Título: Emergentes exigem regulamentação
Autor: Rosa, Leda
Fonte: Jornal do Brasil, 08/11/2008, Economia, p. A20

Meirelles e Mantega anunciam esforço conjunto para controle de transações financeiras.

SÃO PAULO

No encontro do G20, que discutirá a reconfiguração do sistema financeiro internacional, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que a recessão nas economias avançadas parece inevitável.

As reuniões do G-20 - grupo das 19 economias líderes do mundo e a União Européia - que acontecem hoje e amanhã em São Paulo vão buscar propostas para remodelar o sistema de finanças mundial. Os países emergentes querem medidas anticíclicas que impeçam o aprofundamento da crise em suas economias. Em meio aos estudos, os Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) reinvindicam participação no bloco decisório, formado pelo G8 - reunião das sete maiores economias mundiais e a Rússia.

¿ G20 é mais representativo do que o G7 ou G8. Nos recusamos a continuar participando das reuniões do G8 e ficar tomando cafezinho quando é hora de deliberar ¿ disse Mantega ontem, ao final do primeiro dia de reuniões preparatórias dos Brics para o encontro de cúpula que começa hoje.

Segundo o Ministro da Fazenda, os Brics defendem a reformulação das instituições que controlam o sistema financeiro internacional, como o FMI e o Banco Mundial. "Estas entidades permi tiram que a situação chegasse onde chegou, não conseguiram detectar o problema a tempo e estancar a crise."

Nas novas configurações, ele defende que haja organismos que possam regular os fluxos financeiros a nível internacional ou atuando em parceria entre dois ou vários países.

Para ele, estes são organismos nos quais os emergentes não têm voz igualitária.

¿ São estruturas que refletem os anos 50 e 60. O mundo mudou. Os emergentes avançaram e são responsáveis por 75% do crescimento mundial ¿ explicou.

O ministro defendeu que o G20, ou o G8 ampliado, se torne uma instituição formada não mais por ministros de finanças, mas por

Chefes de Estado.

¿ Deve ser um organismo que possa atuar neste cenário de crise, estamos falando de uma crise mundial, que só pode ser combatida a nível mundial ¿ disse.

Mantega disse que os ministros das finanças emergentes têm propostas consonantes em relação à reforma geral do sistema financeiro. E a boa acolhida se estende aos mais avançados.

¿ Pela gravidade da crise, as economias desenvolvidas têm uma disposição maior para a participação dos emergentes ¿ observou.

O responsável pela Fazenda brasileira disse que as medidas tomadas pelos Estados Unidos, União Européia e Japaão - cuja recessão parece inevitável - são corretas mas insuficientes.

¿ O importante é estancar o processo para atingir menos os emergentes. Se a situação persistir, teremos retração da atividade econômica mundial ¿ ressaltou.

Entre as medidas necessárias para corrigir os rumos da economia, Mantega citou o aumento da fiscalização e regulação dos mercados financeiros, que ganhariam transparência.

Mantega também cobrou novas medidas para restabelecer o crédito e a limpeza nos créditos bancários, pela compra ou isolamento dos ativos tóxicos.

¿ Ainda é preciso que os Estados adotem medidas anticíclicas, com instrumentos fiscais e monetários, aumentando os investimentos e reduzindo o custo financeiro ¿ disse.

Os encontros do G-20 vão discutir propostas que darão subsídios para os presidentes e primeiros-ministros que se reúnem nos dias 14 e 15 em Washington.

Paralelamente à entrevista de Guido Mantega, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, após conferência na Câmara Americana de Comércio, confirmou que a reunião do G20 financeiro e a do BIS, na segunda-feira, deverão discutir um maior controle dos mercados financeiros como resposta à turbulência global que se originou nos Estados Unidos.

¿ Teremos dois focos de discussão. Em primeiro lugar, como resolver os problemas causados por essa crise internacional, e em segundo lugar, olhar para frente, com a questão da regulamentação ¿ disse Meirelles, após a palestra.

¿ Uma das possibilidades que estará em discussão é exatamente uma maior supervisão e uma maior fiscalização nos mercados internacionais e, especialmente, nas transações globais ¿ observou o presidente do BC.

Sobre o Brasil, Meirelles disse que o crédito já está em recuperação, mas ainda não voltou à normalidade. Para ele, houve uma perda pronunciada na última semana de setembro, seguida de recuperação posterior, graças à série de medidas tomadas pelo BC para prover liquidez tanto em dólares quanto em reais.

Meirelles voltou a afirmar que a situação no Brasil é melhor que a de outros países quando se tratam dos problemas causados pela crise. Entre as vantagens brasileiras, citou o mercado bancário brasileiro ser menos alavancado, os bancos de investimento brasileiros terem regulação do BC, o que não acontece nos EUA, e a força do mercado interno na economia.

¿ Certamente estaremos crescendo mais do que a média do crescimento global previsto pelo FMI ¿ afirmou.