Correio braziliense, n. 21067, 28/01/2021. Brasil, p. 5

 

Vacina de uma só vez

28/01/2021

 

 

O governo de São Paulo quer adiar a aplicação da segunda dose da vacina CoronaVac, com a intenção de imunizar mais pessoas neste primeiro momento, contrariando o que está previsto na bula do imunizante e a recomendação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que é seguir sempre o estabelecido na prescrição do fabricante. O documento, elaborado pelo Instituto Butantan, com base nos estudos realizados, prevê que a segunda dose deve ser aplicada em um intervalo de 14 a 28 dias.

No estado, a previsão é que seja aplicada a segunda dose em 28 dias. A intenção é aumentar mais 15 dias, indo para 43 o intervalo entre uma dose e outra, conforme informou, ontem, o diretor do Butantan, Dimas Covas. Ele afirmou que existe uma segunda recomendação que prevê que o prazo pode ser estendido por até 15 dias. "No estudo, aconteceram alguns casos que tiveram essa vacinação e não houve nenhum problema do ponto de vista da resposta imunológica", garantiu.

A preocupação de Covas é com a alta demanda pelo imunizante, afirmando não ser "eticamente justificável" guardar metade das doses enquanto tantos precisam ser imunizados. "Se temos a vacina na prateleira, temos do outro lado pessoas morrendo; precisamos usar essas vacinas", explicou, mesmo contrariando a prescrição do próprio Butantan.

Resposta imune
Em texto divulgado no site no último dia 22, a instituição diz que o estudo para testar a eficácia da CoronaVac, produzida em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, apontou que "a melhor resposta imune acontece no maior intervalo de tempo entre a aplicação das duas doses — entre 21 e 28 dias". O instituto ainda diz que, no estudo, "a maioria das vacinas foi aplicada no intervalo de 0 a 14 dias devido à situação emergencial da população envolvida".

"Dos cerca de 13 mil voluntários que participaram do estudo no Brasil, 1.400 receberam suas doses com um intervalo de três semanas. A resposta imune desse grupo foi cerca de 20% melhor do que a observada nos demais participantes da pesquisa", informou. Na última quinta-feira, o instituto também apontou que não seria possível saber a resposta imune dos pacientes se o intervalo entre uma dose e outra for prolongado.

Para que a mudança na aplicação aconteça, é preciso de uma manifestação formal do Programa Nacional de Imunização (PNI) para ajustar a orientação. O governador João Doria disse que o governo estadual enviaria solicitação ao Ministério da Saúde e ao coordenador do PNI ainda ontem.

Na semana passada, o gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da Anvisa, Gustavo Mendes, ressaltou que não seguir o que está na bula pode atrapalhar a eficiência da vacina. Ele explicou que não há uma sanção específica no caso do descumprimento, mas que a recomendação é seguir o que a bula determina. "Há expectativa que se cumpra os requisitos", disse. (BL, MEC e ST)