Correio braziliense, n. 21059, 20/01/2021. Cidades, p. 15

 

Vacina coloca o fim da pandemia no horizonte

Samara Schwingel 

Cibele Moreira 

20/01/2021

 

 

Emoção e esperança. Foram essas as palavras que a enfermeira Lídia Rodrigues Dantas, 31 anos, usou para descrever o que sentiu após ser a primeira moradora do Distrito Federal vacinada contra covid-19. "Até agora, estou tentando assimilar que estou vacinada. De qualquer forma, é uma sensação única de esperança", relatou. Assim como ela, profissionais de saúde das redes pública e particular começaram a receber as doses da vacina chinesa CoronaVac em oito hospitais da capital federal ontem. No Lar dos Velhinhos Maria Madalena, no Núcleo Bandeirante, mais uma etapa da campanha teve início: 122 idosos e 91 cuidadores receberam o imunizante. Hoje, começa a aplicação nas comunidades indígenas do DF.

A enfermeira Lídia Rodrigues atua, desde o início da pandemia, no box emergencial do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), unidade que se tornou referência para o tratamento da covid-19 no DF desde o início da pandemia. Além dela, cinco profissionais do serviço de saúde do DF (veja Os primeiros) receberam a primeira dose do imunizante, na solenidade que marcou o início da campanha de vacinação em Brasília. Também enfermeira, Najla Simone foi a responsável por aplicar a vacina. A expectativa do Governo do Distrito Federal (GDF) é de que cerca de 53 mil pessoas sejam vacinadas nos próximos cinco dias, cobertura vacinal possível até o momento com o número de unidades enviadas pelo Ministério da Saúde — são 106.160 doses da CoronaVac, e o imunizante prevê esquema de duas doses.

Moradora do Sudoeste, Lídia conta que vivia com a mãe, na Colônia Agrícola Águas Claras, mas precisou se mudar para evitar que a idosa se infectasse. "É gratificante saber que estamos caminhando para o fim de todo esse terror." Lídia emocionou-se. Com os olhos cheios de lágrimas, ela relembra as dificuldades que enfrentou no atendimento aos pacientes da covid-19. "Teve momentos em que achei que não conseguiríamos vencer", confessa.

Lídia é um dos milhares de brasilienses que perderam alguém amado para a doença, um colega de trabalho. Para ela, vacinar-se é uma obrigação social. "Foram 10 meses complicados, mas está acabando, não podemos relaxar agora. Um descuido pode ser o fim da vida de alguém", ressalta. "Nossa luta não foi em vão e vamos continuar lutando, em equipe, para o bem da população do DF."

Glória Neri, 76 anos, foi a primeira idosa a receber a vacina no DF. "Eu estou feliz da vida porque sou a primeira pessoa (idosa) do DF a ser vacinada, em nome de Jesus", disse. Ela mora no Lar dos Velhinhos Maria Madalena, onde foi vacinada.

Segundo o Plano Distrital, a vacinação ocorrerá em quatro fases. Os primeiros a serem imunizados são profissionais da saúde; idosos acima dos 60 anos que estão em instituição de acolhimento ou asilos e pessoas com mais de 18 anos com deficiência física que vivem nessa mesma condição, bem como seus cuidadores; e a população indígena. As que não forem vacinadas, neste primeiro momento, serão imunizadas assim que mais doses forem encaminhadas ao DF.

Os idosos com mais de 75 anos estavam na lista de prioridade entre os primeiros a serem vacinados mas, com a liberação de um número reduzido de doses, esse grupo precisou ficar de fora e será imunizado assim que novas doses forem liberadas. A segunda fase prevê a vacinação de idosos com mais de 60 anos; a terceira inclui pessoas com comorbidades; e a quarta, professores e profissionais da força de segurança e salvamento.

Presente no início da vacinação no Hran, o governador Ibaneis Rocha (MDB) afirmou que continuará pressionando o governo federal para que mais doses sejam registradas e entregues. "Fico feliz em saber que o Instituto Butantan (responsável pela produção da vacina chinesa CoronaVac no Brasil) pediu o registro de mais 5 milhões de doses. Vamos continuar cobrando das autoridades federais para termos um número ainda maior de vacinas para toda a população do DF", adiantou Ibaneis. A expectativa do Executivo local é de que, até o fim do ano, toda a capital federal esteja vacinada.

