Correio braziliense, n. 21054, 15/01/2021. Negócios, p. 9

 

MPT fiscalizará demissões da Ford

Marina Barbosa 

15/01/2021

 

 

O Ministério Público do Trabalho (MPT) instaurou três inquéritos civis para acompanhar o processo de desligamento dos 5 mil funcionários da montadora norte-americana Ford no Brasil. O órgão informou, ontem, que fiscalizará as demissões por meio dos inquéritos. Na última segunda-feira (11), a companhia anunciou o encerramento das atividades no país após 102 anos, mas manteve as operações no Uruguai e na Argentina.

De acordo com o MPT, os inquéritos permitem a abertura de uma investigação e a coleta de provas para atuação judicial ou extrajudicial. Tanto que, com base nos inquéritos, o MPT criou um Grupo Especial de Atuação Finalística (Geaf) a fim de atuar "de forma coordenada e estratégica para mitigar os impactos decorrentes do encerramento das atividades nas três fábricas da Ford no Brasil".
A montadora anunciou o fechamento das plantas em Camaçari (BA), onde produz os modelos EcoSport e Ka; em Taubaté (SP), que fabrica motores; e em Horizonte (CE), na qual são montados os jipes da marca Troller.

A fiscalização do desligamento dos funcionários da Ford pelo MPT foi anunciada em reunião virtual entre o procurador-geral do Trabalho, Alberto Balazeiro; diretores e advogados da Ford no Brasil; o secretário especial da Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Bianco Leal, e o secretário de Trabalho da pasta, Bruno Dalcolmo.
Na ocasião, Balazeiro demonstrou preocupação não apenas com a demissão dos trabalhadores da Ford, mas, também, com o impacto do fechamento das fábricas na cadeia de fornecedores da montadora. A companhia se comprometeu, então, a apresentar os dados que vierem a ser solicitados pelo MPT.

Diálogo
Procurada, a Secretaria Especial de Trabalho do Ministério da Economia acrescentou que a reunião faz parte do processo de diálogo sobre a situação da empresa no Brasil e de seus trabalhadores. O governo da Bahia também já decidiu montar um banco de currículos para apresentar os funcionários da fábrica de Camaçari a outras indústrias que decidirem investir no estado.

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), ainda anunciou que vem a Brasília, na próxima semana, para participar de reuniões nas embaixadas da Índia, do Japão e da Coreia do Sul. Ele também procurou a embaixada da China no Brasil para tentar encontrar um substituto para assumir a unidade baiana. A equipe econômica, por sua vez, informou que tem buscado contato com outras montadoras para tentar ocupar o espaço que será deixado pela Ford na Bahia, em São Paulo e no Ceará.

Na quarta-feira (13), o presidente da Associação Nacional de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, defendeu a simplificação tributária e a transparência sobre os valores que deveriam ser reembolsados às empresas e estão represados. Segundo ele, o setor automobilístico tem R$ 25 bilhões em créditos tributários a receber do governo.