSC), devido à "iminência de sofrer desabastecimento" de oxigênio. O documento, datado do último dia 10, salienta a dificuldade em tom dramático.

"Por conta do uso intensivo de oxigênio de uso hospitalar, principalmente no tratamento dos problemas respiratórios relacionados à covid-19, e diante desse quadro já preocupante, o Amazonas está na iminência de sofrer desabastecimento desse produto", explica o pedido.

Lima ainda admite, na mesma solicitação de ajuda, que há um problema "sem precedentes no sistema de saúde" de Amazonas, apesar de ter revogado decreto — que publicou nos últimos dias de 2020 — que restringia as atividades econômicas no estado às essenciais.

"Vimos, por meio desta, solicitar a disponibilização de estoque de oxigênio de uso hospitalar dessa unidade da Federação para que o Amazonas possa mitigar os efeitos da pandemia e, com isso, salvar vidas", diz o pedido, em outro trecho. No documento, o governador do Amazonas reconhece, também, que o colapso "resultou a ocupação integral tanto da rede pública quanto da privada".

Avião dos EUA
Aviões da Força Aérea dos Estados Unidos poderão auxiliar no transporte de cilindros de oxigênio no Amazonas. Segundo o deputado federal Marcelo Ramos (PL-AM), o governo brasileiro pediu à Embaixada dos Estados Unidos que disponibilize as aeronaves.

"Tem lugar que tem oxigênio, mas não tem uma aeronave que transporte oxigênio em cilindro. O único que tem (capacidade para transportar os cilindros) entrou em pane e está em manutenção", disse Ramos. "Falei com o ministro (Relações Exteriores) Ernesto Araújo e estamos tentando, junto à Embaixada, a liberação de um avião da Força Aérea norte-americana, um Galaxy, para levar o oxigênio", afirmou. A Embaixada dos Estados Unidos disse, apenas, que está ciente do pedido e que mantém contato com as autoridades brasileiras para tratar do assunto.