Título: Instituições públicas na política econômica
Autor: Fernandes, Luiz Cezar
Fonte: Jornal do Brasil, 07/11/2008, Economia, p. A22

EMPRESÁRIO

Hoje a ajuda fiscal é inevitável. Durante o chamado "milagre brasileiro" (1968 -1973), um dos principais indicadores de política econômica que costumava ser usado pelos analistas era a evolução dos empréstimos do Banco do Brasil ao setor privado. Sem dúvida alguma, a participação do Banco do Brasil na oferta total de crédito no país era fundamental e decisiva.

Mudanças

Evidentemente, muita coisa mudou na economia brasileira nos últimos 40 anos, surgiram os bancos de investimento, cresceu a importância das instituições financeiras privadas de um modo geral, vários bancos públicos desapareceram com os programas de privatização e assim por diante.

A crise financeira internacional de 2008, porém, nos trouxe uma situação inteiramente nova que requer idéias inovadoras, as quais normalmente ¿ antes de 2008 ¿ poderiam ser criticadas pelos privatistas radicais, mas que podem se revelar como o melhor instrumento de política econômica no Brasil, diante da ameaça de uma recessão internacional com risco até mesmo de deflação (como ocorreu na década de 30). Já que o setor bancário privado tendo que manter caixa elevado, pois não sabem a extensão da crise e como vai afetá-los, já que investidores escolhem lugar seguro (tesouros Nacionais).

Esta extraordinária crise financeira internacional em 2008 representa um novo choque externo negativo sobre a economia brasileira de proporções ainda impossíveis de serem quantificadas. Os efeitos são diversos, valendo destacar a violenta queda nos preços de commodities que exportamos e sobretudo a súbita escassez de crédito internacional, motivada pela chamada "desalavancagem" dos sistemas financeiros no mundo inteiro.

É aí que entra a novidade brasileira: a existência das instituições financeiras públicas capazes de irrigar dinheiro na economia de forma imediata através de empréstimos e investimentos.

De um modo geral, as respostas de política econômica que estão sendo dadas pelo governo brasileiro são corretas e pontuais, mas gostaríamos de chamar a atenção sobre esta nova oportunidade que surge para o uso intenso das instituições financeiras públicas federais ¿ mais especificamente, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.

Curiosamente, num momento delicado e especial como o atual, pode-se afirmar que a existência dessas instituições é um grande instrumento à disposição dos que fazem a política econômica no Brasil, em contraste com a maioria dos outros países, que não possuem bancos públicos capazes de fornecer empréstimos ou mesmo fazer investimentos.

As medidas recentes tomadas pelo governo e que serão certamente aprovadas pelo Congresso criaram as condições ideais para uma atuação intensa e imediata ¿ seja via empréstimos, seja via investimentos ¿ do Banco do Brasil e da Caixa Econômica sobre determinados setores da economia que costumam liderar o processo de crescimento. Estamos nos referindo à construção civil, à produção de automóveis, caminhões e ônibus e ao setor agro pecuário moderno e industrial

O Banco do Brasil pode usar recursos próprios ou adquirir instituições especializadas no financiamento de veículos e caminhões. A Caixa Econômica pode adquirir participações acionárias em construtoras e financiar a construção civil, seja residencial, seja comercial, seja pesada.

Em nossa opinião, o crescimento econômico do país pode ser facilmente mantido através de uma acentuada expansão do crédito ao setor privado por parte do Banco do Brasil e da Caixa, tendo em vista a enorme eficiência e grande flexibilidade de tais decisões financeiras, comparativamente ¿ por exemplo - ao processo necessariamente burocrático e licitatório das despesas governamentais e dos investimentos governamentais, aí incluído o próprio PAC.

A crise internacional oferece esta grande oportunidade para uma enorme expansão do investimento privado no Brasil ¿ sobretudo nos setores de construção civil, produção de material de transporte e agroindústria ¿ a ser financiada com recursos públicos provenientes da liquidez criada (e alimentada pelo BC se houver necessidade) no Banco do Brasil e na Caixa Econômica. Exatamente como nos tempos do "milagre brasileiro", sem mencionar BNDES. A agilidade do Banco do Brasil e da Caixa vão ser tão fundamentais em 2008/2009 como foram em 1968/1969.