O globo, n. 31937, 14/01/2021. Sociedade, p. 10

 

Contagem regressiva

Adriana Mendes

Paula Ferreira

14/01/2021

 

 

Doses vindas da India chegam sábado, e imunização deve começar no dia 20

Após o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciar, em Manaus, que o governo já acertou a ida de um avião à Índia para buscar 2 milhões de doses prontas da vacina da Oxford/AstraZeneca, o Ministério da Saúde propôs a realização de um evento na próxima terça feira, no Palácio do Planalto, para marcar o início da vacinação contra a Covid-19. A imunização deve começar, segundo estimativas do ministro, na quarta-feira, dia 20.

Em entrevista coletiva ontem, o secretário-executivo da pasta, Élcio Franco, disse que a vacinação será iniciada pelas capitais do país, uma vez que aguardar a chegada do imunizante a todos os municípios poderia atrasar muito o cronograma.

Em documento enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), o Ministério da Saúde afirmou que não tem estoques de seringas para a vacinação porque isso seria de competência dos estados e municípios. Para o início da imunização, porém, com 8 milhões de doses, a pasta diz que há estoques de seringas e agulhas suficientes.

Na Índia, a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford (Reino Unido) em parceria com a farmacêutica AstraZeneca foi fabricada pelo Instituto Serum. No Brasil, o imunizante será produzido pela Fiocruz.

— Vamos vacinar em janeiro — afirmou Pazuello.

— Hoje (quarta-feira, 13) decola o avião para ir buscar 2 milhões de doses na Índia.

Em nota, a companhia aérea Azul, responsável pelo transporte das vacinas indianas, esclareceu que o avião decolará hoje de Recife, às 23h. Serão 15 horas de voo sem escalas até Mumbai, onde embarcarão as 15 toneladas de carga. A aeronave, dotada de contêineres refrigerados para manter a temperatura ideal de preservação do medicamento (entre 2°C e 8°C), deve pousar no sábado, às 15h, no Aeroporto do Galeão, no Rio, de onde as doses seguirão para a Fiocruz. As caixas serão etiquetadas e preparadas para distribuição pelo Ministério da Saúde.

DISTRIBUIÇÃO AOS ESTADOS

Pazuello reafirmou que o Brasil está preparado para iniciar a vacinação contra a Covid-19 assim que houver o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os cinco integrantes da diretoria colegiada da agência se reúnem no domingo para decidir sobre o uso emergencial das vacinas da Oxford/AstraZeneca e da CoronaVac, do Instituto Butantan com a farmacêutica chinesa Sinovac. O ministro da Saúde disse que todos os estados receberão as doses ao mesmo tempo, inclusive o Amazonas.

—Nós temos duas vacinas para janeiro muito promissoras, todos acompanham, a vacina da Fiocruz/AstraZeneca e a do Butantan com a Sinovac. São 8 milhões de doses. Quando a Anvisa concluir suas análises de segurança  e eficácia, três, quatro dias depois nós estamos distribuindo a vacina no Brasil —disse o ministro.

De acordo com o secretário-executivo, há um impedimento legal para que a distribuição das doses pelo país comece antes da autorização dos imunizantes pela Anvisa.

— A vacina que não tem autorização está sob termo de guarda. Então ela está com o Butantan, mas não pode ser usada. Há um responsável técnico, que está com a guarda dessa vacina, ele não pode usá-la, não pode distribuir, não pode lotear. A mesma coisa para a vacina que vier importada da Índia, que ficará com termo de guarda na Fiocruz — disse Élcio Franco.

No pronunciamento feito em Manaus, o ministro da Saúde destacou que o Brasil tem “o maior programa de imunização do mundo” e que o governo “não saiu do rumo” para garantir a vacinação contra o coronavírus.

—Nós aplicamos 300 milhões de doses por ano e vamos fazer igual com a vacina contra a Covid-19. O resto é apenas pressão política, pressão partidária, pressão de bandeira, pressão de interesses particulares. Nós não saímos do nosso rumo nenhum minuto —disse Pazuello.

Em documento enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) ontem no fim da tarde, como resposta a uma ação do partido Rede Sustentabilidade, o Ministério da Saúde informou não ter estoque de seringas e agulhas para a campanha de vacinação contra a Covid-19. Segundo a pasta, a aquisição desses produtos é geralmente feita pelos estados, que têm um estoque de 80 milhões de unidades, o suficiente para começar a vacinação. O ministério informou também que está adquirindo seringas e agulhas para poder realizar toda a campanha.

APELO À POPULAÇÃO

A Associação Médica Brasileira (AMB), em conjunto com seu quadro de sociedades de especialidades médicas, pediu à população brasileira que se vacine contra a Covid-19. A AMB aponta em nota que o país vive um momento de “desinformação, desserviço e fake news” contra os imunizantes.

“É urgente o início da vacinação no Brasil. Só assim evitaremos mais mortes causadas pela Covid-19. Desde 8 de dezembro de 2020, quando a primeira dose da vacina foi ministrada no mundo ocidental, já são 23 milhões de aplicações realizadas com segurança em mais de 50 países. (...) Nenhuma morte relacionada à vacinação para Covid-19 foi descrita até o momento, enquanto a doença já causou mais de 1.900.000 de óbitos globalmente”, diz um trecho do documento.

No texto, os médicos afirmam que as vacinas “têm potencial de ser um divisor de águas no combate à pior crise sanitária mundial dos últimos cem anos”.

As associações médicas alertam ainda sobre os riscos causados por questionamentos sem base científica que visam desqualificar as vacinas.