Correio braziliense, n. 21061, 22/01/2021. Cidades, p. 13

 

Combate à pandemia, à fraude e ao egoísmo

Samara Schwingel 

22/01/2021

 

 

Em meio à preocupação com o agravamento da crise sanitária e ao reforço das medidas de distanciamento para evitar aumento no número de infecções, o Governo do Distrito Federal (GDF) abriu mais 60 leitos para o tratamento de pacientes com covid-19. As novas unidades ficam no Hospital de Campanha de Ceilândia, inaugurado ontem pelo governador Ibaneis Rocha (MDB). Durante o evento, o chefe do Executivo local lamentou as denúncias de descumprimento da ordem de prioridade para vacinação contra a doença. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), que recebeu reclamações sobre os fura-filas, iniciará uma investigação para apurar o caso.

"Espero que sejam denúncias infundadas. O que percebi em outros Estados é que estas queixas acompanhavam vídeos e fotos, mas, aqui no DF, não vi isso, apenas relatos", disse o governador. Apesar disso, ele defendeu a investigação do Ministério Público e afirmou que, caso as denúncias sejam comprovadas, os culpados serão punidos. "O MP está em sua função, espero que tudo seja apurado devidamente. De qualquer forma, é um absurdo que, neste momento de pandemia, se deixe de vacinar alguém que esteja na linha de frente para vacinar outras pessoas. Então, vamos apurar e, se houver realmente ocorrido isso, vamos punir os envolvidos", completou o emebedista.

Responsável pela força-tarefa contra covid-19 do MPDFT, o procurador José Eduardo Sabo Paes informou que o órgão recebeu diversas denúncias e, por isso, notificou o GDF. A Secretaria de Saúde tem até o fim da tarde de hoje para enviar explicações ao Ministério, porém, segundo Sabo, independentemente da resposta da pasta, haverá uma investigação acerca dos fatos relatados. Ao Correio, o procurador lamentou as circunstâncias. "É uma situação vergonhosa, não deveríamos estar passando por isso. Claro que o todos queremos ser vacinados, mas é necessário entender que, atualmente, não há doses para todos. É uma vergonha tudo que está acontecendo e que existam pessoas furando a fila de prioridades", comentou.

Além da investigação, Sabo afirmou que o MPDFT avaliará, após receber o parecer da Saúde, a necessidade de acompanhar presencialmente as vacinações no DF. "Se considerarmos necessário, vamos, sim, às unidades que estão vacinando para fiscalizar o processo. Vivemos uma pandemia, não podemos admitir cenários tão vergonhosos", completou o procurador. A Secretaria de Saúde não havia enviado uma resposta ao MP até o fechamento desta edição. Porém, o secretário, Osnei Okumoto, no evento de inauguração do Hospital de Campanha em Ceilândia, afirmou que se reuniu com os superintendes regionais e está apurando as informações. "Ontem (quarta-feira), chamei os responsáveis em vigilância em saúde e das regiões e fizemos um levantamento de tudo que estava acontecendo. Todas as irregularidades serão solucionadas, e estaremos, cada vez mais, fiscalizando."

Investimento

O Hospital de Campanha de Ceilândia foi construído ao lado da unidade de pronto atendimento (UPA) da região administrativa, na QNN 27, Área Especial D. As obras deveriam ter sido concluídas no fim de setembro do ano passado, porém, segundo o governador Ibaneis Rocha, o atraso ocorreu devido à escassez de mão de obra e materiais de construção, reflexo da pandemia da covid-19. "Em novembro, tivemos falta de material de construção, o que nos foi relatado pela empresa responsável pela obra. Por isso, a entrega atrasou. Entretanto, o que importa é que (o hospital) está funcionando", avaliou Ibaneis.

O GDF investiu na edificação R$ 10,4 milhões, gerando, segundo a pasta, pelo menos, 250 empregos. Após a pandemia, o GDF estuda dar outra destinação ao local. Uma das ideias é transformá-lo em um hospital materno-infantil. Neste primeiro momento, o hospital vai atender apenas pacientes com coronavírus. Serão 60 leitos, sendo 20 de unidade de terapia intensiva (UTI) e 40 de enfermaria. Dezenove pacientes chegaram no fim desta quarta-feira e estão em tratamento na enfermaria da unidade. A UTI segue sem pacientes.

De acordo com os dados da Secretaria de Saúde, no DF, a rede pública tem 97 dos 125 leitos de UTI voltados para o tratamento da covid-19 ocupados; e a rede particular, 29 dos 47. Segundo a pasta, não há risco de colapso na rede pública do DF, pois há abastecimento de equipamentos de proteção individuais (EPIs) e medicamentos para intubação.

Mesmo assim, a secretaria afirma que criou um plano de mobilização de leitos de UTI, que apresenta as etapas de ampliação do número de leitos de acordo com o avanço da doença, se houver. Atualmente, os hospitais regionais da Asa Norte e de Samambaia são referência para o atendimento a casos suspeitos ou confirmados da doença, mas, segundo a secretaria, as unidades básicas também estão preparadas para o primeiro atendimento.

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Cuidados ainda são necessários 

22/01/2021

 

 

Nos dois primeiros dias de vacinação contra covid-19 no DF, mais de 7 mil pessoas receberam a primeira dose da CoronaVac, vacina chinesa produzida no Brasil em parceria com o Instituto Butantan (SP). A expectativa do governo local é de que, na próxima semana, todas as cerca de 53 mil pessoas que fazem parte do grupo prioritário para os insumos que chegaram ao DF até o momento sejam imunizadas. Apesar da empolgação com o início da imunização da população, especialistas afirmam que ainda não dá para relaxar. A taxa de transmissão do novo coronavírus, no DF, em 19 de janeiro, estava entre 1 e 1,2, de acordo com um estudo feito em conjunto por diversos centros de pesquisa do país, incluindo a Universidade de Brasília (UnB). Índices maiores do que 1 indicam avanço da pandemia.

Caso a população não siga as medidas de segurança sanitária, esta taxa pode aumentar, mesmo com a vacinação. “O número de doses disponíveis é muito pequeno para considerar que temos uma interrupção imediata na transmissão do vírus”, diz o médico e pesquisador Roberto Bittencourt. Segundo ele, a vacinação só começará a ter efeito quando 25% da população da capital federal for imunizada. “E isso depende muito da produção das vacinas, ou seja, dos repasses da China ao Butantan do insumo necessário para a produção da CoronaVac”, completa.

Inicialmente, o DF recebeu apenas 106,1 mil doses da vacina, 20 mil a menos do que o necessário para imunizar os profissionais de saúde da linha de frente. O secretário Osnei Okumoto garantiu, no entanto, que o assunto está sendo tratado entre os gestores do DF e do Ministério da Saúde. Procurada pela reportagem, a pasta informou que tentou distribuir as doses da CoronVac de forma igualitária entre as unidades da Federação, por isso, algumas receberam menos do que o necessário para imunizar toda uma categoria. Porém, ressaltou que essas pessoas não ficarão sem a vacina e receberão as doses assim que estiverem disponíveis. (SS)

Estrutura

Veja quanto custou e qual a capacidade de atendimento do Hospital de Campanha de Ceilândia

10,4 milhões

investidos na construção da unidade

40 leitos

de enfermaria voltados para o tratamento da covid-19

20 leitos

de unidade de terapia intensiva (UTI) para o tratamento da covid-19 250 profissionais trabalhando no atendimento, entre médicos, enfermeiros, auxiliares de limpeza, administração, entre outros

22.900 m²

área total ocupada pelo hospital