O Estado de São Paulo, n.46379, 10/10/2020. Política, p.A16

 

Propostas têm mais impacto no município

Tulio Kruse

10/10/2020

 

 

Para analistas, problemas que afetam paulistanos exigem soluções que alcancem mais de uma área

A mais rica cidade brasileira, que concentra 10% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, é também o lugar onde se multiplicaram dificuldades. São Paulo tem mais de 470 mil famílias na fila por moradia e a maior população vivendo em favelas do País. Os paulistanos passam, em média, duas horas por dia no transporte público para conseguir trabalhar e estudar – e dizem que as oportunidades de emprego ficaram mais escassas nos últimos anos. Se o acesso à água chega a quase todos, quatro a cada dez não têm seu esgoto tratado.

À semelhança de outros municípios brasileiros, a capital paulista se expandiu e viu crescer a demanda por serviços de saúde, saneamento, transporte, moradia e tantos outros. A maior parte desses problemas está entre as atribuições das prefeituras e será tema dos planos de governo nas eleições municipais, marcadas para 15 de novembro. São as questões com impacto mais direto na vida dos cidadãos. Como dizia o ex-governador Franco Montoro, um municipalista convicto: “ninguém mora na União, e ninguém mora nos Estados; todos moram nos municípios”.

Em uma série de reportagens e conteúdos digitais, o Estadão tem buscado apresentar o contexto mais abrangente dos desafios que serão enfrentados pelos próximos prefeitos no Executivo municipal e exemplos de soluções que podem ser aplicadas na gestão pública. Ontem, o estadão.com.br lançou um monitor das propostas dos candidatos à Prefeitura de São Paulo.

“As cidades brasileiras, praticamente de todos os tamanhos, têm três problemas principais gravíssimos: infraestrutura sanitária, o uso e a ocupação do solo, e a mobilidade”, resumiu o professor Valter Caldana, que coordena o Laboratório de Políticas Públicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Ele também é um crítico da centralização política, e defende que apenas soluções “interdisciplinares”, pensadas para atacar mais de um problema ao mesmo tempo, serão capazes de dar conta dos problemas.

O marco regulatório do saneamento básico, aprovado no Congresso Nacional há quatro meses, traz um dos maiores desafios para o debate eleitoral de 2020. Para Caldana, os candidatos deveriam assumir compromissos agora – sob o risco de que o preço pelo abastecimento de água e tratamento de esgoto fique mais caro e ineficiente em locais que não fizerem essa discussão.

Resiliência. A professora Roberta Kronka, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), também defende planos de governo “transversais” que conecte soluções para diferentes áreas. Ela chama atenção para a necessidade cada vez mais frequente de planos emergenciais para lidar com ocorrências climáticas ou sanitárias nas cidades – os chamados “planos de resiliência”. Nessas situações, as prefeituras devem saber quais ações tomar para mobilizar toda a sociedade e setores do governo que vão desde a Defesa Civil até os motoristas.

“Precisamos resolver as emergências, mas e depois? Precisamos nos preocupar com questões de médio a longo prazo para não acontecer de novo. A resiliência média o quanto a cidade consegue absorver os problemas e voltar ao funcionamento de forma minimamente ‘normal’”, afirmou a professora. “Infelizmente, esses planos acabam sendo descobertos em locais que já passaram por problemas, quando passam pela segunda vez.”

O exemplo usado por todos tem sido a pandemia do novo coronavírus. O professor Ciro Biderman, do Centro de Estudos de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz que a situação escancarou o problema da rigidez no setor público. “Em geral, os candidatos têm de começar a pensar de alguma forma em trazer isso que o setor privado tem tão facilmente: flexibilidade”, disse Biderman.

CONTEÚDO MULTIMÍDIA

• Calendário estadão

Permite acompanhar as principais datas da eleição no Brasil e nos EUA. Pode ser adicionada a aplicativos no celular, tablet ou computador. estadao.com.br/e/calendario

• Política que marca

Série de sete episódios com podcasts, minidocumentários e infográficos sobre os principais marcos de São Paulo e os políticos por trás deles. estadao.com.br/e/pqm

• Destino de emendas

 Com ferramenta virtual para checar a atuação de cada vereador, especial mostra o destino de R$ 1,2 bilhão de emendas nos últimos 10 anos. estadao.com.br/e/emenda_vereador

• Boas práticas

Com projetos selecionados pelo Centro de Liderança Pública (CLP), série mostra que boa gestão não depende de muitos recursos. estadao.com.br/e/gestao

• Especial Saúde

Série aponta os principais desafios do próximo prefeito na Saúde – por causa da pandemia, a área entrou no foco das campanhas. www.estadao.com.br/e/saude2020

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total de propostas

• Seleção de projetos dos candidatos a prefeito feita pelo 'Estadão' e pela Rede Nossa São Paulo engloba 9 áreas