O globo, n. 31933, 10/01/2021. País, p. 6

 

Política brasileira reage a banimento de Trump

10/01/2021

 

 

Redes sociais foram criticadas por aliados de Bolsonaro, que não se manifestou; decisão foi elogiada por outros influenciadores

O bloqueio dos perfis do presidente americano, Donald Trump, depois do discurso que motivou a invasão por apoiadores do Congresso dos Estados Unidos na última quarta-feira, mobilizou políticos e influenciadores brasileiros dos diferentes polos ideológicos nas redes sociais. Em seu perfil, Trump questionou, sem provas, diversas vezes o resultado das eleições presidenciais de novembro, da qual Joe Biden saiu vitorioso, e chegou a postar uma mensagem com teor favorável aos invasores do Capitólio.

Políticos de diversos partidos elogiaram a medida, destacando que as posições do presidente americano traziam risco à estabilidade americana, especialmente após os conflitos de quarta-feira. Aliado de Trump, o presidente Jair Bolsonaro não se manifestou em seus perfis sobre o assunto até o fechamento desta edição. Integrantes do governo, como o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e os filhos do presidente, porém, criticaram publicamente as medidas contra Trump.O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) ironizou a decisão das plataformas, ao afirmar que se tratava de uma “censura do bem”. O deputado Eduardo Bolsonaro fez uma postagem em tom crítico à suspensão de  Trump. “Um mundo em que Maduro tem redes sociais, mas Trump é suspenso não pode ser normal”, declarou. A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) escreveu: “Aos assanhados querendo importar a censura para o Brasil: nossa legislação não permite que uma empresa privada censure usuários, sobretudo com base em acusações vazias e por perseguição ideológica”. O Twitter anunciou anteontem que suspendeu permanentemente a conta do presidente dos EUA. Antes, a rede social já havia limitado o alcance da postagem de Trump a favor da invasão do Capitólio. O vídeo postado por Trump durante a invasão com tom favorável aos seus apoiadores foi deletado por Facebook e YouTube. O Facebook, junto com o Instagram, também anunciou que o presidente está bloqueado em ambas as redes até o fim do seu mandato. A oposição a Bolsonaro se posicionou a favor do bloqueio do presidente americano. O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), chamou de “impeachment virtual” as medidas tomadas contra Trump pelas redes sociais. Dino finalizou a sua postagem desejando que “outros impeachments não demorem”. O expresidenciável Fernando Haddad (PT) também comentou o assunto e afirmou que “no Brasil, o Twitter tá dando uma de Rodrigo Maia”, em referência ao presidente da Câmara. O vereador de São Paulo, Fernando Holiday (Patriota), ligado do Movimento Brasil Livre (MBL), defendeu que o Twitter é uma empresa privada e pode banir qualquer um. “Não importa se é Trump ou Zé da Padaria, o banimento é absolutamente aceitável quando há motivos”. O youtuber Felipe Neto dedicou uma série de publicações ao assunto. Em uma delas, compartilhou a foto do perfil bloqueado de Trump no Twitter com a legenda “Tic, Tac... Jair Bolsonaro... Tic, tac”. Em outra postagem, Felipe Neto escreveu que o bloqueio de Trump “não é censura”, mas “combater e punir criminosos”.