Mudanças
A previsão era de que a vacinação tivesse início, simultaneamente, em 15 hospitais da rede pública de saúde. Porém, devido a atrasos na entrega dos imunizantes, oito unidades conseguiram cumprir o cronograma. Segundo a Secretaria de Saúde, todas as unidades descritas receberão as vacinas, à exceção da base do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) que, ao contrário do que foi divulgado anteriormente, não será um ponto de vacinação.

De acordo com o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF), a secretaria entregará, hoje, vacinas para o Hospital de Base e para as UPAs de Sobradinho e de São Sebastião. Nas unidades do Iges-DF, são vacinados apenas os profissionais que estão na linha de frente no combate à covid-19, conforme definido no Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde, informou o instituto, em nota oficial.

Os primeiros

Na manhã de ontem, no Hran, a enfermeira Lídia Rodrigues Dantas e mais cinco profissionais que atuam na linha de frente da unidade foram os primeiros vacinados no DF. Confira:

» Karina de Jesus Silva, técnica de enfermagem, 38
» Ana Paula Barbosa Pereira, fisioterapeuta, 49
» Juliana Bento da Cunha, médica, 32
» Narcisa Trajano de Araujo, auxiliar de limpeza, 61
» Pedro Teodoro, vigilante, 58

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Alta procura nos postos da Capital 

20/01/2021

 

 

A chegada das vacinas no Distrito Federal deixou os brasilienses ansiosos. Postos de saúde, unidades básicas de saúde (UBS) e hospitais da capital receberam um grande fluxo de pessoas que estavam em busca da vacina, ao longo dessa terça-feira. Mesmo com o grupo prioritário composto, apenas, por profissionais da saúde, idosos em instituições de acolhimento ou asilos e a população tradicional (indígenas), moradores do DF saíram de casa para saber mais informações. O Correio percorreu alguns locais com salas de vacinação e encontrou filas na triagem, além de idosos que queriam saber se já poderia tomar a primeira dose da CoronaVac e pessoas que foram fazer o cadastro do Sistema Único de Saúde (SUS) para se vacinar. A retirada do grupo de idosos acima dos 75 anos — para imunização neste primeiro momento — causou certa confusão, e muitos procuraram as unidades de saúde para receberem a aplicação.

Morador da Asa Norte, o aposentado Albenzio Trajano de Moraes, 72 anos, procurou um posto de saúde atrás da vacina contra a covid-19. "Sei que não faço parte do grupo de maiores de 75 anos, mas vim mesmo assim para perguntar se era possível me vacinar com alguma dose que sobrasse", explicou. Com máscara de proteção facial e óculos com vedação, Albenzio conta que não sabia quais eram as pessoas que vão ser vacinadas com as doses que chegaram na capital na última segunda-feira. "Está confusa essa informação", indagou. A dúvida que ele tem é quando será liberada a vacinação para os idosos em geral. A resposta da Secretaria de Saúde é que, a partir das novas doses da vacina que forem sendo liberadas, mais grupos serão imunizados.

A aposentada Conceição Castro, 63, correu para o posto para realizar o cadastro do Sistema Único de Saúde (SUS). "Nunca precisei utilizar o SUS, mas com a vacina contra a covid-19, quis garantir e fiz o cadastro no posto", relata. No entanto, esse cadastro pode ser feito pela internet no site do Ministério da Saúde — www.conectesus-paciente.saude.gov.br. A população não deve ir aos postos para realizar a inscrição, principalmente, os idosos, que compõem grupo de risco para a covid-19.

Os dados cadastrados no SUS impactam em serviços ofertados pela rede. Se uma região tem um número de pessoas atendidas pelo sistema, mais investimentos são oferecidos para os hospitais, postos e unidades básicas de saúde. O cadastro não significa a garantia da vacina contra a covid-19, mas ajuda na melhoria e na oferta dos serviços na saúde pública, incluindo a quantidades de doses destinadas para cada sala de vacinação. Quem não fizer o cadastro prévio receberá a vacina da mesma forma, seguindo o cronograma da Secretaria de Saúde. A inscrição será feita no momento da aplicação. (CM)