Título: Prêmios para todas as torcidas
Autor: Carlos Helí de Almeida
Fonte: Jornal do Brasil, 27/02/2005, Caderno B, p. B6

Será que desta vez Scorsese leva o Oscar? Os brasileiros cruzam os dedos por 'Diários de motocicleta'

O coração de Martin Scorsese vai bater outra vez mais forte hoje à noite, durante a 77ª cerimônia do Oscar. O prestigiado cineasta de 63 anos, que já concorreu ao prêmio de direção outras quatro vezes - por O touro indomável (1981), A última tentação de Cristo (1989), Os bons companheiros (1991) e Gangues de Nova York (2003) -, sem nunca convertê-lo, tenta novamente com O aviador, o recordista de indicações deste ano, que concorre em 11 categorias. Dessa vez, a grande pedra no caminho do diretor nova-iorquino sempre desprezado pela Academia é Clint Eastwood, que concorre pela direção de Menina de ouro, filme que disputa outros seis páreos (leia abaixo). A festa, que começa por volta das 22h30 (horário de Brasília), no Kodak Theatre, em Los Angeles, será transmitida por TVs aberta (Globo, a partir das 23h) e fechada (TNT, a partir das 22h30) locais. Aos brasileiros, que viram Olga, de Jayme Monjardim, o candidato oficial do Brasil à estatueta de melhor produção estrangeira, ficar fora dos finalistas ao prêmio, resta o consolo de torcer pelo multinacional Diários de motocicleta, dirigido pelo carioca Walter Salles.

O filme sobre a viagem pela América Latina empreendida por Ernesto Guevara bem antes de se tornar um líder revolucionário concorre em duas frentes, melhor roteiro adaptado (do porto-riquenho José Rivera) e melhor canção (Al otro lado del río, do uruguaio Jorge Drexter).

A música de Drexter escrita especialmente para o filme de Salles será defendida na cerimônia do Oscar pelo ator espanhol Antonio Banderas. A notícia, divulgada no início da semana, foi recebida com surpresa pela equipe da produção, que divulgou um manifesto criticando a decisão dos organizadores da festa.

''Nós, que estivemos tão intensamente envolvidos com a criação e realização de Diários de motocicleta, gostaríamos de expressar nossa insatisfação com o que parece ser eticamente inaceitável para nós. A decisão que nos está sendo imposta não é somente desrespeitosa com o artista como autor. Ela também demonstra um completo desinteresse pelos diversos matizes culturais que existem em nosso continente'', diz o texto.

Al otro lado del río aborda as escolhas éticas e morais que o jovem Ernesto Guevara fez ao se confrontar com as desigualdades políticas e sociais da América do Sul. Drexter também tornou pública a sua indignação: ''Eu teria gostado muito de cantar eu mesmo a minha canção ou, pelo menos, teria apreciado o gesto da produção do Oscar de me consultar sobre a apresentação da canção ao vivo, o que nunca aconteceu. Tampouco jamais eles fizeram contato comigo para comunicar as decisões a respeito'', reclamou o músico.

Escolhido para exercer o papel de mestre de cerimônias da noite, o comediante Chris Rock também trouxe constrangimento para a Academia, ao comentar que o Oscar não era uma festa assistida por heterossexuais. Indiferentes às críticas, os organizadores mantiveram Rock no centro do palco do Kodak Theatre, que terá astros do porte de Halle Barry, Dustin Hoffman, Renée Zellweger e Prince, entre outros nomes, como apresentadores de luxo.

Os filmes de Scorsese e de Eastwood polarizam as preferências para o prêmio de melhor produção do ano. Mas os outros três finalistas da categoria também estão amparados por uma razoável quantidade de indicações: Em busca da Terra do Nunca, de Marc Forster, cravou sete; Ray, de Taylor Hackford, ganhou seis; e o azarão Sideways - Entre umas e outras, de Alexander Payne, que disputa em cinco páreos.