Título: Ronaldinho apela para salvar refém
Autor: Olivia Hirsch
Fonte: Jornal do Brasil, 27/01/2005, Internacional, p. A7

Jogador grava apelo, que será exibido em redes árabes, no qual pede aos seqüestradores de brasileiro ''que tenham piedade'' Ídolo até no Iraque, o jogador de futebol Ronaldinho, atacante do Real Madri e Embaixador da Boa Vontade da ONU, fez ontem um apelo por telefone pela libertação do engenheiro brasileiro João José de Vasconcellos Jr., seqüestrado em Beiji, no Iraque.

- Falaram que sou muito querido no Iraque. Peço que haja pelo menos um contato que possa iniciar a negociação para que libertem o João Vasconcellos, que é mineiro como a minha noiva (a modelo Daniela Cicarelli) - disse, em Madri. - Espero que essa mensagem chegue ao coração dos seqüestradores, que tenham um pouquinho de piedade e libertem o brasileiro para que volte para casa e curta a familia e amigos.

O irmão de João, Luiz Henrique de Vasconcellos, agradeceu a gravação que, segundo ele, será transmitida também nas redes árabes, como Al Jazira e Al Arabyia.

- Ronaldo é um fenômeno não só em campo, mas de caráter humano - disse, acrescentando que é possível que Ronaldinho Gaúcho, do Barcelona, também faça um apelo.

Além dos dois jogadores, o nome de Pelé igualmente teria sido cogitado a partir de um convite supostamente encaminhado pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Palácio do Planalto não confirma a informação. Segundo Luiz Henrique, a popularidade do futebol brasileiro era frequentemente comentada pelo irmão.

- Toda vez que ele ia para lá levava camisas da seleção para presentear. Acho que se sentia de certa forma mais seguro por isso, por ser brasileiro.

Em Juiz de Fora, as irmãs Karla e Isabel de Vasconcellos também gravaram um apelo, pedindo clemência para João. A mensagem, escrita por elas, foi traduzida para árabe pelo marido de Isabel, o comerciante libanês Ghassan Khouri, e será exibida hoje em emissoras da região e na internet.

De acordo com Karla, elas falam sobre o irmão como alguém que foi ao Iraque para ajudar o país, sem envolvimento político. Funcionário da Odebrecht, ele trabalhava na reforma de uma termoelétrica desde 2004.

- Falamos em nome da família, de meus pais, que são idosos e estão sofrendo muito - contou. - Lembramos também que o Brasil nunca foi a favor da guerra e que os árabes são muito bem quistos em nosso país.

Luiz Henrique diz que a iniciativa de gravar foi da própria família, que tem seguido os passos de outros seqüestros com desfecho positivo.

Ontem, uma missa e um ato muçulmano foram realizados em Juiz de Fora. No sábado, a cidade também será palco de uma passeata, diante do prédio onde vive a família, no Centro. Participarão familiares do engenheiro, bispos, membros da comunidade árabe da região e também políticos.

João foi capturado quando ia ao aeroporto de Beiji, de onde embarcaria para o Brasil. A operação foi assumida pelos grupos Ansar al Sunna e Brigadas de Mujahedin, ambos ligados ao jordaniano Abu Musab al Zarqawi, chefe da Al Qaeda no país. Em Amã, Jordânia, o embaixador brasileiro Antônio Carlos Coelho da Rocha afirmou que ''não há negociação em curso''.

Segundo o jornalista francês Alexandre Jordanov, que foi mantido refém pelas mesmas Brigadas de Mujahedin em abril, o grupo é bem organizado e tem motivações políticas.

- Para eles, uma empresa que atua no Iraque trabalha também para os EUA, já que suas operações foram aprovadas por Washington - disse à BBC Brasil. Jordanov contou ainda que o grupo tem pessoas com origens, idades e atividades diversas, como ex-guardas de Saddam Hussein, líderes religiosos e radicais islâmicos. Ele passou quatro dias em poder dos seqüestradores e esteve em nove cativeiros, sempre com os olhos vendados.

- Fui interrogado todo dia, às vezes por uma hora, às vezes por quatro.

Jordanov se recusou a falar em inglês com os seqüestradores e pediu um intérprete em francês.

- Seria melhor que o brasileiro também evitasse falar em inglês - opina.