Correio braziliense, n. 21054, 15/01/2021. Brasil, p. 6

 

Aplicativo recomenda remédios sem eficácia

15/01/2021

 

 

Em meio à pandemia do novo coronavírus, que, de acordo com números oficiais, matou até ontem 207.095 pessoas (1.131 em apenas 24 horas), o Ministério da Saúde lançou um aplicativo que visa incentivar o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19. Chamado de "TrateCOV", o aplicativo ajuda a diagnosticar a doença, depois de o médico cadastrar sintomas do paciente e comorbidades, como diabetes. Em seguida, a plataforma sugere a prescrição de medicamentos como hidroxicloroquina, cloroquina, ivermectina, azitromicina e doxiciclina, o kit-covid –– que não é recomendado pela Organização Mundial de Saúde por não haver evidências de que esses medicamentos são eficazes contra a doença.

O lançamento foi em Manaus, que colapsou por falta de oxigênio nos hospitais. O ministro Eduardo Pazuello e equipe estiveram na capital amazonense até a última quarta-feira (14). O ministério disse que as sugestões do aplicativo são de "opções terapêuticas disponíveis na literatura científica atualizada", e ressalta que o objetivo é aprimorar e agilizar os diagnósticos da covid-19.

Em publicação no site da prefeitura, a secretária municipal de Saúde, Shádia Fraxe, disse que reforça "a importância do tratamento precoce para evitar que o quadro clínico se agrave". "Se, clinicamente, o paciente apresentar sintomas que sugiram covid-19, já recebe tratamento e seu quadro de saúde será monitorado por pessoal capacitado para isso", disse.

Entre os agentes defensores do tratamento precoce estão o sindicato dos médicos e o Conselho Regional de Medicina do Amazonas (CRM-AM). O presidente sindicalista Mário Vianna afirmou que "o Ministério da Saúde tem mais de 150 trabalhos científicos com resultados positivíssimos com tratamento precoce". Indagado sobre a procedência desses estudos, Vianna disse que "não tem em mãos, mas os documentos estão nas redes sociais", sem dar detalhes. A prefeitura também foi questionada sobre quais evidências científicas subsidiam o uso desses remédios, mas também não respondeu.

Outra capital que adotou esses medicamentos foi a ade Porto Alegre. Desde a campanha, o novo prefeito, Sebastião Melo (MDB), dizia ser contrário a medidas de restrição para conter a transmissão da covid-19. Tão logo assumiu o governo, Melo cumpriu a promessa, e editou um decreto flexibilizando as restrições.

Além da mudança em relação ao funcionamento do comércio, Melo também decidiu adotar o chamado "tratamento precoce". Os medicamentos que o governo municipal pretende distribuir na rede pública foram entregues pelo ministério sem custos aos cofres municipais. (BL, MEC e ST)

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pessoas morreram, até ontem, vítima da covid-19. 1.131 em apenas 24h