Correio Braziliense, n. 21072, 02/02/2021. Cidades, p. 14

 

Expectativa de mais 50 mil doses

Samara Schwingel 

02/02/2021

 

 

Após o início da vacinação contra covid-19 para idosos acima de 80 anos no Distrito Federal, a Secretaria de Saúde (SES) espera receber cerca de 50 mil doses da CoronaVac — imunizante produzido pelo Instituto Butantan (SP) em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac — hoje. Especialistas avaliam que o processo de vacinação no DF tem que melhorar, e o sistema de drive-thru, que começa hoje, às 8h — ao todo, serão 11 pontos da cidade —, pode ser uma boa solução. Órgãos de controle externo estão acompanhando todo o processo, a fim de garantir que ocorra de forma segura e sem irregularidades. A força-tarefa de combate à pandemia do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) vai fiscalizar presencialmente a vacinação.

Segundo a infectologista do Hospital de Águas Claras Ana Helena Germoglio, caso mais doses cheguem ao DF, o ideal é que se amplie a vacinação para mais pessoas. "Assim como os idosos com mais de 80 anos, exitem outros grupos que são mais vulneráveis à doença e tendem a evoluir quadros graves. Por isso, é importante que eles sejam prioridade na fila das vacinas", frisa. A médica defende que, quanto mais doses chegarem, mais pessoas precisam ser vacinadas. "Aqueles que forem imunizados protegem a si mesmos e aos outros, pois, diminuem a circulação do vírus e a gravidade da doença. Além disso, ajudam a desafogar o sistema de saúde e evitam um colapso", explica.

Ana Helena avalia que, no primeiro dia de vacinação de pessoas com mais 80 anos, o público estava muito ansioso. "Com certeza, todos serão vacinados. Ficar em filas, aglomerado, em pé e sob o Sol é, totalmente, contraindicado, principalmente para a faixa etária que está sendo vacinada agora", alerta. Ana afirma que é necessário evitar situações de exposição ao vírus. "Caso o posto esteja com muita gente, vá embora. Volte outro dia. Não adianta nada ficar mais 10 meses em casa, se cuidando e sem sair para, no dia da vacinação, ser contaminado", ressalta.

Dificuldades
Para o professor de epidemiologia da Universidade de Brasília (UnB) Walter Ramalho, a principal dificuldade do primeiro dia de vacinação foi a organização. Para ele, durante as próximas fases, será necessário focar e resolver este aspecto. "Cada unidade de saúde ficou livre para definir como atenderia ao público. Isso confunde a população e atrasa o processo. Uma unificação do atendimento poderia resolver este problema", declara.

Hoje, a partir das 8h, terá início a vacinação por drive thru em 10 pontos da capital. Ontem, o modelo foi antecipado no Lago Sul. A medida foi adotada pela Secretaria de Saúde para facilitar a vacinação de idosos com dificuldade de locomoção e evitar aglomerações. Segundo Walter, o modelo é uma alternativa, mas não é uma solução. "Com certeza, ajuda a desafogar os postos de saúde, mas não funciona para toda a população. Apenas para aqueles que têm carro. Ou seja, é preciso pensar em todos e em como atendê-los da melhor forma", completa.

Fiscalização
Desde a primeira fase da vacinação contra covid-19 no DF, a força-tarefa de combate à pandemia do MPDFT fiscaliza o cumprimento das regras estabelecidas no Plano Distrital de Vacinação. Durante o primeiro dia da imunização dos idosos com 80 anos ou mais, o órgão não recebeu denúncias sobre irregularidades. O acompanhamento presencial do processo será realizado hoje e amanhã. Por questão de logística, o Ministério Público não divulga quais unidades de saúde ou pontos de vacinação serão visitados.

"Esperamos que esta fase ocorra com mais tranquilidade. De qualquer forma, vamos acompanhar e requisitamos que a própria Secretaria de Saúde acompanhe também", disse o procurador da força-tarefa José Eduardo Sabo Paes. Ontem, o secretário de Saúde, Osnei Okumoto, acompanhou a vacinação em alguns pontos e deve continuar o acompanhamento de acordo com a disponibilidade de agenda do chefe da pasta.

Pontos de vacinação

Todos os locais de aplicação dos imunizantes das 8h às 17h. Para serem vacinados, os idosos precisam portar documento de identificação e CPF. Não é preciso fazer cadastro prévio.

