Título: No final do ano, brasileiro irá às compras com cautela
Autor: Roda, Leda
Fonte: Jornal do Brasil, 02/11/2008, Economia, p. E1

Preocupado, consumidor economiza antes para gastar com ceia e presente.

Com a confiança na economia abalada, em tempos de crise financeira internacional, o consumidor brasileiro começa a se prepara para ir às compras no Natal. As avaliações das entidades ligadas ao comércio são otimistas quando o assunto são os movimentos das lojas no final do ano, mas a população, embora não se veja rondada pelo espectro do desemprego, tem demonstrado cautela na hora de tirar a mão do bolso. O índices relativos às expectativas de consumo divulgados em outubro revelam certamente um cenário mais sombrio que o dos meses anteriores. O índice de confiança do consumidor, medido pela Fundação Getúlio Vargas, caiu 10%.

O mesmo levantamento mostra que 48,2% dos entrevistados acham que o atual momento da economia é ruim. Em 2007, este índice era de 39,1%. E pior: para 30,6% dos entrevistados, a economia vai piorar nos próximos meses. Apenas um mês antes, só 5,7% pensavam dessa forma. Ainda assim, e mesmo com as crescentes restrições ao crédito, a Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ) acredita que as compras têm lastro para continuar acontecendo sem encolhimentos marcantes. E pelas contas da Associação dos Supermercados (Abras), as vendas natalinas vão crescer 10% na comparação com 2007. No Rio de Janeiro, a perspectiva ganha robustez. Indicadores positivos colaboram, como o aumento da renda e a diminuição das dívidas, que estão acima dos patamares nacionais. ­ Para o Natal, nossa previsão é o crescimento das vendas, compatíveis com o cenário de incremento da massa salarial e da queda no nível de endividamento das famílias do Rio de Janeiro ­ acredita Christian Travassos, economista da Fecomércio carioca. ­

Mesmo com mais dinheiro no bolso, o crédito está mais restrito, então não deve haver muitas compras de valores mais expressivos, como sistemas de som, TVs de plasma e computadores. Na falta de itens mais caros, a ceia deve concentrar os gastos: ­ O consumidor vai investir na mesa caprichada para compensar o que não puder comprar em presentes ­ diz Sussumu Honda, presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Contribui para um cenário menos pessimista o aumento do emprego formal, que no Grande Rio foi de 6% em setembro, segundo o Ministério do Trabalho. A média nacional foi de 7,1%. A onda de novas contratações formais se espalhou pelo país, com um total de 2,1 milhões de carteiras assinadas. Mas a boa situação financeira não implica em farra da gastança: ­

O consumidor ficou mais cauteloso diante de tantas más notícias, está analisando, observando e tem diante de si um crédito mais seletivo ­ diz Travassos. Pesquisa de consumo doméstico da Fecomércio-RJ aponta queda na intenção de compra de produtos duráveis, como geladeira, fogões e TVs. Em setembro de 2007, 38% estavam interessados em gastar nestes itens, contra 37,4% no mesmo mês de 2008. A variação foi maior entre os que ganham até 8 salários mínimos: 38,1% contra 35,4%. Com o agravamento da crise, houve uma desaceleração no mercado de consumo carioca, que registrou crescimento médio do faturamento de 2,5% nos meses de maio, junho e julho. Em agosto, o desempenho estacionou em 0,1%. ­

Mas isto não aponta uma situação ruim. O consumidor não está sem dinheiro, está esperando o cenário clarear ­ diz Travassos. Houve um avanço na melhora da condição econômica das famílias da região metropolitana: de 77% em setembro de 2007 para 79,4% no mesmo período deste ano. A taxa, medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), refere-se ao total de famílias cujo orçamento está equilibrado ou tem sobra de recursos. Índices como estes garantem o otimismo dos setores de bens, serviços e turismo do Grande Rio, por exemplo, que acreditam num faturamento 8% maior em outubro, na comparação com setembro. Porque sabem que, mesmo cauteloso e ressabiado com a crise, o brasileiro não deixará de ir às compras.