Correio braziliense, n. 21054, 15/01/2021. Brasil, p. 6
Índia põe em dúvida vinda de fármaco
15/01/2021
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Índia, Anurag Srivastava, afirmou, ontem, que "é muito cedo" para dar respostas sobre exportações das vacinas, já que a campanha de imunização no país está no começo. A afirmação foi feita em função de questionamentos sobre a entrega, ao Brasil, de dois milhões de doses do medicamento da Oxford-AstraZeneca, replicada pelo Instituto Serum. Ficou, porém, a dúvida se a restrição pode valer para o lote a ser trazido pelo cargueiro da Azul, que segue hoje para Mumbai. O governo brasileiro conta com essas doses para dar início à campanha de vacinação, na próxima semana.
Aliás, a operação do Ministério da Saúde para buscar as doses na Índia foi adiada por 24 horas. A aeronave só segue viagem às 23h e isso pode atrasar, em um dia, o começo da campanha contra a covid-19. A pasta prevê para dar o pontapé inicial na próxima terça-feira.
A Azul alegou que o adiamento ocorreu devido a questões de logística no preparo da carga. Segundo a assessoria de imprensa da companhia aérea, o avião só sairá do Brasil quando a carga de vacinas estiver 100% pronta. Ontem, a aeronave foi adesivada com uma imagem do Zé Gotinha e com o slogan da campanha do governo federal: "Brasil imunizado: somos uma só nação". O adesivamento atrasou a ida do avião do Aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP) para o aeroporto dos Guararapes, em Recife. No entanto, a Azul disse que o atraso não afetaria o cronograma caso o avião seguisse ainda ontem para a Índia.
Já em Recife, o cargueiro agora aguarda a partida para a cidade indiana de Mumbai. A viagem de 12 mil km deve durar cerca de 15 horas. O Airbus A330neo é o maior da frota da companhia e foi equipado com contêineres especiais para garantir o controle de temperatura das doses da vacina. A carga é estimada em 15 toneladas. O pouso está previsto para ocorrer no Aeroporto Internacional do Tom Jobim/Galeão (RJ). Segundo a nota emitida pelo Ministério da Saúde, a vacina poderá ser distribuída aos estados em até cinco dias após a aprovação do uso emergencial da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) –– cuja diretoria colegiada se reúne neste domingo para tomar uma decisão. Com isso, a chegada dos imunizantes no Brasil, que estava prevista para acontecer amanhã, deve ocorrer também no domingo.
Na última quarta-feira, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) autorizou as empresas aéreas a transportarem vacinas refrigeradas com gelo seco na cabine de passageiros dos aviões. O transporte só ocorrerá, entretanto, se não houver passageiros durante o voo. (BL, MEC e ST)
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Imunização tem dia e hora
15/01/2021
O "dia D e hora H" citado pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, como início da campanha de vacinação contra a covid-19, finalmente parece ter data e momento para começar. Ontem, durante reunião com a Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), o Ministério da Saúde definiu para a próxima quarta-feira (20), às 10h, o início da imunização dos brasileiros. A previsão informada aos prefeitos, entretanto, ainda depende da aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre o uso emergencial das vacinas que seriam utilizadas.
Mas ainda pairam dúvidas. Após o encontro, o presidente da FNP, Jonas Donizette, afirmou que a data poderia ser postergada para 21 de janeiro, se houvesse atraso na chegada nos dois milhões doses da vacina de Oxford-AstraZeneca vindas da Índia. "Pode ser que fique para o dia 21. Porque é uma condicionante: era voo e a questão da Anvisa", explicou. O planejamento é para que ambas as vacinas (a outra é a CoronaVac/Sinovac) avaliadas pela agência estejam nos postos de vacinação para o primeiro dia de campanha, com aplicação prioritária em idosos e funcionários da Saúde.
No caso da CoronaVac, são previstas seis milhões de doses, o que totalizaria oito milhões para o início da vacinação. Na reunião, foi dada aos prefeitos a previsão de 30 milhões de doses de vacina até o mês de fevereiro e 80 milhões de aplicações até abril. Para este início, o governo federal planeja uma cerimônia, dia 19, data em que está marcada uma reunião com governadores em Brasília. O evento seria o lançamento oficial da campanha, com apresentação do cronograma de distribuição e imunização por estados e grupos.
Segundo Donizette, as oito milhões de doses previstas serão distribuídas a cinco milhões de brasileiros. Conforme disse, a vacina de Oxford/Astrazeneca será aplicada uma vez, com um intervalo de três meses para a dose final. Já no caso da CoronaVac, o intervalo é menor, de 21 dias, e serão enviadas aos municípios as duas etapas a serem aplicadas.
"Serão dois milhões de pessoas imunizadas pela AstraZeneca, e três milhões pela CoronaVac", garantiu. Pazuello vinha falando sobre a possibilidade de aplicar apenas uma dose, inicialmente, para alcançar mais pessoas.
Documentação
Como o início da vacinação depende do aval da Anvisa para os imunizantes que serão usados, a agência cobrou, ontem, documentos que precisam ser complementados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que no Brasil produz a vacina Oxford-AstraZeneca, e pelo Instituto Butantan, que replica a CoronaVac. Os imunizantes a serem usados neste início, entretanto, foram importados prontos da Índia e da China, respectivamente. Segundo a Anvisa, as instituições precisam complementar dados para que a análise do uso emergencial seja concluída.
Apesar de estar na iminência de ver a vacina que replica no Brasil ser aprovada para uso emergencial, a Fiocruz decidiu adiar, para a próxima semana, o pedido de registro definitivo da sua vacina, etapa que havia sido anunciado para hoje. Atualmente, 32,6% dos dados relacionados ao pedido foram analisados. Porém, outros 36,11% continuam em avaliação e mais 31,29% precisam ser complementados.
Já o presidente do Fundo Russo de Investimentos Diretos, Kirill Dmitriev, anunciou que a Rússia fornecerá ao Brasil, ao longo deste ano, 150 milhões de doses da Sputnik V. A farmacêutica União Química, que replicará o fármaco, deve submeter à Anvisa a documentação para homologação definitiva do imunizante na próxima semana. (BL, MEC e ST)