Título: Fusão acirrará disputa no mercado
Autor: Pinheiro, Vinícius
Fonte: Jornal do Brasil, 04/11/2008, Economia, p. A18

Técnicos acreditam em ganhos para correntistas com a concorrência entre os quatro grandes.

A fusão entre Itaú e Unibanco foi considerada uma grande tacada não apenas para as duas instituições, mas também para o setor financeiro. Apesar da maior concentração, dizem os especialistas, a concorrência com outros grandes bancos como Bradesco e Banco do Brasil (BB) fica ainda mais acirrada, o que pode permitir o repasse de ganhos de escala ao correntista. As vantagens para as duas instituições são inúmeras. O Unibanco resolve um problema sucessório, enquanto o Itaú ganha escala e fôlego para seguir com seus planos de internacionalização.

Para o presidente da EFC ¿ Engenheiros Financeiros & Consultores, Daniel Coradi, o acordo só tem lados positivos.

¿ É bom para o Itaú, para o Unibanco e para o sistema financeiro nacional, que se fortalece em um momento de instabilidade.

Com ativos totais de R$ 575,l bilhões e um patrimônio líquido de R$ 57,7 bilhões, o Itaú/Unibanco torna-se o maior banco do país, incluindo as instituições privadas e as instituições estatais, guardando uma diferença considerável (36% a mais em ativos e 57,7% em patrimônio líquido) com relação ao segundo colocado, o Bradesco. Seguem-se o Banco do Brasil e o Santander.

Coradi prefere não afirmar que o Itaú/Unibanco torna-se o maior banco da América Latina. Este é um cálculo complicado, pois depende das taxas de câmbio de cada país.

O Itaú realiza uma antiga meta de tornar-se a maior instituição financeira do país e vinha mordendo os calcanhares do Bradesco há algum tempo. Também se afasta do Santander, que depois da aquisição do ABN Real, vem prometendo crescer ainda mais agressivamente. Protege-se também com um provável avanço do Banco do Brasil, que, como banqueiro do governo, tendia a ser mais acionado pelas autoridades monetárias para suprimento de crédito a determinados setores.

Quanto ao Unibanco, suas oportunidades de crescer eram limitadas, tanto geograficamente como pela aquisição de outras instituições. A instituição, por sinal, lembra Coradi, vinha tendo dificuldade para digerir as operações brasileiras da Caixa Geral de Depósitos (CGD), de Portugal. A CGD, absorvida pelo Unibanco em 2005, tinha, por sua vez, adquirido, em 2000, o Banco Bandeirantes, o qual ficou com a parte boa do Banorte, liquidado pelo Proer em 1996.

¿ Um negócio excepcional ¿ Esta foi a definição do diretor-executivo da agência Fitch Ratings, Rafael Guedes, ao comentar a fusão. ¿ Em um momento de crise, dois bancos sem problemas se fundindo reforça a solidez do sistema financeiro local ¿ diz Guedes. ¿ Não vejo qualquer outra possibilidade de fusão capaz de criar um banco com o porte desta.

A Fitch avalia, nos próximos dias, as notas de crédito dos bancos. Segundo Guedes, é provável que haja uma melhora na avaliação. Para o diretor presidente do Instituto de Pesquisas Fractal e professor da FIA, Celso Grisi, o Itaú deve reforçar sua estratégia de internacionalização.

¿ Na região, o Itaú já tinha presença no Uruguai, Chile e Argentina. Agora se estabelece também no Paraguai, com o Interbanco, do Unibanco ¿ diz. ¿ Além disso, o Itaú tem ganhos de escala importantes que também podem ajudá-lo a avançar em outras regiões.

Para o Unibanco, diz o professor, a fusão foi importante porque o banco não conseguia acompanhar o crescimento das outras instituições. Uma conseqüência da fusão deve ser a de estimular os até então líderes do mercado, BB e Bradesco, a buscarem também estratégias para crescer.

¿ O Bradesco, por exemplo, tem três alternativas, crescer organicamente, comprar outro banco ou adquirir empresas de segmentos específicos, como seguro ¿ diz Grisi, da Fractal.