Título: Metas da política industrial em jogo
Autor: Monteiro, Viviane
Fonte: Jornal do Brasil, 11/11/2008, Economia, p. A20

Ministro mantém expectativas de crescimento do setor, mas exportadores discordam.

BRASÍLIA

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, mantém as expectativas de que a política industrial alcance taxa de investimento fixo de 21% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2010 e que o país tenha uma participação de 1,25% do total das exportações mundiais, o que corresponde a US$ 208,8 bilhões, mesmo diante das perspectivas de desaceleração da economia mundial.

O ministro afirma que os investimentos estrangeiros estão sendo realizados através dos incentivos da chamada Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP).

¿ A política industrial está indo muito bem, as desonerações (tributárias dos setores) estão acontecendo ¿ disse Miguel Jorge, ontem, à Gazeta Mercantil.

Entretanto, exportadores afirmam que a política industrial até agora não surtiu efeito sobre as exportações brasileiras. Até porque medidas como o Drawback Verde-Amarelo ¿ que permite desonerar alguns tributos para a compra de insumos nacionais destinados à produção de bens exportáveis ¿ começou a vigorar apenas em 1º de outubro. Ou seja, quase um mês depois do agravamento da crise mundial.

¿ Não deu tempo para acontecer nada ¿ analisou o vice-presidente da Associação dos Exportadores do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, que disse que as medidas vieram tarde demais.

¿ O governo errou no timing, por isso a política industrial deverá encontrar buracos durante seu percurso até 2010 ¿ complementou.

Conforme entende Castro, tal programa deveria ter sido implantado há três anos, quando as exportações mundiais estavam a todo vapor.

¿ Hoje o câmbio é favorável para a exportação, mas o cenário não ajuda, há redução da demanda mundial ¿ acrescentou.

A política industrial também busca reduzir os custos dos investimentos nas linhas de crédito do BNDES. O ministro Miguel Jorge informou que no setor da indústria naval já existem quatro estaleiros funcionando no país com os incentivos da política industrial, sem citar os nomes das empresas. Enumerou a construção de uma linha de montagem de locomotivas da General Eletric em Minas Gerais e destacou a instalação de uma fábrica de helicóptero da Helibrás, de capital brasileiro e francês, em Itajubá, também no Estado mineiro. Ao todo, a política deverá beneficiar mais de 20 setores econômicos.

Seguindo o tom otimista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que prega que o pior da crise já passou, o ministro mantém a expectativas na PDP.

O vice-presidente da AEB avalia ser difícil que os objetivos da nova política industrial sejam alcançados até 2010, diante da piora do cenário econômico mundial.

¿ A tendência é de que as metas não sejam atingíveis, pois o cenário mudou bastante. E mesmo que o cenário melhore até 2010, o mundo não tem estrutura para voltar ao que era no passado ¿ avaliou Castro.

Ele acredita que a receita das exportações brasileiras deve alcançar a meta de US$ 202 bilhões neste ano, graças à bolha que houve nos preços das commodities na primeira metade de 2008. Porém, ele descarta a hipótese de o desempenho se repetir em 2009 e 2010, já que tanto as cotações dos produtos básicos como a demanda mundial estão em baixa. No ano passado, as exportações brasileiras representaram 1,18% do total no mundo, ou US$ 160,6 bilhões.

Castro estima que em 2009 as vendas externas do Brasil devem cair, no mínimo, US$ 20 bilhões, considerando apenas a redução das cotações das commodities. E reforça que o Brasil não conseguirá recuperar os embarques em 2010.

¿ Até 2010 teríamos que ter aumento de preço das commodities, e mesmo que as cotações voltem a subir elas não devem recuperar os patamares anteriores, quando os preços das soja e do petróleo subiram mais de 100% ¿ recorda.

O ministro Miguel Jorge disse que a projeção da AEB é precipitada.

¿ É bastante prematuro fazer uma previsão dessa ordem com tanta segurança ¿ ponderou o ministro.

O dirigente da AEB rebateu o ministro, ao comentar que "é claro que o ministro tem que ser otimista em suas análises".