O Estado de São Paulo, n.46389, 20/10/2020. Política, p.A5

 

Russomanno afirma ser contra vacina obrigatória e reforça elo com Bolsonaro

Adriana Ferraz

Paula Reverbel

Tulio Kruse

Diego Kerber

20/10/2020

 

 

Sabatina. Candidato a prefeito pelo Republicanos diz que políticas de combate à covid devem seguir lei vigente e ressalta 'amizade' com presidente

O candidato à Prefeitura de São Paulo pelo Republicanos, Celso Russomanno, reforçou sua relação com o presidente Jair Bolsonaro como solução para problemas da administração municipal. Em sabatina com jornalistas do Estadão, ele disse que sua proximidade com o presidente criaria condições favoráveis em uma renegociação da dívida da capital com o governo federal, e declarou que Bolsonaro seria "muito bem-vindo" em seu partido.

O candidato do Republicanos afirmou, ainda, ser contra a obrigatoriedade da vacinação contra o novo coronavírus. "Eu tenho amizade com o presidente Bolsonaro desde 1995, amizade particular. Eu o conheço profundamente", disse Russomanno. "Ele é muito bem-vindo no Republicanos."

Embora tenha dito mais de uma vez que é "amigo" de Bolsonaro e se apresentado como vice-líder do governo, Russomanno evitou dar uma resposta direta às perguntas sobre suspeitas contra a família do presidente e seu entorno. Ao ser questionado sobre os depósitos de R$ 89 mil de Fabrício Queiroz para a primeira-dama Michelle Bolsonaro e sobre o agora ex-vice-líder do governo, o senador Chico Rodrigues, preso com R$ 33 mil na cueca, o candidato se esquivou. "Não existe crime de amizade. Não se pode imputar crime a alguém por ser amigo. Recebo com muita alegria o apoio do presidente Bolsonaro", disse. "Essas questões estão sendo apuradas. Ministério Público e Judiciário têm competência para isso."

VACINA CONTRA COVID-19

Questionado sobre o uso político das vacinas contra a covid-19 que estão em desenvolvimento, Russomanno disse ser contra a obrigatoriedade da vacinação. Ele ressaltou ser "legalista", deu a entender que o processo de vacinação deve seguir as leis vigentes e disse que é contra "inventar". "Os nossos empregos foram embora, nós somos obrigados a uma série de coisas, agora querem obrigar a tomar vacina?", questionou Russomanno. "Eu sou um legalista, nós temos leis, e nós vamos cumprir as leis. A gente não pode inventar."

DÍVIDA E AUXÍLIO MUNICIPAL

Uma das promessas de campanha do candidato é a criação de um programa de transferência de renda, semelhante ao auxílio emergencial do governo federal. Russomanno evitou prometer um valor para o auxílio paulistano. A campanha tem dito que a liberação de verbas para o pagamento do benefício está atrelada à renegociação da dívida da capital com a União. "Eu posso dar alguns dados: a dívida está em R$ 57 bilhões; em 2030 ela vai ser em torno de R$ 200 bilhões. Ela tem de ser negociada, como o Rio de Janeiro já fez", disse o candidato. "Ninguém melhor do que o governo federal para me dar apoio e transformar essa dívida num subsídio."

REPASSE DE RECURSOS DO GOVERNO FEDERAL

Russomanno foi indagado sobre a opinião dele com relação à declaração dada pelo prefeito Bruno Covas (PSDB) durante entrevista na série de sabatinas do Estadão, na quinta-feira passada. O tucano acusou o governo federal de ter dado às costas à capital paulista e não ter enviado recursos para o combate à pandemia. O candidato defendeu o presidente Jair Bolsonaro, afirmando que ele não negou ajuda a São Paulo "independentemente da questão política". "A cidade foi isenta de pagamentos de dívidas durante a pandemia, houve recursos para a covid", disse. Segundo ele, a afirmação de Covas é enganosa. "Eu posso juntar todos os números com facilidade. Não é uma verdade."

CRACOLÂNDIA

Sobre a Cracolândia, o candidato disse que a Prefeitura deveria organizar o trabalho conjunto de secretarias, organizações não governamentais (ONGS) e igrejas no local para um atendimento individualizado. "Eu começaria pela Igreja Católica, eu sou católico, tenho um trabalho grande dentro da minha igreja", disse Russomanno.

ACUSAÇÕES CONTRA GENRO E FILHA

O candidato foi questionado sobre os 18 processos na Justiça a que sua filha e seu genro respondem, por uma prática descrita como "esquema da pirâmide". O caso foi revelado pelo Estadão no mês passado. Russomanno negou que a prática descrita nas ações seja "pirâmide", disse que seu genro passou por problemas financeiros e que deve devolver o dinheiro.

"Isso não tem nada a ver comigo, nunca autorizei ninguém a usar meu nome, nem o meu genro. Ninguém nunca foi autorizado", disse. "Não se trata de uma pirâmide. (Em uma) pirâmide, você tem de ter várias pessoas 'embaixo' para aumentar o investimento, conheço bastante isso. E o meu genro diz que vai vender os imóveis que tem, vai acertar com as pessoas que tem de acertar e, para mim, isso é ponto resolvido."

CORONAVÍRUS E MORADORES DE RUA

Russomanno afirmou novamente que moradores de rua podem ter maior imunidade ao novo coronavírus, apesar de especialistas apontarem para a subnotificação de casos nesta população. Na semana passada ele disse que a falta de banho poderia ser uma das explicações para uma suposta taxa de contágio e de mortalidade mais baixa – afirmação que não tem respaldo na ciência –, e, durante a sabatina, declarou que os cientistas deveriam explicar esses dados.

"Eu não contesto a ciência, os especialistas têm de provar em vez de ficar falando sem os dados. Estou falando em cima dos dados", disse Russomanno. "Os dados mostram que a incidência é muito menor nas pessoas em situação de rua."

VOLTA ÀS AULAS E PANDEMIA

Outro questionamento sobre Educação foi qual a proposta do deputado para recuperar o conteúdo didático que não foi ensinado por conta da pandemia o do fechamento das escolas. Segundo ele, esse conteúdo foi perdido por falta de preparo dos professores da rede pública e esse vai ser o foco da sua gestão.

PROGRAMAÇÃO

Hoje - Arthur do Val (Patriota)

Amanhã - Filipe Sabará (Novo)

22/10 - Joice Hasselmann (PSL)

23/10 - Marina Helou (Rede)

29/10 - Márcio França (PSB)

30/10 - Jilmar Tatto (PT)

3/11 - Orlando Silva (PCDOB)

4/11 - Andrea Matarazzo (PSD)