O Estado de São Paulo, n.46378, 09/10/2020. Política, p.A6

 

Presidente é agora aconselhado a se aproximar de Fux

Rosa Vera

09/10/2020

 

 

O presidente Jair Bolsonaro foi aconselhado por auxiliares a não comprar briga com o novo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux. Animado pelo aumento dos índices de popularidade nas pesquisas, Bolsonaro isolou Fux, a quem enxerga como um aliado do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, e faz questão de mostrar que tem amigos na Corte.

Agora, o palco do confronto é o destino da Lava Jato e seus investigados. Os movimentos dos últimos dias pareceram sincronizados. Mesmo antes do desfecho do duelo "Bolsonaro x Moro" – que entrou em cena após o ex-juiz da Lava Jato acusar o presidente de interferir na PF, o Planalto se prepara para a guerra, às vésperas das eleições municipais.

Primeiro, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) cometeu um sincericídio ao traduzir o "acordão" para estancar a "sangria" da Lava Jato, termo usado em passado não muito distante por Romero Jucá, que também virou réu da operação. Renan disse que Bolsonaro deixa um "legado" com o desmonte do "estado policialesco" e citou recentes iniciativas do presidente. Incluiu no pacote a indicação do desembargador Kassio Marques para ocupar a vaga aberta com a aposentadoria do decano Celso de Mello no Supremo. Marques defende a necessidade de "aparar excessos" nas investigações.

Um dia depois, Fux fez uma articulação interpretada por muitos como um xeque-mate para "salvar" a Lava Jato. O magistrado surpreendeu o grupo de Dias Toffoli e Gilmar Mendes, amigos de Bolsonaro no Supremo, ao levar à sessão administrativa, anteontem, uma proposta que transferiu o julgamento de ações penais para o plenário. Com a mudança, os casos da Lava Jato saem agora da Segunda Turma, que tem imposto sucessivas derrotas à Lava Jato e é apelidada de "Jardim do Éden", e vão para a análise de 11 ministros.

Após a primeira vitória de Fux como presidente do STF, Bolsonaro reagiu. "Acabei com a Lava Jato porque não tem mais corrupção no governo", disse, em mais uma frase que chamou a atenção pelo timbre do confronto. Ministros afirmam que, ao contrário de Moro e da máxima "In Fux We Trust", atribuída a ele, Bolsonaro nunca confiou em Fux. Mas terá de mudar a rota, se não quiser mais um embate na Praça dos Três Poderes.

REPÓRTER ESPECIAL DO 'ESTADÃO' EM BRASÍLIA