O Estado de São Paulo, n.46394, 25/10/2020. Economia, p.B4

 

Fim do auxílio emergencial impõe novo desafio

Luciana Dyniewicz

25/10/2020

 

 

Mulheres que ficaram em casa para cuidar dos filhos devem enfrentar maior dificuldade para se recolocar no mercado

O auxílio emergencial dobrado para mães solteiras fez com que um maior número de mulheres deixasse o mercado de trabalho durante a quarentena, segundo o economista Marcos Hecksher, do Ipea. O problema, diz ele, é que, quando a ajuda do governo acabar definitivamente, muitas mulheres terão de procurar emprego novamente e não deverão encontrar.

Por não estarem procurando tanto uma ocupação agora, as mulheres não registraram aumento tão significativo na taxa de desemprego. Entre abril e junho, o índice atingiu 14,9%, com uma alta de 0,8 ponto porcentual na comparação com o mesmo período de 2019. Entre os homens, o aumento foi de 1,7 ponto e a taxa chegou a 12%

A fluminense Joyce Salvador, de 27 anos, é uma das mulheres que conseguiu receber R$ 1.200 por mês de auxílio emergencial. Mãe de um bebê de um ano e meio e de uma menina de sete anos, sustentava as crianças sozinha antes da pandemia fazendo trabalhos esporádicos como modelo fotográfica.

Joyce também costumava deixar os filhos com parentes. Os familiares, porém, não fizeram quarentena nos últimos meses. Como os filhos têm problemas respiratórios, ela acabou tendo de ficar em casa com eles e não conseguiu mais trabalhar.

"A pandemia não me colocou em um lugar de fragilidade, eu já vivia isso antes. Mas ela escancarou. Antes, já era difícil eu ter acesso a qualquer coisa. Agora é ainda pior. Antes, eu podia contar com a família. Agora, não, porque essa rede de apoio que eu tinha vive como se não tivesse pandemia", diz.

Além do auxílio emergencial, Joyce usou para pagar as contas duas parcelas de R$ 150 que recebeu nos últimos meses do projeto social Segura a Curva das Mães, que ajuda 1.734 mulheres em todo o País. Mas, justo quando o auxílio caiu à metade, o projeto também não pode fazer novos repasses às mães por estar sem recursos.

Ainda sem ter com quem deixar os filhos – Joyce entrou na Justiça para conseguir uma vaga em uma escola em seu bairro para a filha mais velha –, a modelo criou um canal no YouTube sobre os desafios de ser mãe durante a pandemia para tentar ganhar alguma renda.