O Estado de São Paulo, n.46397, 28/10/2020. Metrópole, p.A17

 

Imunidade pode não durar, sugere teste

28/10/2020

 

 

Pesquisadores do Imperial College, de Londres, constataram, testando 365 mil pessoas, certo declínio na presença de anticorpos

LONDRES

Um estudo do Imperial College de Londres, publicado esta semana, levantou dúvidas sobre a duração da imunidade para a covid-19 após a infecção. Os pesquisadores observaram que os anticorpos que agem contra o vírus diminuíram rapidamente na população britânica. Os resultados foram divulgados em pré-publicação, ainda sem revisão de seus pares. Cientistas brasileiros ouvidos pelo Estadão, porém, dizem que a redução de anticorpos não significa que a imunidade fique menor ou que seja maior a chance de reinfecção.

Os pesquisadores rastrearam os níveis de anticorpos em 365 mil pessoas na Inglaterra após a primeira onda de infecções por covid-19. Análises realizadas entre 20 de junho e 28 de setembro, por meio de teste sorológico, mostraram que a prevalência de anticorpos diminuiu em 26,5% durante o período de estudo – de quase 6% para 4,4%.

Os resultados sugerem que a perspectiva de redução da imunidade antes de uma segunda onda só aumenta. Embora a proteção contra o novo coronavírus seja um tema complexo, e envolva as células T, bem como células B – que podem estimular a produção rápida de anticorpos após nova exposição ao vírus –, os cientistas disseram que a experiência com outros coronavírus indica que a imunidade pode não ser duradoura.

“Podemos ver os anticorpos e podemos vê-los diminuindo; e sabemos que os anticorpos, por si próprios, são bastante protetores”, disse Wendy Barclay, do Departamento de Doenças Infecciosas da instituição.

Quem teve a confirmação da covid-19 por meio do teste RTPCR, considerado “padrão ouro”, apresentou declínio menos pronunciado nos anticorpos em comparação com os assintomáticos e desconheciam a infecção. A tendência de queda foi observada em todas as regiões e faixas etárias, mas foi maior em idosos. Não mudaram os níveis de anticorpos de profissionais de saúde, talvez pela exposição repetida ao vírus.

Barclay disse que a rápida diminuição dos anticorpos não tem, necessariamente, reflexos na eficácia das vacinas. “Uma boa vacina pode ser melhor do que a imunidade natural.”

Paul Elliott, autor do estudo, disse que “o teste positivo para anticorpos não significa que você seja imune à covid-19”. Segundo ele, ainda não está claro qual o nível de imunidade que os anticorpos fornecem ou quanto ela dura. “Se alguém der positivo para anticorpos, ainda assim precisará seguir as diretrizes nacionais, incluindo medidas de distanciamento social; fazer um teste se apresentar sintomas; e usar proteções faciais quando necessário”, disse.

“É um estudo muito relevante para entender a dinâmica da resposta ao vírus, mas a gente precisa entender que a resposta imunológica não se baseia somente em anticorpo. Tem resposta de célula também que é muito importante”, diz Mellanie Fontes-dutra, pesquisadroa em Bioquímica na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Outra pesquisa. O King’s College, também de Londres, publicou ontem estudo relacionado aos anticorpos do coronavírus em revista do grupo Nature. Segundo o trabalho, 95% dos pacientes desenvolveram anticorpos após o 8.º dia do início dos sintomas. A concentração de anticorpos diminuiu com o tempo e a redução foi proporcional à gravidade da doença. A pesquisa analisou 65 pacientes e 31 profissionais de saúde que já haviam se recuperado. Os cientistas informaram que a queda dos anticorpos pode sugerir que uma dose de reforço seja necessária em algumas das vacinas./ JOÃO PRATA e AGÉNCIA REUTERS

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Rússia pede aval da OMS para Sputnik V

28/10/2020
 
 
A Rússia enviou à Organização Mundial da Saúde (OMS) um pedido para aprovação de uso emergencial e pré-qualificação da vacina Sputnik V, de acordo com o Fundo de Investimento Direto Russo (RDIF). “Enviamos um pedido de registro acelerado (Lista de Uso de Emergência, EUL) e pré-qualificação da vacina à Organização Mundial da Saúde, o que permitirá que a Sputnik V seja incluída na lista de medicamentos que atendem aos principais padrões de qualidade, segurança e eficácia”, disse Kirill Dmitriev, diretor do RDIF, em um comunicado.