Correio braziliense, n. 21063, 24/01/2021. Brasil, p. 6

 

Vacina de Oxford começa a ser aplicada

Marina Barbosa 

Renato Souza 

24/01/2021

 

 

O Brasil iniciou, ontem, a imunização de brasileiros com a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e produzida pela AstraZeneca e o Instituto Serum, na Índia. O primeiro lote com 2 milhões de doses chegou ao país e está sendo distribuído pelos estados. Na tarde de ontem, 10 funcionários da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) foram vacinados de maneira simbólica. Entre os profissionais estava a pneumologista e pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcolmo, que se tornou símbolo de luta contra a covid-19. Ela destacou que "todas as vacinas têm excelente qualidade" e que "qualquer movimento antivacina é desumano e marginal". O primeiro a receber a vacina foi o infectologista Estevão Portela.

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que o Amazonas receberá uma quantidade maior de vacinas, tendo em vista o agravamento da crise no estado. Para as demais unidades da federação, as doses estão sendo distribuídas com base na densidade populacional. O Amazonas receberá um lote com 132,5 mil doses. São Paulo fica com a maior fatia, de 500 mil imunizantes. O Distrito Federal recebe 41 mil neste primeiro lote. A vacina tem que ser aplicada em duas doses para cada pessoa, sendo que o reforço precisa ser aplicado dentro de 12 semanas. O período é maior do que o da CoronaVac, desenvolvida pelo Instituto Butantan com a chinesa Sinovac, em que o intervalo de aplicação entre a primeira e a segunda dose varia de duas a, no máximo, quatro semanas.

O Rio de Janeiro, que vai receber 185 mil doses, pretende aplicar todas já nesta primeira etapa. O governo estadual avalia que, dentro de três meses, a produção do imunizante já estará sendo realizada no Brasil pela Fiocruz. Assim, será possível aumentar a cobertura vacinal neste primeiro momento.

A pesquisadora Ana Tojal, infectologista do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, destaca que, mesmo para quem for imunizado, os cuidados de distanciamento social e uso de máscaras devem ser mantidos e que a segurança maior ocorre somente depois da administração do reforço. "A vacina só confere imunidade mais segura depois da segunda dose, até 14 dias depois da primeira. Mesmo a pessoa que recebeu as duas doses não fica desobrigada de usar máscaras e tomar outros cuidados. O paciente pode ter uma carga viral, durante alguns dias, capaz de passar para outras pessoas", explica.

A Fiocruz pretende produzir, neste primeiro semestre, 100 milhões de doses no Brasil. E no segundo, outras 125 milhões de doses. No entanto, para isso, depende de insumos que estão na China. O país asiático ainda não liberou o material em razão de problemas burocráticos e políticos. Nos últimos meses, o presidente Jair Bolsonaro, parlamentares da base do governo e o filho dele, Eduardo Bolsonaro, criticaram o país, chamando o novo coronavírus de "vírus chinês" e a CoronaVac, do Instituto Butantan, de "vachina".

Prazo
A depender do ritmo com que as doses da vacina contra a covid-19 chueguem ao Brasil, o país deve levar pelo menos cinco meses para sentir os efeitos da vacinação nas taxas de contágio do novo coronavírus. A projeção é do professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e coordenador do Info Tracker, Wallace Casaca, que comparou o ritmo da vacinação contra a covid-19 em diversos países do mundo.

O levantamento explica que, nos cinco primeiros dias da vacinação, 404,2 mil pessoas receberam o imunizante no país. O número é alto, se comparado ao de potências como Alemanha (181,8 mil) e Israel (199,2 mil). Porém, cobre apenas 0,19% da população brasileira. É menos que o registrado por países que aplicaram um número menor de doses. A Alemanha, por exemplo, vacinou 0,22% da população nos cinco primeiros dias de vacinação e Israel, 2,3%.

Casaca explicou que a estrutura da vacinação do Sistema Único de Saúde (SUS), que é reconhecida mundialmente, permite a aplicação rápida das vacinas que chegam ao país. No entanto, lembrou que o país recebeu uma quantidade pequena de doses, em relação ao total da população brasileira.
"Embora tardio, o início da vacinação, no Brasil, foi competitivo com o de outros países. O problema é que essas vacinas chegaram para um percentual pequeno da população, já que o país tem menos doses para cada 100 pessoas que outros países", explicou Casaca, que atribuiu ao governo federal essa disparidade. "Ainda temos muitos problemas, porque o governo federal demorou a coordenar esse plano e a entender que é importante vacinar a população", criticou.