Título: China, mercado preferencial para o Brasil
Autor: Rosa, Leda
Fonte: Jornal do Brasil, 09/11/2008, Economia, p. E4

Empresários detectam potencial de consumo chinês para produtos como biocombustíveis e laticínios e esperam crise amainar para ativarem negócios.

SÃO PAULO

Mariana Tolentino, sócia e diretora financeira da Destilaria Alpha, no município de Cláudio, a 130 quilômetros de Belo Horizonte, está animada. Até o início de 2009, ela deve ampliar as instalações da sua "pequena usina", como gosta de frisar. Com o aumento da capacidade, começa a realizar seu projeto mais importante: exportar etanol para a China. Mariana planeja vender ao mercado externo 70% do um milhão de litros cúbicos que produzirá. Metade deste total vai para os carros dos chineses.

¿ A China é meu mercado preferencial pelas perspectivas de crescimento ¿ diz, em coro com empresários que vêem no país asiático chances de ótimos negócios, ainda que em meio à crise financeira.

Se depender do governo chinês, Mariana pode manter as esperanças. Na quinta-feira, dia 6, o jornal estatal China Daily divulgou que o país estuda para breve a divulgação de um pacote de ações que pretende manter o ritmo de crescimento em meio à retração da demanda mundial. As novas medidas são radicais e se voltam para os setores de infra-estrutura e energia não-poluente, como o etanol brasileiro. Ainda haverá incentivos fiscais para contratação de mão-de-obra.

O pacote chinês busca conter a queda no ritmo de crescimento do PIB. Em 2007 a China cresceu 11,9%. Para 2008, as previsão apontam algo em torno de 9,6% a 9,8%.

"Um espetáculo"

Do lado de cá do planeta, Mariana espera confiante a turbulência financeira mundial acalmar para consolidar parceria com empresa suíça que investirá na usina e viabilizará a ampliação.

¿ Com a crise, ficamos em stand by. No início de 2009 tudo deve voltar a andar ¿ espera.

As vendas brasileiras para a China cresceram no acumulado de janeiro a outubro setembro 62%.

¿ Um espetáculo ¿ diz Marcos Lélis, coordenador da Unidade de Inteligência Comercial e Competitiva da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil).

Diante das perspectivas do mercado, a Apex abrirá até dezembro o primeiro centro de negócios verde-amarelo. Localizado em Pequim, com área mínima de 350 metros quadrados, prestará atendimento em setores como contratação de advogados locais, oferta de espaços para trabalho, reuniões e armazenagem.

Os biocombustíveis são um dos mais recentes focos de interesse da agência.

¿ Acompanhamos as tratativas que estão em fase inicial ¿ afirma Lélis.

A questão carece da definição do marco regulatório. Outra barreira para os negócios sino-brasileiros são as tarifas de 30% sobre o etanol importado e 17% de valor agregado.

¿ Quando o Brasil conseguir reduzir estas taxas, não vai ter como deixar a China de fora. Além de não ter tantas barreiras como os Estados Unidos, ela aumenta em 10 milhões de carros a frota por ano. É o mercado que mais vai crescer ¿ aposta Mariana.

A demanda por etanol cresceu ainda mais com o protocolo de Kyoto, que obriga os chineses a misturarem álcool à gasolina.

A incorporação de 10% de etanol em algumas regiões impactou a demanda. Os chineses já sabem que a aplicação nacional da nova medida até 2010 exigirá muito mais que os 2 milhões de toneladas de etanol produzidos ao ano. Até 2020, Kyoto estabelece porcentagens ainda maiores de álcool.

Outro otimista com a extensão dos números chineses é Jacques Gontigo, presidente da mineira Itambé. Até dezembro, são grandes as chances da empresa desembarcar a primeira remessa na China: 20 mil toneladas de leite em pó. A Itambé já exporta entre 60 e 70 mil toneladas de leite para 50 destinos.

Para alcançar os supermercados chineses, a empresa mineira negociou mais de dois anos.

¿ Estamos já há algum tempo pesquisando para investir no mercado chinês, ainda sem sucesso efetivo. Tem uma parte burocrática muito grande ¿ ressalta Gontijo.

Segundo ele, para melhorar o ambiente de negócios é preciso mais agilidade dos governos dos dois países para acertar as questões sanitárias em um acordo bilateral.

¿ Estas legislações variam conforme a nação. Isto não depende da iniciativa privada, é ação de governo.