O globo, n. 31933, 10/01/2021. País, p. 5

 

Deputado tenta equilíbrio entre moderação e tom contra o governo

Baleia Rossi

10/01/2021

 

 

Baleia Rossi\LÍDER DO MDB

Candidato que venceu disputa no grupo que une PT e PSL, e é investigado por supostos desvios em seu reduto, testa perfil conciliador na eleição

Definido por aliados como “conciliador”, o deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP) ganhou espaço no partido e disputa a presidência da Câmara se equilibrando sobre condições aparentemente inconciliáveis: filho de um antigo cacique do MDB, foi eleito presidente da sigla com a missão de “renová-la”; tendo votado a favor do impeachment de Dilma Rousseff, agora tem o apoio dos petistas na disputa pelo comando da Casa.

Em caso de vitória, manter coeso este bloco articulado pelo atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), será o desafio seguinte, já que o grupo reúne partidos com posições e posturas tão distintas quanto o PSL e o próprio PT. Em contraponto a Arthur Lira (PP-AL), seu adversário na campanha, alinhado ao Palácio do Planalto, Baleia tem batido na tecla da independência — e foi obrigado a ouvir uma ironia do rival, que lembrou dos cargos do MDB no governo. Apesar de posicionamentos que o distanciam do Palácio do Planalto, como no apoio a Dilma, quando Jair Bolsonaro ironizou a tortura sofrida pela ex-presidente na ditadura, Baleia evita fazer críticas diretas ao atual mandatário.

— Ele (Baleia) é muito racional. Não tenho dúvida que buscará uma relação harmônica (com o governo) — afirma o coordenador da campanha de Baleia, Isnaldo Bulhões (MDB-AL). Também é afinada a relação com o ex-presidente Michel Temer, que descreve o deputado como “agregador”, reconhece semelhanças entre o perfil de ambos, mas nega estar envolvido na campanha do correligionário.

— É exagerado dizer que sou conselheiro, mas talvez ele tenha o meu estilo — afirma o ex-presidente.

A equivalência também é ressaltada pelo deputado estadual Jorge Caruso (MDB-SP):

—Pela sua capacidade de articulação e de ouvir a todos, diria que (o Baleia) é um Temer 5.0. A proximidade com Temer é usada por seus críticos para atacá-lo. Apoiador de Lira, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) diz que o vê distante dos deputados:

— O Baleia sempre viveu muito às sombras do Temer. É da elite, do alto clero, não tem identificação com os deputados. Baleia, que ganhou o apelido na infância — uma ironia ia pelo fato de ser muito magro à época —,virou líder do MDB na Câmara em 2016, em meio a um contexto de crise com a prisão de figuras como a do ex-presidente da Casa Eduardo Cunha. Em 2019, foi alçado ao comando da sigla e depois ganhou protagonismo ao ser incumbido por Maia a apresentar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) sobre a reforma tributária, projeto ainda travado no Congresso. Nesta legislatura, venceu a disputa interna com o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e virou o candidato do grupo de Maia. Compõem o bloco, além de DEM e MDB, PT, PSL, PSDB, PSB, PDT, Cidadania, PV, PCdoB e Rede. Ao todo, são 278 deputados, o que, na contabilidade oficial, supera os apoios a Lira —o candidato de Bolsonaro,  no entanto, aposta nas dissidências dentro do grupo do adversário.

Ao longo de sua trajetória, que começou em 1992, ao ser eleito vereador em Ribeirão Preto, Baleia também teve o nome envolvido em denúncias. Foi acusado de suposto recebimento de propina em esquema de fraudes na merenda em Ribeirão Preto, mas o caso acabou arquivado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por falta de provas em 2018.

INVESTIGAÇÃO EM CURSO

Em outro inquérito, que tramita sob sigilo na Corte, há menções a um suposto repasse de R$ 760 mil a Baleia, segundo o jornal “Folha de S. Paulo”. As investigações, que apontam desvios de mais de R$ 200 milhões da prefeitura de Ribeirão Preto, apontam o direcionamento em contratos para a instalação de catracas em escolas do município. O deputado diz que não recebeu nenhum valor ilícito.

Em delação premiada, o empresário Joesley Batista também citou o pagamento de caixa dois na campanha de 2010, por meio de uma empresa do irmão do parlamentar, que nega ter recebido os recursos. O irmão do deputado virou réu na Justiça Eleitoral de São Paulo em função das suspeitas. As revelações de Joesley também tiveram desdobramentos sobre o pai de Baleia, o ex-ministro Wagner Rossi. Ele chegou a ser preso em 2018, no curso do inquérito que apura se Temer beneficiou empresas portuárias em troca de propina.