Título: Mercado caminha para mais fusões
Autor: Costa, Gabriel
Fonte: Jornal do Brasil, 05/11/2008, Economia, p. A20

Criação do Itaú/Unibanco apressa planos da concorrência; fenômeno no Brasil é peculiar.

O nascimento do maior grupo financeiro do Hemisfério Sul, fruto da união dos bancos Itaú e Unibanco, vai provocar uma reorganização do sistema bancário brasileiro e da própria América Latina, e o primeiro sintoma visível do processo, segundo especialistas, será uma onda de fusões e aquisições.

Embora a tendência já esteja consolidada no exterior ¿ nos EUA, por exemplo, o Merrill Lynch foi adquirido pelo Bank of America, e na Alemanha, o Deutsche Bank se tornou o principal acionista do concorrente Postbank ¿ como alternativa para que as instituições fujam dos efeitos da crise financeira global, o cenário no Brasil é diferente.

¿ Essa não foi uma fusão de emergência, como as que ocorreram nos EUA. Esse conglomerado vai concorrer lá fora ¿ avalia o operador-sênior da Tov Corretora, Décio Pecequilo.

O desencadeamento de processos de fusões e aquisições entre instituições latino-americanas, embora também tenha sido acelerado pela crise ¿ o presidente-executivo do recém-criado Itaú/Unibanco, Roberto Setubal, disse que os abalos na economia mundial ajudaram a "amadurecer a idéia" ¿ deve acontecer de forma independente à turbulência internacional, e não se restringirá à aquisição de bancos em dificuldades por parte dos gigantes do setor.

¿ Voltou a onda de fusões e aquisições. O Banco do Brasil sai na frente no caso da Nossa Caixa, mas se esperar muito, vai pagar mais caro. E o Bradesco não vai querer ficar para trás, deve se movimentar e não vai demorar muito ¿ prevê o economista da corretora Umuarama, Rafael Moysés.

A vantagem do Banco do Brasil, que já vinha negociando a compra do banco Nossa Caixa e do Banco de Brasília (BRB), além da incorporação do Banco do Estado de Santa Catarina (Besc) e do Banco do Estado do Piauí (BEP), seria a aprovação da Medida Provisória 443, que autoriza a compra de instituições financeiras pelo próprio BB e pela Caixa Econômica Federal.

¿ A MP foi criada numa situação de prevenção contra a crise, mas acaba vindo a calhar para o Banco do Brasil nesse momento ¿ diz Décio Pecequilo, que considera irônico que o BB perca a liderança do sistema bancário nacional justamente no ano em que comemora dois séculos de existência.

Já o Bradesco, que também perdeu uma posição de liderança, só que no setor privado, deve partir para a aquisição de instituições financeiras de menor porte. Para Rafael Moysés, da Umuarama, o banco Votorantim ¿ o nono maior do país, com ativos totais de R$ 73 bilhões ¿ não está na mira do Bradesco, apesar dos comentários no mercado a respeito de negociações entre as duas instituições.

¿ O alvo são bancos menores, cujos valores de ações caíram muito ¿ acredita Moysés.

Enquanto os grandes que ficaram para trás avaliam as possíveis estratégias diante da nova situação do tabuleiro financeiro nacional, o gigante recém-nascido Itaú/Unibanco já pensa nos vôos que pode alçar no exterior.

Segundo Roberto Setubal, o Chile é um país onde o novo grupo já pensa em ampliar sua presença, uma vez que o Itaú tem unidades no país. O presidente-executivo do novo grupo listou como outros destinos vistos com atenção a Colômbia, Peru e o México.

Juros menores

Para o presidente do Instituto Desemprego Zero, José Carlos de Assis, a criação do Itaú/Unibanco é "muito importante do ponto de vista do fortalecimento da estrutura bancária brasileira". Para o economista, o melhor cenário resultante da fusão seria uma redução nos juros ao consumidor.

¿ O ideal seria que esse processo fortalecesse os bancos e permitisse que fossem baixadas as taxas de juros ¿ avalia Assis.

Segundo ele, uma redução nos juros da instituição mais poderosa poderia ter reflexos no próprio mercado, com benefícios também para os clientes de outros bancos.

¿ Na competição privada, isso é certamente possível, se as instituições tiverem o crescimento em vista. Reduzir o custo cria uma lealdade da clientela, que é a forma do banco crescer ¿ ressalta.