Título: Economia aquecida trouxe lucros fabulosos
Autor: Rosa, Leda
Fonte: Jornal do Brasil, 08/11/2008, Economia, p. A20

Quando a economia estava aquecida, as firmas tiveram lucros estrondosos cortando custos em novas aquisições, melhorando as operações, e depois vendendo-as.

Para Jeffrey A. Sonnenfeld, diretor associado sênior da Escola de Administração de Yale, a situação é preocupante. Em 2007, no auge da bolha, esses acordos totalizaram US$ 796 bilhões, ou mais de 16% dos US$ 4,83 trilhões em todos os acordos firmados globalmente este ano, de acordo com dados da Dealogic.

Firmas como Blackstone Group e Kohlberg Kravis Roberts & Co. enfrentaram um problema de imagem no auge da bolha por excessiva compensação e tratamento especial para benefícios fiscais, mas os retornos eram tão altos que até mesmo os investidores como fundos de pensão foram sugados.

Agora, essas firmas, construídas em cima de enormes dívidas, estão sendo obrigadas a voltar para os mercados financeiros. Justo agora quando esses mesmos mercados esfriaram. Se a história se repetir, o pior ainda está por vir.

De frente para o Congresso

Steven N. Kaplan, professor da Escola de Negócios da Universidade de Chicago, descobriu que quase 30% de todos os grandes acordos para transformar empresas de capital aberto em privadas feitos de 1986 a 1989 fracassaram. Depois, os players de ativos privados foram chamados em frente ao Congresso e filmes como Wall Street ¿ Poder e Cobiça (Wall Street no original) e Com o dinheiro dos outros (Other People¿s Money, em inglês) ¿ retrataram os financiadores como criminosos ganaciosos.

Muitas empresas que não foram compradas por firmas de ativos privados também enfrentam dificuldades. Circuit City, vendedora de longa data de produtos eletrônicos, está tentando protelar o pedido de falência. E fabricantes de automóveis de capital aberto como GM enfrentam problemas também. A GM pensa em fusão com a também problemática Chrysler, que é mantida por ativos privados.

Muitos analistas e profissionais da indústria dizem que empresas lastreadas em ativos privados não vão sofrer tanto quanto as da década de 80, porque elas pressionam por melhores condições de financiamento para continuarem operando mesmo que não consigam pagar as dívidas. Por exemplo, num esforço para economizar recursos, seis das empresas de portfólio da Apollo, incluindo a Claire¿s Stores, Harrah¿s e Realogy, anunciaram, este ano, que vão pagar parte dos juros de títulos emitindo mais títulos de dívida.

Kaplan disse que apesar de as coisas estarem difíceis, os acordos atuais são muito mais frágeis e usam menos alavancas. Segundo ele, numa base relativa para bancos de investimentos e fundos hedge (fundos de proteção da carteira), os ativos privados devem estar numa situação melhor por causa de seu foco a longo prazo.

Lerner, da Escola de Negócios de Harvard, disse que problemas entre firmas de ativos privados provavelmente levantariam questões difíceis sobre a compensação e estrutura de tarifa na indústria. As firmas geralmente têm tarifas de 2% de todo o dinheiro administrado e 20% dos lucros.

¿ Eu não me surpreenderia se elas tentassem conduzir as críticas retornando capital ¿ observa.

No que parece uma tendência preocupante, muitos títulos de empresas lastreadas em ativos privados recentemente tiveram uma redução tremenda em seu valor, sinalizando preocupações com sua solvência.