Título: Os dois países têm interdependência comercial
Autor: Rosa, Leda
Fonte: Jornal do Brasil, 09/11/2008, Economia, p. E4

Brasil e China são parceiros estratégicos, o que significa dizer que há uma interdependência de natureza comercial porque o Brasil tem commodities primárias que a China busca com avidez para continuar crescendo.

¿ Já o Brasil é uma economia emergente que tem demonstrado capacidade para atravessar a crise com relativa tranquilidade ¿ diz Bento Delgado Kardos, diretor dos departamentos chinês e de contratos do Noronha Advogados. Outra vantagem é a desvalorização cambial.

¿ É um fator de atração dos investimentos chineses para o Brasil ¿ diz. Entre os setores com poder de atração suficientes para captar os recursos chineses, ele cita siderurgia, logística, terminais portuários, complexos agrícolas e biocombustíveis.

O aumento das taxas do dólar reforçaria ainda a posição brasileira no comércio exterior.

¿ Outro benefício da queda do dólar é que o Brasil pode se colocar ainda mais no papel de exportador ¿ diz Kardos. Mas, para o especialista no comércio bilateral, é preciso que o governo promova intensamente as exportações para a China.

¿ Este é o momento do governo trabalhar em uma agenda mais positiva para incentivar as exportações brasileiras ¿ sugere Kardos.

Entre os produtos com grande potencial de exportação para a China, cita as carnes suínas, aves, peixes e crustáceos, soja, petróleo e derivados, produtos de higiene pessoal, calçados, metais não-ferrosos e biocombustíveis.

¿ Os biocombustíveis são uma possibilidade importante, porque a China tem pouca área para agricultura de alimentos em face da demanda interna. Substituir a cultura de alimentos por outra de cana ou milho pode gerar um déficit maior de alimentos ¿ diz Kardos. A alternativa seria importar biocombustíveis, como o etanol brasileiro.

¿ A crise pode ser boa para nós, pode ser um grande momento para o Brasil fortalecer ainda mais a parceria com a China e tirar proveito disto ¿ observa.

Os números do governo mostram que, em outubro, as vendas brasileiras bateram novo recorde, alcançando US$ 18.512 bilhões, crescimento de 17,4% sobre o mesmo mês em 2007. No conjunto, a Ásia foi a região que mais comprou do Brasil, com aumento de 45,6% puxado, especialmente, pelo minério de ferro, siderúrgicos, combustíveis, carnes e fumo.

No ranking dos países, a China foi o terceiro destino mais freqüente das exportações nacionais, com negócios que renderam US$ 1,420 bilhão. Na liderança estão os EUA (US$ 2,352 bilhões) e Argentina (US$ 1,634 bilhão).