Valor econômico, v. 21, n. 5188, 12/02/2021. Política, p. A11

 

Para barrar CPI, Pazuello promete vacinar 100%

Vandson Lima

Renan Truffi

12/02/2021

 

 

Ministro foi cobrado com dureza por senadores, mas teve apoio de governistas do Podemos, Republicanos, PP e PSL

Pressionado pela possibilidade de o Senado abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar ações e omissões do governo na atuação contra a pandemia da covid-19, o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, garantiu ontem, em audiência pública, que toda a população será imunizada ainda neste ano. “Vamos vacinar o país em 2021. Serão 50% até junho, 50% até dezembro da população vacinável”, disse.

Responsável por abrir ou arquivar a CPI, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), deu a entender que cobrará o compromisso. “Esse pode ser um prognóstico real, factível, um prognóstico que será cumprido pelo Governo Federal e pelo Ministério da Saúde? Lembrando que, de tudo quanto há neste momento em relação a vossa excelência., de quem concorda, de quem discorda, de quem ataca, de quem protege, certamente há um sentimento a que vossa excelência não fugirá que é o da responsabilidade”.

A promessa contrasta com a dificuldade, admitida pelo próprio Pazuello, para aquisição de vacinas. Neste momento, segundo o ministro, há 11 milhões de doses distribuídas, sendo 6 milhões de doses ainda disponíveis. A solução, disse, será o Brasil produzir as próprias vacinas. “Os números do que vem de fora não são o suficiente para atender o Brasil. A produção no Brasil começa entre 60 e 90 dias. Não que a gente não vá comprar, vamos comprar todas, mas são 10 milhões, 8 milhões, 3 milhões, 4 milhões [cada compra], e uma hora nós vamos ter muita vacina diferente e muita dificuldade de coordenar as ações em nosso país”.

Em seu apelo contra a CPI, Pazuello pediu que os senadores não abram uma nova frente de combate e chegou a comparar a situação brasileira com as derrotas da Alemanha na primeira e segunda Guerras Mundiais - incluindo o regime nazista comandado por Adolf Hitler -, para dizer que um embate na arena política pode desarticular a estratégia de governo.

“A Alemanha perdeu a guerra duas vezes porque abriu a frente russa. Todo mundo avisou ao ditador que não devia - e ele abriu. Nós temos uma guerra, é contra a covid. Se entrarmos numa nova frente, que é a frente política, vamos ficar fixados. Vai ser mais difícil ganhar a guerra (...) o resultado disso é morrer mais gente”, completou.

A base governista atuou para defender o ministro. Parlamentares do PP, Republicanos e PSL elogiaram a “sinceridade” de Pazuello e sua disposição em prestar contas de sua atuação. O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) chegou a dizer que ele e o pai, de 77 anos, tem tomado ivermectina - não existe comprovação de eficácia do medicamento no combate à covid-19. O pai do parlamentar acabou infectado da mesma forma. “Eu tenho tomado ivermectina e meu pai, de 77 anos, tomou ivermectina. Ele acabou contraindo covid. O médico, lá em São Paulo, pediu para ele triplicar a dose, e ele foi praticamente assintomático”, relatou.

A maioria dos senadores, contudo, bateu duro no ministro, acusado de não coordenar as ações necessárias ao combate à pandemia e ter se omitido na crise no Amazonas. “Não está tudo bem, não está tudo certo, e não foi feito tudo o que poderia ter sido feito. Eu estive com vossa excelência no seu gabinete, em dezembro, e já dizia que nós iríamos enfrentar uma onda no Amazonas muito grave”, acusou Eduardo Braga (MDB-AM). Pazuello reconheceu que o governo Jair Bolsonaro não estava preparado para a escala de contaminações por covid-19 que atingiu Manaus (AM) no início do ano. Segundo ele, o Executivo trabalhava com um possível aumento do número de casos por conta de uma sazonalidade, mas não  esperava que fosse tão elevado. Sobre isso, o ministro afirmou também que, se outros Estados forem atingidos por uma curva de contágio parecida, a situação será drástica.

“Concordo que havia um aumento previsível [de casos], mas não na velocidade da curva que vimos. Não estávamos preparados para a curva que aconteceu. Se acontecer em qualquer outro lugar do Brasil, vai ser drástico”.

Fabiano Contarato (Rede-ES) fez a crítica mais contundente ao ministro. “E eu tenho fé em Deus que tanto o senhor como o Presidente da República irão responder por genocídio, seja aqui no Brasil, seja no Tribunal Penal Internacional”.

Pazuello não assumiu responsabilidade sobre a prescrição de medicamentos sem comprovação científica. Ele afirmou que um funcionário foi afastado por conta da plataforma trate.gov, que indicava cloroquina e ivermectina para praticamente qualquer sintoma apresentado. “O Ministério da Saúde não define protocolo de remédio, não indica medicamento para esta ou aquela doença. Quanto à plataforma, ela tinha objetivo de auxiliar diagnóstico do médico”.

Da mesma forma, disse que equipamentos que permanecem estocados, com risco de ficarem inutilizados, não foram solicitados. “Nenhum item sai para um Estado sem que seja pedido, incluindo medicamentos. Se eu tenho testes estocados em Guarulhos, é porque os Estados e municípios não me demandam. Se não me for demandado, tudo o que eu comprei estará comigo ainda. Não vou empurrar para ninguém”.