Correio braziliense, n. 21061, 22/01/2021. Brasil, p. 4

 

Uma semana depois, chega vacina da Índia

Bruna Lima 

Maria Eduarda Cardim 

Sarah Teófilo 

22/10/2021

 

 

Chegam hoje ao Brasil o lote de dois milhões de doses prontas da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford com a AstraZeneca, produzidas pelo Instituto Serum, da Índia. Entre o prazo anunciado pelo governo federal e a liberação dos imunizantes, cuja confirmação ocorreu no mesmo dia em que um incêndio atingiu o laboratório produtor, há um hiato de uma semana. A previsão, segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), é de que as vacinas estejam prontas para distribuição amanhã, à tarde.

A informação do embarque das doses foi comemorada pelo presidente Jair Bolsonaro, que anunciou, pela conta no Twitter, a chegada do carregamento. A carga será transportada em voo comercial para o Aeroporto de Guarulhos (SP) e seguirá para o aeroporto internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro, na mesma aeronave que havia sido destacada, semana passada, para ir buscar as doses em Mumbai.

Antes de ser distribuída, a Fiocruz, responsável pela produção da vacina no país, fará uma checagem de qualidade e segurança antes de liberar a remessa para os estados, conforme prevêem as normas regulatórias. Os imunizantes passarão, ainda, por uma rotulagem, com etiquetagem das caixas com informações em português.

"Esse processo acontecerá ao longo da madrugada e na manhã de sábado, e será realizado por equipes treinadas em boas práticas de produção", informou a fundação. Caberá ao Ministério da Saúde realizar a distribuição, o que deve ocorrer entre amanhã e domingo, segundo a Fiocruz.
Diferentemente da CoronaVac, que precisa guardar metade das doses para a segunda aplicação, a instrução em relação à vacina de Oxford é usar o lote de dois milhões de unidades neste primeiro momento, já que o intervalo entre uma aplicação e outra é de três meses.

Demora
A expectativa do governo federal era começar o programa de imunização na última segunda-feira, com a Oxford/AstraZeneca. Uma operação foi montada no último dia 14 para que um jato cargueiro saísse de Recife para Mumbai assim que o governo indiano desse o sinal verde para a busca das doses. A aeronave deveria partir na noite do dia 15, com previsão de chegada no território indiano no dia seguinte e de retorno ao Brasil no domingo seguinte (17).

Mas foi quando veio a frustração. Apesar de a carga estar pronta, precisava de autorização do governo indiano, que disse que priorizaria o seu próprio programa de imunização. Na ocasião, Bolsonaro afirmou que o avião sairia em "dois ou três dias". Autoridades da Índia, porém, afirmaram que houve precipitação por parte do Brasil.

Na última terça-feira, os indianos começaram a exportação das primeiras vacinas contra o novo coronavírus e deixou o Brasil de fora. Os imunizantes seriam enviados a países vizinhos: Butão, Bangladesh, Nepal, Maldivas, Seychelles e Mianmar. Novamente, não houve clareza sobre a não liberação da carga prevista para a Fiocruz, mas, nos bastidores diplomáticos, a decisão não foi apenas estratégica, ao beneficiar a população de países fronteiriços, mas, sobretudo, política.
Isso porque a Índia não teve o apoio do Brasil, no ano passado, quando apresentou à Organização Mundial do Comércio (OMC) um pedido para quebra de patente para produtos relacionados ao combate ao novo coronavírus. O governo federal preferiu se alinhar aos Estados Unidos na questão e a proposta foi derrubada.

Para destravar as doses, autoridades começaram a se movimentar, ultrapassando o governo federal. Encabeçado pelo governador do Piauí, Wellington Dias (PT), que coordena no Fórum de Governadores a estratégia contra covid-19, o grupo protocolou um ofício ao presidente Jair Bolsonaro solicitando que o governo se empenhasse nas negociações com a Índia.

Pouco antes da divulgação da informação de que as vacinas seriam, finalmente, enviadas ao Brasil, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que ainda não havia data prevista para o recebimento das doses. "Com relação à vinda das vacinas da Índia, as notícias são muito boas, mas não há data exata da decolagem. Ela será dada nos próximos dias. Próximos dias é muito próximo, por causa da posição indiana nesse desenho, não nosso", disse o ministro.

Pazuello afirmou que o que estava pendente era a liberação do Ministério da Saúde da Índia. "Nós queremos, nós contratamos, nós pagamos, fizemos o empenho, temos o documento de importação e já temos o documento de exportação. É apenas nesse caso, sim, a liberação do Ministério da Saúde indiano que está sendo discutida", informou. Questionado pelo Correio se o problema era diplomático, o ministro afirmou: "Acho que é só período da vacinação na Índia, mais nada".

