Título: Diferenças podem travar ações
Autor: Rosa, Leda
Fonte: Jornal do Brasil, 10/11/2008, Tema do Dia, p. A2

Depois de um dia e meio de reuniões, o encontro dos ministros das Finanças e presidentes dos bancos centrais do G-20 chegou ao fim ontem, em São Paulo, evidenciando um conflito que pode emperrar os futuros encontros da instituição. As formas de regulação dos mercados financeiros polarizaram as discussões em torno das propostas para o enfrentamento da crise e demonstraram potencial para dificultar um consenso entre as nações integrantes.

De um lado da mesa, Brasil e outros membros do G-20 ­ grupo que reúne os países ricos e os emergentes ­ cobram maior controle e sistemas rígidos de monitoramento das instituições financeiras não-bancárias e das operações financeiras internacionais. Do outro, alguns países demonstraram resistências ao maior rigor na regulação dos mercados. ­

As discordâncias surgirão quando formos decidir as formas de regulação do que devemos fazer ­ disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, presidente do G-20, em entrevista coletiva no final da reunião. Stephen Timms, secretário das Finanças britânico, que será o presidente do G-20 em 2009, também respondeu às perguntas dos jornalistas. À mesa, ainda estava Trevor Manuel, responsável pela pasta na África do Sul e presidente do G-20 no ano passado. ­

Alguns países querem regulamentação mais rigorosa das instituições financeiras não-bancárias, como é o caso do Brasil ­ disse o ministro, que fez questão de detalhar algumas propostas brasileiras para o marco regulatório do sistema financeiro mundial. ­

Entre outros pontos, propomos o limite de alavancagem das instituições e a criação de organismos que detectem os derivativos a nível mundial. Precisamos de organismos que tenham a visão do que acontece quando os investimentos cruzam as fronteiras nacionais ­ disse.

O responsável pela Fazenda brasileira ainda lembrou que outra diferença que marcou o encontro foi a postura de alguns emergentes, que ressaltam a responsabilidade dos países avançados na deflagração da atual crise.

A posição destes emergentes é que as nações desenvolvidas deveriam se responsabilizar pelas conseqüências que comprometeram todo o sistema financeiro e ameaçam a economia real do mundo. ­

A reivindicação é que os mais ricos arquem com mais recursos para amainar os efeitos da crise nas economias emergentes ­ ressaltou. Mesmo com a polarização entre avançados e emergentes, Mantega e seus colegas ressaltaram que o G-20 saiu bastante unido em torno da proposta de fortalecimento da instituição para encaminhar medidas de restauração da estabilidade financeira.

Sobre a falta de propostas mais concretas no final do encontro, o ministro brasileiro comentou que a construção de itens comuns depende de análises técnicas que demandam mais tempo do que o disponível no encontro de São Paulo.

Durante esta semana, grupos de trabalho formados por representantes dos países-membros do G-20 estão encarregados de construir uma agenda com as principais propostas do encontro de São Paulo. A partir desta agenda, os técnicos vão preparar o cronograma de discussão para a reunião de chefes de Estado e de governo, que acontecerá no sábado, dia 15, em Washington. ­

Deste encontro de cúpula devem sair propostas concretas. Os chefes de Estado e de governo terão poder político para dar andamento à construção de uma nova arquitetura mundial. Não é uma mudança fácil, mas agora reunimos condições políticas para de fato levar tais mudanças adiante ­ ressaltou. O G-20 é formado pelos países que integram o G-7 (Estados Unidos, Canadá, Japão, Alemanha, Reino Unido, Itália e França), pelos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) e também por Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Coréia do Sul, Indonésia, México, África do Sul, Turquia e União Européia (UE), como bloco.