Correio braziliense, n. 21061, 22/01/2021. Política, p. 3

 

Carta do Planalto é "construtiva"

Simone Kafruni 

22/01/2021

 

 

No dia seguinte à posse do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, afirmou que recebeu a carta enviada pelo presidente Jair Bolsonaro ao novo ocupante da Casa Branca e que o conteúdo é "muito construtivo". "Não tenho detalhes para saber como foi recebida. Só posso dizer que comunicação aberta e clara é muito melhor do que a falta de comunicação. Foi construtiva e, como um diplomata sempre quer ver, olhando para frente, mas reconhecendo que temos temas para tratar", destacou, ontem. "Vamos encorajar esse tipo de comunicação."

O diplomata preferiu não comentar as declarações de Bolsonaro, que colocou em dúvida a eleição norte-americana, nem o fato de o líder brasileiro ter sido o penúltimo a reconhecer a vitória de Biden. Chapman disse não ter previsão sobre um possível encontro entre os dois chefes de Estado. "Estamos no início da relação, sempre tem oportunidades, desafios e temas prioritários. Vamos fazer todo o possível para continuar com uma relação construtiva", ressaltou.

Segundo Chapman, Biden mostrou seu desejo de voltar à Organização Mundial de Saúde (OMS) e ao Acordo de Paris, e isso mostra a intenção do novo governo de participar de organizações multilaterais. "Talvez, tenham outras organizações, mas isso já mostra a importância que o presidente dá para o multilateralismo. Isso é um ponto importante para a nossa relação. Há muitas oportunidades entre Brasil e EUA, e é possível ter um diálogo maior sobre como avaliar os temas internacionais por meio dessas organizações", frisou.

Ele explicou que a nova administração vai priorizar temas diferentes daqueles do governo anterior, e isso dará um novo entendimento entre as gestões do Brasil e dos Estados Unidos. "Os temas que vão continuar, como sempre, são importantes: econômicos, educação, militar, saúde pública, segurança. São chaves, e vamos continuar", enumerou. O embaixador destacou, contudo, que Biden sinalizou seu interesse prioritário por saúde pública e pelo meio ambiente. "Ele já disse que o meio ambiente vai ser um pilar da administração", enfatizou.

Está na agenda prioritária dos Estados Unidos as questões de energia renovável e redução do carbono. "O secretário John Kerry será seu representante especial sobre clima. Kerry foi quem negociou o Acordo de Paris. Ele tem um compromisso sério, pessoal, para o tema do meio ambiente. E participou da Rio 92. Superbem qualificado para liderar nosso esforço nesse tema. Vai ser muito importante ter um diálogo fluido com o secretário Kerry", alertou. "Agora que estamos nos juntando ao Acordo de Paris, vamos ver como trabalhar nesse fórum para chegar a novos acordos. Vamos dar um pouco de tempo para que as conversas comecem, não somente para o Brasil e os Estados Unidos, mas para o planeta."

Chapman disse que esteve em Washington e se reuniu com o embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Nestor Forster. "Ele está fazendo contatos importantes ao redor do nosso governo e do país. Vamos trabalhar juntos para encorajar esse tipo de diálogo", explicou.

Tecnologia
O embaixador acredita que os Estados Unidos vão manter a ênfase na segurança tecnológica e na proteção de dados. "Nem posso imaginar que isso mudaria. Eu acho que há muito apoio para essa iniciativa de, realmente, proteger a nova economia do 5G. É um tema específico que tem de continuar a ser debatido. Imagino que os objetivos são constantes", afirmou.

Ele lembrou, ainda, que há uma forte cooperação entre os dois países na área de saúde pública e que os Estados Unidos enviaram mais de US$ 20 milhões de ajuda ao Brasil, sendo que o setor privado doou mais de US$ 60 milhões. "Recebemos várias sugestões e pedidos do governo brasileiro, que estão sendo olhados com muita atenção", afirmou.