Título: Argentina de volta ao jogo do mercado internacional
Autor: Marcia Carmo
Fonte: Jornal do Brasil, 27/02/2005, Economia & Negócios, p. A21

Desde a crise asiática, em 1997, Brasil e Argentina trilharam caminhos bastante distintos. Os até então irmãos gêmeos - pelo menos na adoção da política econômica - se distanciaram pela primeira vez em mais de 20 anos e agora, para analistas, devem voltar à mesma arena. O sucesso da troca da dívida antiga dará ao país fôlego e bons indicadores, que prometem ofuscar o brilho do Brasil para os investidores estrangeiros. - O prêmio de risco dos bônus argentinos, após a reestruturação, ficará pouco acima do brasileiro e, por conta da excessiva liquidez, os títulos serão bem recebidos pelo mercado internacional. Com uma taxa de retorno alta, estimada entre 9,5% e 10%, a Argentina se mostra um investimento fantástico e pode atrair parte do capital que hoje está no Brasil - avalia o Raphael Kassin, gestor de mercados emergentes do ABN Amro em Londres. - E após um default, as incertezas de uma nova moratória são praticamente nulas.

Após a operação, o perfil da dívida Argentina passará a ser mais positivo que o do Brasil, o que lhe garantirá uma elevação quase imediata na classificação de risco. Mesmo sem a ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI), a Argentina já conseguiu da Standard & Poors a indicação de que sua nota deve aumentar para B logo após a troca. Ainda não há data prevista para a mesma reavaliação no caso brasileiro. Na última semana, diante de tamanha boa vontade internacional, o Banco Central argentino anunciou que pretende fazer o lançamento de bônus de longo prazo denominados em moeda local, o que o Brasil ainda não conseguiu. Mas o quintal do vizinho não é tão mais florido quanto se pode imaginar, diz o economista Antônio Licha, professor da UFRJ.

- Desde 2001 as tarifas públicas estão congeladas e, cedo ou tarde, o país terá que resolver esse impasse. Sem uma política que garanta rentabilidade ao investidor, não haverá os investimentos em infra-estrutura e a Argentina corre o risco de sofrer o apagão que o Brasil viveu em 2001.