O globo, n. 31936, 13/01/2021. Sociedade, p. 10

 

Eficácia comprovada

Ana Letícia Leão

13/01/2021

 

 

CoronaVac supera índice da OMS, e cientistas defendem uso imediato

 A CoronaVac, produzida pelo laboratório chinês Sinovac Biotech em parceria com o Instituto Butantan, tem uma eficácia global de 50,38%, segundo informações divulgadas ontem pelo governo de São Paulo. A taxa supera o índice de 50% recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

De acordo com o resultado dos testes promovidos com voluntários, a vacina é capaz de proteger contra formas graves da Covid-19. Médicos e cientistas presentes à apresentação destacaram a segurança do imunizante e defenderam o início da vacinação assim que sair a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que pode acontecer no domingo.

A taxa global é menor do que o índice anunciado na semana passada (78%) porque inclui casos muito leves de coronavírus: pessoas que se infectaram, mas não precisaram ser hospitalizadas. Para casos moderados e graves — com hospitalização, inclusive em UTI —, a eficácia da vacina foi de 100%.

— Nós temos uma boa vacina. Não é a melhor vacina do mundo, não é a vacina ideal, é uma boa vacina que tem a sua eficácia dentro dos limites do aceitável pela comunidade científica e da Organização Mundial da Saúde. É uma vacina que foi testada dentro de um rigor de testes clínicos, em um estudo que teve seu protocolo pré-publicado, com desfechos primários e secundários pré-publicados, ou seja, é um estudo limpo, claro, e que agora traz os resultados exatamente do que se propôs a fazer — salientou Natalia Pasternak, microbiologista, colunista do GLOBO e presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC), e que esteve no evento de ontem.

SIMILARIDADES

Durante a fase três do estudo de eficácia, ainda em andamento, 252 pessoas se infectaram: 85 no grupo que tomou a vacina e 167 entre os que receberam um placebo (substância que não gera efeitos no organismo). A eficácia global, de forma simplificada, é a diferença entre a taxa de infecção daqueles imunizados que foram infectados e os que ficaram doentes e não receberam a vacina. Entre os infectados que foram imunizados, ninguém precisou ser internado num hospital.

Segundo Marco Aurélio Safadi, presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, os dados apresentados pelo Butantan sobre a CoronaVac são “absolutamente similares” às vacinas existentes hoje no Brasil:

—A vacina de rotavírus tinha eficácia de 80% para mortes e hospitalizações, e de 40% a 50% para prevenir diarreia. A da coqueluche, utilizada há décadas, também é muito similar, previne com muita eficiência formas graves da doença. A própria vacina da gripe, que apresenta eficácia menor do que essa também propiciou impactos substanciais.

Além de Safadi e Pasternak, estiveram presentes à divulgação nomes como Renato Kfouri, pediatra e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm); Esper Kallas, professor do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da USP; Sérgio Cimerman e Rosana Richtmann, infectologistas do Instituto Emílio Ribas. Por parte do governo, participaram o diretor do Butantan, Dimas Covas; o secretário Estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn; o médico e coordenador do Centro de Contingência da Covid-19, João Gabbardo, além de Alex Precioso, diretor do Centro de Segurança Clínica e Gestão de Risco do Butantan, e Ricardo Palácios, diretor médico de Pesquisa Clínica do Butantan.

VEJA OS RESULTADOS DA CORONAVAC

Dados do Instituto Butantan mostraram que a taxa de eficácia geral da vacina CoronaVac é de 50,4% - ou seja, uma a cada duas pessoas infectadas não desenvolverá a doença. Não foram registrados eventos adversos graves relacionados ao imunizante.

CONTROLE DA PANDEMIA

Palácios destacou, durante sua apresentação, como o uso da CoronaVac evita que pessoas infectadas pelo novo coronavírus precisem de assistência hospitalar.

— Nenhum dos participantes do grupo precisou de hospitalização. O dado geral está dentro do cumprimento das exigências da Organização Mundial da Saúde. Temos uma vacina que consegue controlar a pandemia, que é a diminuição da intensidade da doença clínica.

Para Dimas Covas, a CoronaVac se diferencia das demais vacinas porque foi testada em um ambiente de exposição extrema ao vírus.

— Começamos de forma ousada. Escolhemos para testar a população em maior risco no Brasil, que são os profissionais de saúde. São pessoas que entram diariamente não apenas em contato com o vírus, mas em contato com pacientes de Covid-19 —destacou.

Covas cobrou, mais uma vez, que a análise realizada pela Anvisa seja acelerada.

— Por que atrasar o uso da vacina? Ela é segura e eficaz. Precisamos vacinar a população com urgência — afirmou o diretor do Butantan.

No último sábado, a Anvisa pediu mais informações ao Butantan para a aprovação, em forma emergencial, do imunizante CoronaVac. Segundo o Painel de Acompanhamento, a agência já concluiu 40% da análise da documentação enviada e outros 37% ainda estão pendentes de complementação. No início da noite de ontem, a agência anunciou que decidirá no domingo sobre os pedidos feitos pelo Butantan e a Fiocruz.