O Estado de São Paulo, n.46391, 22/10/2020. Metrópole, p.A15

 

Ibama chama para bases agentes de combate a incêndios

André Borges

22/10/2020

 

 

Instituto alega falta de recursos para manter as operações; só o programa Prevfogo teria dívidas em aberto de R$ 16 milhões

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) deu ordem para que todos os agentes de combate a incêndios do órgão ambiental em campo no País voltem imediatamente para as suas bases, a partir da zero hora desta quinta-feira. A ordem partiu da Diretoria de Proteção Ambiental, que opera o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais. Hoje, há cerca de 1,4 mil agentes do órgão em ação contra os incêndios em todo o Brasil.

Em ofício, Ricardo Vianna Barreto, chefe do Centro Especializado Prevfogo, do Ibama, determinou "o recolhimento de todas as Brigadas de Incêndio Florestal do Ibama para as suas respectivas bases de origem, onde deverão permanecer aguardando ordens para atuação operacional em campo". O documento foi encaminhado para todas as bases do órgão às 19h31 e atinge aquelas que atuam em todas as regiões do País, incluindo o Pantanal e a Amazônia.

O Ibama enfrenta uma queda de braço com o Ministério da Economia e alega que o órgão tem segurado a execução financeira do orçamento do instituto. No fim de agosto, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, chegou a informar que, por causa de bloqueios financeiros para o Ibama e para o Instituto Chico Mendes (ICMBIO), seriam interrompidas todas as operações de combate ao desmatamento ilegal nas duas regiões e também no restante do País.

A paralisação chegou a ser oficializada, mas poucas horas depois o governo recuou. O vicepresidente Hamilton Mourão chegou a declarar que não havia nenhum bloqueio e Salles tinha se precipitado. Procurado, o Ibama não se manifestou sobre o assunto até as 23 horas. Salles também foi contatado pela reportagem, mas também não se pronunciou.

O Estadão apurou que o Ministério do Meio Ambiente chegou a procurar o Ministério da Economia e questionar sobre os recursos, mas não houve sinalização nenhuma de liberação. A reportagem teve acesso a um ofício que o diretor de planejamento, administração e logística do Ibama, Luis Carlos Hiromi Nagao, enviou nesta quartafeira, às diretorias do Ibama. Ele escreve que "diante do atual quadro relatado (...) e considerando que as tratativas com os órgãos superiores para solução do problema ainda não surtiram efeito, comunico a indisponibilidade de recursos financeiros para fechamento do mês corrente, não sendo possível prosseguir com os pagamentos de despesas dessa autarquia". O Ministério da Economia também foi procurado pela reportagem e não se manifestou sobre o assunto.

Neste momento, há uma dívida em aberto de pelo menos R$ 16 milhões só com a área coberta pelo Prevfogo, conforme apurou a reportagem.