Correio braziliense, n. 21065, 26/01/2021. Brasil, p. 5

 

China libera insumo para produção de vacina

Bruna Lima 

Maria Eduarda Cardim 

Sarah Teófilo 

26/01/2021

 

 

Após a apreensão gerada pelo atraso na importação do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), utilizado na produção de vacinas contra o novo coronavírus no Brasil, o Ministério da Saúde anunciou, ontem, que 5,4 mil litros do insumo necessário para a fabricação da CoronaVac pelo Instituto Butantan, chegarão ao Brasil até o fim desta semana. A notícia, dada pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, criou novo embate com o governo do estado de São Paulo, já que ambos reivindicam autoria dos esforços para a chegada da matéria-prima do imunizante.

"A continuidade do recebimento dos insumos para a fabricação das vacinas pelo Butantan voltou à normalidade, graças à ação diplomática do governo federal com o governo chinês, por intermédio da Embaixada Chinesa no Brasil. Fica aqui o nosso agradecimento a todos que ajudaram nessa liberação", disse Pazuello, em vídeo gravado ontem. Pelas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro anunciou a importação dos insumos, atribuindo o empenho aos ministros da Saúde, das Relações Exteriores e da Agricultura.

O governo de São Paulo, porém, reitera que não houve participação das instâncias federais na liberação dos insumos chineses para a vacina do Butantan. "Todo o processo de negociação com o governo chinês foi realizado pelo Instituto Butantan e pelo governo de São Paulo", afirma nota distribuída ontem. Além disso, o governo paulista informou que os ingredientes não estão em aeroporto da China, ao contrário do que disse Bolosnaro, mas nas instalações da Sinovac, em Pequim.

Mais cedo, o governador João Doria tinha afirmado que se encontrará virtualmente com o embaixador da China,Yang Wanming, hoje às 10h30, para definir o calendário da nova remessa de insumos e a quantidade de doses que o Instituto Butantan conseguirá disponibilizar ao Ministério da Saúde a partir da entrega.

Diplomacia
O governador paulista evitou criticar diretamente a diplomacia do governo federal, mas alfinetou o Planalto ao afirmar que o governo de São Paulo sempre respeitou a China. "Não quero fazer juízo sobre o Ministério das Relações Exteriores. Mas faço juízo sobre o governo de São Paulo. Aqui, sempre respeitamos a China, tratamos de forma igual e agradecemos a solidariedade", disse.

Na última semana, o tom adotado por Doria e o presidente do Butantan, Dimas Covas, foi mais duro. Na terça-feira, Covas pediu que Bolsonaro tivesse "dignidade" e determinasse empenho ao Itamaraty na negociação com o governo da China. Já o governador de São Paulo disse que "se o presidente Jair Bolsonaro e seus filhos pararem de falar mal da China, isso já ajuda bastante".

Na coletiva de ontem, no entanto, Doria disse que a diplomacia cabe ao governo federal. "Ele é quem tem a responsabilidade da diplomacia. O que fizemos aqui foi uma relação profícua, positiva, construtiva e extremamente respeitosa com a China", completou.

 Fiocruz
Além das expectativas em cima da CoronaVac, o Brasil espera receber mais 10 milhões de doses prontas do imunizante desenvolvido pela Universidade de Oxford e a AstraZeneca, além do equivalente a 7,5 milhões de unidades em ingrediente farmacêutico ativo (IFA) ainda na primeira quinzena de fevereiro.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsável pela produção no Brasil, negocia o envio de vacinas prontas, que devem chegar antes do IFA. O objetivo é não atrasar o repasse ao Programa Nacional de Imunização (PNI), já que a matéria-prima referente a 15 milhões de doses que deveriam ter sido entregues em janeiro não foram enviadas.

Um desses esforços tem sido a negociação junto ao Instituto Serum, na Índia, de doses de vacinas prontas adicionais para além dos 2 milhões que chegaram ao Brasil no sábado. De acordo com o presidente do Consórcio Nordeste e coordenador da temática de vacina no Fórum Nacional de Governadores, o chefe do Executivo do Piauí, Wellington Dias, 10 milhões de doses preparadas para aplicação são esperadas para chegar até 8 de fevereiro. "Isso permite prosseguir nosso cronograma de vacinação."

No entanto, a Fiocruz ainda não cravou um número. "A negociação segue em andamento e ainda não há um quantitativo acertado. O processo conta com o apoio do governo da Índia e da AstraZeneca, que vem colaborando em todo o esforço de antecipação das vacinas frente às dificuldades alfandegárias para exportação do IFA na China", disse a fundação em nota.

O envio do primeiro lote de matéria-prima, previsto para ocorrer em 8 de fevereiro, é necessário para a produção de 7,5 milhões de doses. Segundo a nota da Fiocruz, este lote já está pronto para embarque, no local de fabricação, e aguarda apenas a emissão da licença para a exportação e conclusão de procedimentos alfandegários. Mesmo com a sinalização de envio para 8 de fevereiro, a Fiocruz ressalta que ainda não há confirmação.

Apesar dos atrasos, a fundação afirma que conseguirá cumprir a meta de fornecer 100,4 milhões de doses no primeiro semestre e outras 110 milhões, de produção inteiramente nacional a partir da incorporação da tecnologia, no segundo semestre.