Título: Lula quer economia com foco no ser humano
Autor: Barrionuevo, Alexei
Fonte: Jornal do Brasil, 11/11/2008, Economia, p. A19

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem, na Itália, a revisão das regras contidas no Consenso de Washington. Em pronunciamento à imprensa, ao lado do presidente italiano Giorgio Napolitano, Lula enfatizou que o foco da economia deve ser o trabalhador e a produção, e não a especulação financeira.

¿ Penso que essa crise é uma oportunidade extraordinária para fazermos uma reflexão sobre tudo que fizemos de errado a partir do Consenso de Washington. E criarmos um outro consenso em que o ser humano, o trabalhador a produção agrícola, industrial, cultural científica e tecnológica sejam a razão de ser da economia e não a especulação financeira ¿ disse o presidente, depois de conversa reservada de 40 minutos com o colega italiano.

Lula chamou o ex-integrante do partido comunista da Itália de "caro companheiro" e enfatizou que os governos devem "ouvir menos analistas de mercado" e prestar mais atenção nos problemas sociais.

¿ Meu caro companheiro Giorgio Napolitano: na Assembléia Geral das Nações Unidas, eu disse que, para resolver a crise, era chegado o momento da política. Eu penso que nesse momento os governantes precisam entender que nós precisamos ouvir menos os analistas de mercado e mais os analistas dos problemas sociais, analistas de desenvolvimento e analistas que conheçam as pessoas humanas ¿ disse Lula.

Consenso de Washington é o nome do conjunto de dez regras de cunho neoliberal formulado em novembro de 1989 por economistas de instituições financeiras baseadas em Washington. Tais regras serviram de base para a política oficial do Fundo Monetário Internacional (FMI) na década de 1990, e eram impostas aos países pobres em dificuldades como condições para receberem recursos.

O neoliberalismo prega que o funcionamento da economia deve ser entregue às leis de mercado e que a presença estatal na economia inibe o setor privado e freia o desenvolvimento. Algumas destas regras foram adotadas na década de 1990 no Brasil, como a abertura da economia por meio da liberalização financeira e comercial e da eliminação de barreiras aos investimentos estrangeiros, privatizações, redução de subsídios e de gastos sociais por parte dos governos e desregulamentação do mercado de trabalho, para permitir novas formas de contratação que reduzam os custos das empresas.

A visita servirá para que Lula também cobre das autoridades italianas apoio para que o Brasil integre o Conselho de Segurança da ONU. O presidente apontou o cenário de crise como motivo para que os países ricos "não tomem mais sozinhos as decisões" sobre a economia:

¿ Precisamos reformar as instâncias decisórias internacionais e atribuir mais voz, vez e voto aos países em desenvolvimento, sob pena de não dispormos de mecanismos adequados para combater a crise ¿ disse. Esse é o tema que Lula pretende abordar no encontro com o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, previsto para hoje.