Correio braziliense, n. 21067, 28/01/2021. Política, p. 3

 

Mourão antecipa troca no Itamaraty

Renato Souza 

28/01/2021

 

 

O vice-presidente Hamilton Mourão indicou que o presidente Jair Bolsonaro vai colocar em prática uma reforma ministerial após as eleições às Mesas Diretoras do Congresso. De acordo com o general, uma das trocas deve ocorrer no Ministério das Relações Exteriores, com a saída de Ernesto Araújo. As alterações têm por objetivo agradar a base do governo na Câmara, que ensaia votar em peso no deputado Arthur Lira (PP-AL) para o comando da Casa. O foco é atender, especialmente, ao Centrão, maior bloco e que tem peso elevado na escolha da nova gestão.

Líder do Centrão, Lira é aliado do governo e concorre diretamente com Baleia Rossi (MDB-SP), que se opõe às políticas do governo Bolsonaro. De acordo com Mourão, as mudanças ocorrerão em breve. "Não tenho bola de cristal nem esse assunto foi discutido comigo. Mas, em um futuro próximo, depois da eleição dos novos presidentes das duas Casas do Congresso, poderá ocorrer uma reorganização do governo para que seja acomodada uma nova composição política que emergir desse processo", afirmou. "Talvez, com isso aí, alguns ministros sejam trocados, entre eles, o próprio MRE (Ministério das Relações Exteriores", emendou, em entrevista à Rádio Bandeirantes.

Ernesto Araújo é alvo de críticas no Brasil e no exterior pela condução da diplomacia. Alinhado ao ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, derrotado pelo democrata Joe Biden, o chanceler colecionou atritos com a diplomacia chinesa, país do qual o Brasil depende para receber vacinas e insumos destinados à fabricação de imunizantes.

Em novembro, o chanceler saiu em defesa do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que, nas redes sociais, havia associado o governo chinês à "espionagem" por meio da tecnologia 5G. Na ocasião, o presidente chegou a elogiar Araújo pela iniciativa, mas escalou outros ministros para negociar a importação das vacinas. Também ocorreram problemas com a Índia, que atrasou em uma semana a liberação para o Brasil de lotes do imunizante desenvolvido pela Universidade de Oxford.

Na quinta-feira, Bolsonaro levou Araújo para participar de sua live semanal e afirmou que não exonera o titular das Relações Exteriores. "Quem demite ministro sou eu", enfatizou, na ocasião. (Com Agência Estado)