Correio braziliense, n. 21068, 29/01/2021. Brasil, p. 5

 

Intervalo mantido

29/01/2021

 

 

Após o governo de São Paulo pedir ao Ministério da Saúde para ampliar o intervalo entre as duas doses da CoronaVac, a fim de imunizar mais pessoas neste primeiro momento, a pasta indicou, ontem, que não vai alterar o tempo entre a primeira e a segunda aplicação da vacina produzida pelo Instituto Butantan. E informou, ontem, que analisava o recebimento do pedido feito pelo governo de São Paulo com a área técnica responsável, mas ressaltou que, até o momento, não há evidências científicas de que o aumento da distância entre as doses oferecerá a proteção necessária à população.

"É importante ressaltar que as recomendações têm como base os estudos clínicos da fase 3 do imunizante, que indicam que o intervalo entre a primeira e a segunda dose deve ser de duas a quatro semanas", informou o ministério, após ser questionado pelo Correio sobre a possibilidade de uma mudança na orientação da aplicação da CoronaVac. A prescrição na bula da vacina, com base nos estudos que foram realizados, é que a segunda injeção seja aplicada em um intervalo de 14 a 28 dias, sendo que a melhor resposta imune é alcançada quando é aplicada entre 21 e 28 dias. A intenção do governo paulista é ampliar esse tempo para 43 dias.

O ministério alegou que, desde 19 de janeiro, alertou ao Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (Conass) e ao Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) que todos os estados "devem cumprir as diretrizes para que o país tenha doses suficientes para imunizar, com as duas doses previstas, este primeiro ciclo da campanha de vacinação".

Na última quarta-feira, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse que não havia razão para guardar 50% das doses para a segunda fase da primeira parcela da população imunizada, diante do aumento de casos e de mortes. "Se nós temos a vacina na prateleira, temos, do outro, lado pessoas morrendo. Então, precisamos usar essas vacinas. Não tem justificativa ética guardarmos. É melhor usarmos na totalidade e lá (após) 28, 30, 32, 33, 40 dias, nós providenciarmos a segunda dose", sugeriu.

Risco embutido

O epidemiologista e professor em saúde coletiva da Universidade de Brasília (UnB) Jonas Brant explicou que a tentativa dos representantes do Butantan, ao defender a ampliação do intervalo entre as doses, se baseia no princípio da "plausibilidade biológica". Mas alerta: "O fato de não seguir o que o fabricante recomenda coloca um risco em termos de garantia dos resultados divulgados", observou. Na última sexta-feira, o gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Gustavo Mendes, ressaltou que a orientação da autarquia é que se siga o que prevê a bula. (BL, MEC e ST)