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IFA da Sputnik será produzido no Brasil 

22/01/2021

 

 

Sob a alegação de não depender da disponibilidade do mercado internacional, como atualmente ocorre com as vacinas que serão replicadas pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pelo Instituto Butantan, a farmacêutica União Química pretende suprir esta lacuna, que vem impactando o começo da campanha de imunização contra o novo coronavírus. Responsável pela Sputnik V no Brasil, a empresa já tem produção própria em território nacional, sendo a única a fabricar o Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) no país.

A União Química pretende disponibilizar as primeiras doses em fevereiro, mas, para isso, precisa regulamentar a situação da Sputnik V junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com quem realizou uma reunião ontem. Mas ainda não foi durante esse encontro que a empresa fez o pedido de uso emergencial, assim como não houve apresentação de novas documentações.

A intenção da farmacêutica é conseguir a autorização para a importação de 10 milhões de doses prontas da Sputnik V, desenvolvida pelo Instituto Gamaleya, da Rússia. "O que queremos é a aprovação emergencial para trazer 10 milhões de doses prontas de lá, a fim de atender rapidamente o mercado brasileiro diante dessa falta de vacina", afirmou o diretor da empresa Rogério Rosso.

Segundo o executivo da União Química, a importação auxiliaria no atendimento imediato à demanda brasileira, até que o fármaco fabricado em território nacional fique pronto.

Apesar de terem acordo de transferência tecnológica, o Butantan, responsável pela reprodução da CoronaVac, e a Fiocruz, que fechou parceria para a produção da vacina Oxford/AstraZeneca, ainda dependem do fornecimento do IFA — que, atualmente, está parado na China, que alega questões burocráticas e obrigou ao governo federal abrir conversações para liberá-lo.

Enquanto isso, a União Química já planeja produzir, sozinha, oito milhões de doses por mês da Sputnik V. Caso não haja a liberação para sua aplicação no Brasil, a empresa negocia a venda com países vizinhos, incluindo a Argentina, Bolívia, Venezuela e Paraguai. (BL, MEC e ST)

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Pazuello: "avalanche" de imunizantes

22/01/2021

 

 

Mesmo contando com apenas seis milhões de doses de vacina contra a covid-19 para a população, em um primeiro momento, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, não demonstra preocupação com a pouca quantidade de imunizantes. O general afirmou, ontem, que o Brasil receberá, ainda em janeiro e no começo de fevereiro, uma "avalanche" de propostas de laboratórios para a aprovação de vacinas contra a covid-19. Mas, como de vezes anteriores, não deu datas para todos esses fármacos chegarem e estrarem disponíveis. Apesar do cenário que conta apenas com a CoronaVac, ele considerou que a vacinação contra a covid-19 no país ocorre dentro do programado.

"A vacina está distribuída, estamos no processo de receber as novas doses tanto da AstraZeneca, quanto das Butantan. Outros laboratórios apresentam suas propostas, era o que nós esperávamos. Em janeiro e começo de fevereiro, vai ser uma avalanche de laboratórios apresentando propostas porque são 270 iniciativas do mundo produzindo vacinas", afirmou. Pazuello disse que é preciso ter "muita atenção e cuidado" para colocar todas as vacinas disponíveis "o mais rápido possível". "Dentro da segurança e eficácia e na nossa capacidade de colocar no lugar certo, na hora certa", ressaltou.

Mas, enquanto as novas propostas não se materializam, o Brasil sofre ainda com o impasse relativo à importação do princípio ativo da China necessário para a produção de vacinas em território nacional. Os insumos servem tanto para a produção da CoronaVac quanto da Oxford/Astrazeneca.
Sobre a situação, Pazuello disse que conversou com o embaixador da China do Brasil, Yang Wanming, que garantiu que o impasse relativo à importação do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) não é por questões políticas ou diplomáticas. Apesar da conversa, o ministro ainda não deu previsão para destravar a chegada da matéria-prima.

"Nós estamos em negociação diplomática com a China. Conversei ontem (quarta-feira) pessoalmente, duas vezes, com o embaixador chinês. Colocou para mim que não há nenhuma discussão política e diplomática no assunto, e, sim, burocrática", afirmou.

Atraso
O próprio general, quando questionado pelo Correio se acreditava ser um entrave político, respondeu laconicamente: "Acho que não". Pazuello afirmou que a entrega do IFA ao Butantan e à Fiocruz não está atrasada e que o governo tenta se antecipar ao problema. No caso do instituto paulista, o ministro informou que a próxima previsão de entrega da matéria-prima é em 10 de fevereiro. No caso da Fiocruz, a previsão é que a fundação receba o insumo até 31 de janeiro.

Apesar do otimismo do ministro, a Fiocruz informou ao Ministério Público Federal (MPF) que atrasará a entrega de doses da vacina de Oxford/Astrazeneca, de fevereiro para março deste ano. Do outro lado, o Butantan também admitiu preocupação com capacidade de produção da CoronaVac no Brasil, que foi atingida com a utilização do IFA que estava disponível. (BL, MEC e ST)