O Estado de São Paulo, n.46393, 24/10/2020. Metrópole, p.A22

 

Decisão sobre obrigatoriedade vai para STF

Breno Pires

24/10/2020

 

 

Sete partidos entraram com ações no Supremo após Bolsonaro afirmar que não vai autorizar importações de vacinas

Após sete partidos protocolarem no Supremo Tribunal Federal (STF) ações sobre vacinação nesta sexta-feira, o ministro Ricardo Lewandowski pediu explicações ao Planalto e já adiantou que não vai decidir sozinho sobre os pedidos de liminar, mas enviar diretamente ao Plenário para decisão conjunta, “em razão da importância da matéria e da emergência de saúde pública decorrente do surto do coronavírus”.

Lewandowski foi sorteado para relator. São quatro as ações apresentadas ao Supremo, em meio à polêmica afirmação do presidente Jair Bolsonaro de que não vai autorizar importação de vacinas da China pelo governo federal, em discurso que agrada em cheio à ala ideológica do governo, que prega a não obrigatoriedade da vacinação. Além da Presidência, o ministro quer ouvir a Advocacia-geral da União (AGU) e a Procuradoria-geral da República (PGR) – o prazo para as respostas é de cinco dias.

Em uma das ações, PCDOB, PSOL, PT, PSB e Cidadania pedem que o STF, entre outros pontos, impeça Bolsonaro e o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, de praticarem quaisquer atos que dificultem a continuação das pesquisas sobre vacina. Os cinco partidos pedem também que o governo entregue, em até 30 dias, planos e programa relativos à vacina e medicamentos contra a covid-19. A Rede Sustentabilidade, em outra ação, também requer que o governo federal apresente um plano de vacinação.

Outras duas ações foram apresentadas pelo Partido Democrático Trabalhista e pelo Partido Trabalhista Brasileiro, com pedidos divergentes. Para o PDT, de oposição ao governo Jair Bolsonaro, o Supremo deve reconhecer a competência de estados e municípios para determinar ou não a vacinação compulsória da população. Por outro lado, o PTB, da base aliada do presidente da República, solicita que essa possibilidade seja declarada inconstitucional.

Todos esses pedidos chegaram ao Supremo no mesmo dia em que o presidente do tribunal, Luiz Fux, previu uma avalanche de processos sobre vacinação. O ministro demonstrou estar de acordo com a necessidade de debate sobre alguns dos fundamentos que estão em discussão na sociedade. “Podem escrever, haverá uma judicialização, que eu acho que é necessária, sobre essa questão da vacinação. Não só a liberdade individual como também os pré-requisitos para se adotar uma vacina. Não estou adiantando ponto de vista nenhum, estou apenas dizendo que essa judicialização será importante”, disse. A fala de Fux foi dada em um momento no qual o ministro dizia que pretende ver o Supremo “respeitado”. “Eu não quero protagonismo judicial do Supremo, interferindo em matérias que não são da sua competência, à luz da separação dos Poderes.”

Congresso e governadores. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse ontem, ao lado do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que o presidente da República Jair Bolsonaro deve “atender os apelos” e seguir pelo “caminho do bom diálogo” no apoio ao desenvolvimento de todas as pesquisas de vacinas contra covid-19 em desenvolvimento no País. Diante da possibilidade de o presidente Jair Bolsonaro ignorar a vacina contra a covid-19, hoje em desenvolvimento pelo laboratório chinês Sinovac e pelo Instituto Butantã, por causa de disputas políticas com o governador João Doria (PSDB) e o país de origem do imunizante, governadores e secretários de Saúde do País cogitam a possibilidade de se unirem em um consórcio. A ideia é financiar e distribuir a Coronavac, assim que houver a aprovação da Vigilância Sanitária (Anvisa).

A ideia ainda embrionária, porém, esbarra na dificuldade de se conseguir os recursos necessários para a realização do plano sem o apoio do governo federal. Representantes da gestão Doria pediram aporte de R$ 1,9 bilhão ao Ministério da Saúde no projeto, mas o valor total pode ser maior do que isso. A Coronavac está em fase 3 de testes, com humanos, a última desse tipo de estudo.

Judicialização

“Podem escrever, haverá uma judicialização, que eu acho que é necessária, sobre essa questão da vacinação. Não só a liberdade individual como também os pré-requisitos para se adotar uma vacina.”

 Luiz Fux

PRESIDENTE DO STF