Título: BC: política monetária é inflexível
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Fonte: Jornal do Brasil, 11/11/2008, Economia, p. A17

Meirelles responde às pressões para a queda dos juros: prioridade é "inflação sob controle".

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, negou que o Brasil esteja no grupo de nações que poderiam flexibilizar a política monetária, sugestão mencionada ontem pelo presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, e no sábado pelo presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick. Trichet afirmou hoje que os países "em condições" ¿ perspectiva de inflação em queda, essencialmente ¿ deveriam flexibilizar suas políticas e implementar medidas fiscais, quando as dívidas estiverem sob controle, para enfrentar a crise global.

¿ Todos os países devem tomar medidas fiscais conforme suas condições ¿ disse Meirelles. ¿ A política monetária que será seguida está explicitada na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, publicada na última quinta-feira ¿ disse, referindo-se à ata da última reunião, na qual os integrantes do Comitê optaram por interromper a sequência de alta da Selic, ao mantê-la em 13,75%. Mas não sinalizaram para uma possível baixa da taxa básica de juros. Pelo contrário: o documento ressalta o temor das pressões inflacionárias e dá sinais de que os juros não cairão nas próximas reuniões do Copom.

Segundo ele, a autoridade monetária deve adotar a "política necessária para manter a inflação sob controle". Para Meirelles, o principal problema enfrentado pelo Brasil por conta da crise é a da falta de liquidez (crédito), sobre a qual o BC já age.

¿ O Brasil tem adotado medidas decididas, aproveitando de sua boa condição nas reservas internacionais, sua dívida pública, com porcentagem em queda sobre o PIB, e compulsórios elevados, com condições de serem reduzidos. Era uma posição relativamente melhor do que alguns países e certamente melhor que no passado recente.

O presidente do BC afirmou que outros problemas não afetam o Brasil, como perdas bancárias ou grande dependência de exportações a países desenvolvidos. Sobre a reunião do BIS (Banco para Compensações Internacionais, na sigla em inglês, o banco central dos bancos centrais), realizada ontem em São Paulo, Meirelles relatou que os presidentes disseram acreditar que a situação de crédito nos mercados melhorou, mas ainda está longe da normalidade.

Meirelles disse ainda que os dirigentes dos vários bancos centrais concordam sobre a necessidade de aumentar a regulação sobre as operações financeiras de alcance global. ¿ Todos concordam que há necessidade de fazer uma supervisão mais rigorosa, principalmente nas operações de alavancagem.

Operações "alavancadas" usam capital de terceiros para ampliar o volume aplicado. Agentes financeiros usam esse instrumento para aumentar o retorno esperado numa aplicação, o que implica também assumir riscos ainda maiores.