O globo, n. 31936, 13/01/2021. País, p. 6

 

Bancadas da bala e da Bíblia estão divididas na Câmara

Bruno Góes

Maurício Ferro

13/01/2021

 

 

Assim como acontece com ruralistas, grupos temáticos não atuam de forma alinhada na sucessão de Rodrigo Maia

 Além da divisão entre ruralistas, as bancadas da bala e evangélica, que compartilham pautas em comum com o presidente Jair Bolsonaro, estão divididas na eleição para a Câmara dos Deputados.

Bolsonaro está cobrando publicamente apoio de todos os integrantes da frente ruralista ao “nosso candidato”, em referência a Arthur Lira (PPAL). Os grupos temáticos, no entanto, não discutem a possibilidade de embarcarem unidos nas candidaturas de Lira ou odo principal adversário, Baleia Rossi (MDB-SP).

Integrante da bancada evangélica, Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) avalia que não existe na frente esforço nessa direção. Há parlamentares do grupo que são próximos a Bolsonaro e foram importantes na eleição de 2018. Neste momento, porém, os deputados estão dialogando sobre o assunto em instâncias partidárias.

— Não acho que faz sentido (o apoio em bloco a um candidato), porque eleição de Câmara é costurada por partido. Não é a frente evangélica que vai indicar o candidato em quem vão votar. Não acredito que isso proceda ou tenha resultado — diz o parlamentar do DEM.

No grupo de WhatsApp da bancada, segundo deputados ouvidos pelo GLOBO, o assunto é quase inexistente. Apenas Marco Feliciano (Republicanos-SP), fiel aliado de Bolsonaro, usa o espaço para defender Lira. Os demais, entretanto, não respondem às mensagens.

O partido de Cavalcante apoia Baleia Rossi. Já a sigla do presidente da bancada, Cezinha Madureira (RJ), o PSD, está no bloco de Lira.

Correndo por fora na disputa pela presidência da Câmara, o deputado Capitão Augusto (PL-SP), que lidera a bancada da bala, afirmou ontem que espera que alguns colegas cujos partidos se comprometeram a votar em Lira ou Rossi mudem de ideia e votem nele. O parlamentar é candidato, mas não tem apoio sequer da própria sigla. O grupo também é heterogêneo.

—Quando o voto é aberto, prevalece a vontade da bancada partidária, porque os parlamentares, digamos, têm um vínculo muito forte com os partidos. Não vão bater de frente com o partido. Então, se o voto fosse aberto, nem candidato eu sairia, porque não tem como os parlamentares irem contra os próprios partidos — disse Capitão Augusto.

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PSL vai analisar expulsão de deputados pró-Lira

13/01/2021

 

 

Parte da bancada contrariou decisão do partido e tentou aderir ao bloco do candidato apoiado por Bolsonaro na Câmara

 A Executiva Nacional do PSL decidiu ontem encaminhar ao Conselho de Ética da sigla denúncia por infidelidade partidária contra 20 parlamentares. O processo, a depender da avaliação da direção da legenda, pode provocar a expulsão dos deputados. A ação é uma retaliação ao movimento de parte da bancada na Câmara que tentou formalizar o apoio do partido a Arthur Lira (PP-AL) na disputa à presidência da Casa.

Rachado, o PSL já havia negociado uma aliança com Baleia Rossi (MDB-SP). As representações foram elaboradas pelo deputado Junior Bozella (PSL-SP), presidente do diretório estadual de São Paulo. Ele quer a expulsão dos parlamentares e conta com o apoio do presidente nacional do partido, o deputado Luciano Bivar (PSL-PE).

—São deputados reincidentes. Na minha opinião, não tem como atestar boa conduta. São arruaceiros que atuam o tempo inteiro para denegrir a imagem do partido — disse Bozella.

Na semana passada, deputados bolsonaristas do PSL enviaram um documento à Câmara para tentar aderir ao bloco de Lira. A lista de adesão, porém, conta com o nome de parlamentares suspensos das atividades partidárias e deve ser invalidada.

Dos 53 deputados do PS L ,17 estão suspensos. Isso significa que, para aderira um bloco, deve haver a maioria entre os 36 deputados ativos, ou seja, 19 assinaturas. N alista protocolada pelo ex-líder do governo Vitor Hugo( PS L- GO ), havia a adesão apenas de 15 parlamentares deste grupo.

