Valor econômico, v. 21, n. 5185, 09/02/2021. Brasil, p. A6

 

Bolsonaro fala em ‘linha de corte’ para volta de auxílio

Matheus Schuch

Estevão Taiar

Marcelo Ribeiro

Raphael Di Cunto

09/02/2021

 

 

Presidente diz que governo trabalha para retomar ajuda, mas que é preciso responsabilidade

O presidente Jair Bolsonaro confirmou ontem que o governo trabalha para retomar o pagamento de um auxílio emergencial. O benefício, segundo ele, terá uma “linha de corte” em relação ao número de pessoas que o receberam no ano passado. No Congresso, a expectativa é que a proposta chegue após o Carnaval e alcance entre 20 milhões e 25 milhões de brasileiros.

Sem entrar em detalhes sobre o formato do benefício, Bolsonaro disse que o país está endividado e, por isso, é necessário ter cautela com novos gastos.

“Eu acho que vai ter. Vai ter uma prorrogação. Foram cinco meses de R$ 600 e quatro meses de R$ 300. O endividamento chegou na casa dos R$ 300 bilhões. Isso tem um custo”, argumentou, após ser questionado sobre o retorno do benefício durante entrevista à TV Band.

O presidente admitiu que tem sido pressionado a autorizar um novo benefício, mas defendeu cautela. “Se você não fizer com responsabilidade isso, você acaba tendo a desconfiança do mercado, aumenta o valor do dólar, passa para R$ 6. Fica uma bola de neve", acrescentou.

No Ministério da Economia, o planejamento prevê o pagamento de parcelas de R$ 200 por três meses. O benefício, de acordo com o jornal “Folha de S.Paulo”, poderá estar atrelado à exigência de que o beneficiário faça um curso de qualificação e seja associado à Carteira Verde e Amarela, programa que deve ser relançado pelo governo para reduzir encargos trabalhistas e estimular a formalização de pessoas de baixa renda.

Questionado ontem, Guedes disse que não decide sozinho o valor do auxílio e que a medida precisa estar em sintonia com o compromisso de equilíbrio fiscal.

“Não sou eu [quem decide]. Isso é todo mundo junto”, afirmou, ao ser questionado se já havia definido qual será o valor do benefício. “Isso é uma coisa mais difícil. Nós estamos conversando, tem que ter o compromisso com a responsabilidade fiscal”.

A pressão para a retomada do auxílio vem, em grande parte, do Congresso. Conforme o deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), a equipe econômica sinalizou que aqueles que receberem Bolsa Família não serão contemplados. Por isso, o governo trabalha para engordar o número de beneficiários do programa social para esvaziar o grupo que receberá o auxílio emergencial.

Já o novo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), defendeu ontem que não se pode condicionar novas rodadas de auxílio à aprovação de propostas de ajuste fiscal, como a PEC Emergencial e estimou que ainda nesta semana possa haver encaminhamento.

“É preciso evidentemente compatibilizar uma forma de ajuda e auxílio com a responsabilidade fiscal, com o equilíbrio das contas públicas. E eu estou com muita expectativa, positiva mesmo, de que a gente tenha uma solução disso nesta semana”, disse, em entrevista à Globo News.

Enquanto tenta atuar de forma coordenada com o Congresso para evitar a extensão de benefícios além do que o Executivo considera possível, Bolsonaro também analisa com auxiliares, como reagirá à medida provisória que reduziu de dez para cinco dias o prazo para que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) analise os pedidos de uso emergencial de vacinas no Brasil.

O presidente antecipou que considera um erro, mas ainda analisa os efeitos de um veto, e disse que discorda do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), que criticou a eficiência do trabalho da agência.

Depois de fazer discursos contrários aos imunizantes, Bolsonaro agora admite que “a chance de voltarmos à normalidade na economia aumenta exponencialmente” com a vacinação.

Na entrevista à Band, Bolsonaro confirmou que Onyx Lorenzoni deixará o Ministério da Cidadania para assumir a Secretaria-Geral da Presidência e negou que dará um banco público ou fará reforma ministerial para acomodar aliados do Centrão.