Bozella diz que apresentou denúncias contra 20 deputados pelo “conjunto da obra”. Não são todos que assinaram a listara favor de Lira, apenas os que fizeram os ataques “mais graves”, segundo o deputado. Estão no grupo nomes como Bia Kicis (DF), Carla Zambelli (SP), Eduardo Bolsonaro (SP) e Hélio Lopes (RJ).

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“Traições” na Câmara derrubam contabilidade oficial dos votos

Pedro Capetti

13/01/2021

 

 

Histórico mostra vencedores com resultado inferior ao tamanho dos blocos

 O histórico dos últimos 20 anos de eleições para a presidência da Câmara mostra que ter o maior bloco de deputados quase sempre significou uma vitória ao final, mas em patamar menor do que as alianças indicam, em função das “traições”. Nas últimas 11 disputas, em apenas uma o dono do maior apoio na contabilidade oficial não saiu vitorioso.

O fato atípico ocorreu em 2005, quando o então deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), expoente do “baixo clero”, aproveitou a desarticulação política do governo Lula naquele momento —o PT lançou dois candidatos — e chegou à presidência da Casa, mesmo sem o apoio formal do próprio partido. No segundo turno, teve 300 votos, contra 195 de Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), que tinha o maior bloco e o endosso do Palácio do Planalto.

Por outro lado, as “traições” —o voto é secreto — fazem com que uma projeção maior do que o resultado efetivo da apuração seja quase regra para o vencedor, mas existem exceções. Em 2015, Eduardo Cunha (MDB-RJ) contava com apoio formal de 218 deputados, mas obteve 267 votos. Já Arlindo Chinaglia (PT-SP) tinha 160 aliados na composição, mas registrou apenas 136 votos. A estratégia de tentar derrotar Cunha custou caro ao governo: no fim daquele ano, ele deu início ao processo que levaria ao impeachment de Dilma Rousseff.

Em 2017, quando Rodrigo Maia (DEM-RJ) foi eleito pela primeira vez no início de uma legislatura —antes, já havia cumprido um mandato-tampão no posto —, as siglas que o apoiavam somavam 359 deputados, mas o número não se refletiu no resultado, e Maia teve 293 votos.

Em compensação, o PTB conseguiu dificultar a eleição naquele ano, mesmo sem apoio formal de nenhum partido. Na oportunidade, tinha 17 deputados, mas registrou 105 votos na candidatura encampada pelo deputado Jovair Arantes (GO).

O histórico de eleições na Câmara também indica que, nem nos momentos em que a disputa é menos acirrada, a eleição foi representada dentro das margens projetadas. No início de 2011, PT e MDB combinaram um rodízio na presidência da Câmara, cabendo ao MDB o segundo biênio.

Na disputa pelos primeiros dois anos, o então deputado Sandro Mabel se lançou candidato à revelia do próprio partido, o PL, que apoiava Marco Maia (PTRS). Mesmo sem nenhum integrante formal no bloco, conseguiu 106 votos, diminuindo a margem de vitória do petista.

Em 2013, quando Henrique Eduardo Alves foi eleito (MDB-RN), o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) tinha 27 deputados em seu bloco, mas conseguiu registrar 165 ao final.

Na disputa atual, é Baleia Rossi (MDB-SP) o detentor da maior aliança, com 11 partidos, que somam 278 deputados. Do outro lado, o grupo de Arthur Lira (PPAL) tem 195 parlamentares —além do apoio do presidente Jair Bolsonaro.

ESTRATÉGIAS DISTINTAS

Para viabilizar as “traições”, Lira adotou a estratégia de negociar individualmente com os parlamentares e conta com o racha inclusive em partidos de esquerda, que formalmente estão ao lado de Baleia —no caso do PSB, por exemplo, aliados do líder do PP contabilizam em torno de 15 votos, metade da bancada.

Já Baleia vem conseguindo obter vantagem com as lideranças e direções partidárias e tem apostado no discurso de que sua candidatura significa a manutenção de uma “Câmara independente”.

Ainda fora da contabilidade oficial, há partidos com bancadas menores que ainda não tomaram decisões oficiais, como PSOL, Novo, Podemos e PTB.