Asa Norte

UBS nº 2 Asa Norte, EQN 114/115, Área Especial

Asa Sul

UBS nº 1 Asa Sul, SGAS 612, Lotes 38/39, L2 Sul

Brazlândia

UBS nº 1 Brazlândia, EQ 6/8, Lote 3, Setor Norte

Candangolândia

UBS nº 1 Candangolândia, EQR 5/7, Área Especial 1

Ceilândia

UBS nº 7 Ceilândia, EQNO 10, AE D/E, Setor O

UBS nº 16 Ceilândia, SHSN, Trecho 1, Etapa 1, Qd. 500, AE 2

UBS nº 17 Ceilândia, QNP 16/20, Setor P Sul

Cruzeiro

UBS nº 2, Setor Escolar, Lote 4, Cruzeiro Velho

Gama

UBS nº 1 Gama, Entrequadra 6/12, Área Especial, Setor Sul

UBS nº 3 Gama, E/Q 3/5, Área Especial, Setor Leste

UBS nº 5 Gama, Área Especial, Lote 38, Setor Central, Lado Leste

Guará

UBS nº 1 Guará, QE 6, Lote C, Área especial S/N, Guará 1

UBS nº 3 Guará, QE 38, Área Especial S/N, Guará 2

UBS nº 4 Guará, QELC, EQ 2/3, Conjunto Lucio Costa

Itapoã

Quadra Poliesportiva do Itapoã (ao lado da UBS 2 Itapoã), Quadra 61, Área Especial Del Lago

Núcleo Bandeirante

UBS nº 1 Núcleo Bandeirante,

3ª Avenida, Área Especial nº 3

Lago Norte

UBS nº 1 Lago Norte, SHIN, QI 3, Área Especial

Paranoá

Quadra coberta ao lado da Administração Regional do Paranoá, Praça Central S/N, Lt. 1

Planaltina

Jardim de Infância Casa da Vivência Avenida, NS01, Área Especial 9, SRL

Riacho Fundo 2

QC 1, Conjunto 10, Lote 1, Riacho Fundo 2

UBS nº 1 Riacho Fundo 2, QC 6, Conjunto 16, Área Especial, Lote 1

UBS nº 2 Riacho Fundo 2

Samambaia

UBS nº 2 Samambaia, QS 611, AE 2

Santa Maria

Colégio Paloma, QR 207/307, Conjunto T, Área Especial

UBS nº 2, Santa Maria, EQ 217/317, Área Especial, Lote E

São Sebastião

Caic Unesco, Quadra 5, Conjunto A, Área Especial, Centro

SCIA/Estrutural

UBS nº 1 Estrutural, AE 1,

Setor Central

Sobradinho

UBS nº 2 Sobradinho

Taguatinga

UBS nº 1 Taguatinga, QNG, AE 18/19

UBS nº 5 Taguatinga, Setor D Sul, AE 23

Drive-thru

Plano Piloto

Parque da Cidade — Estacionamento 13*

Lago Sul

Pontão do Lago Sul*

Policlínica Lago Sul, Setor de Habitações Individuais Sul, QI 21

Águas Claras

Faculdade Unieuro*

Jardim Botânico

Centro de Práticas Sustentáveis, DF-463, Avenida do Cerrado, Jardins Mangueiral*

Planaltina

UBS n° 20 — Quadra 12 D, Conjunto A, Área Especial

Sobradinho

UBS 1, Quadra 14, Área Especial 22/23

Sobradinho 2

UBS n° 2, Rodovia DF-420, Complexo de Saúde, Setor de Mansões ao lado da UPA de Sobradinho

Guará

UBS n° 2, QE 23, Lote C, Área Especial, s/n

Riacho Fundo 1

UBS 1, QN 9, Área Especial II

Ceilândia

UBS n° 5, QNM 16, Módulo F

* Ponto exclusivo de vacinação por drive-thru

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Entrevista - Jonas Brant 

Ana Maria da Silva 

02/02/2021

 

 

A vacinação para idosos acima de 80 anos começou ontem, no Distrito Federal. Há 42 mil pessoas desse grupo morando na capital, segundo dados da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan). Ao programa CB.Poder — uma parceria do Correio Braziliense e da TV Brasília —, o epidemiologista e professor da Universidade de Brasília (UnB), Jonas Brant, alertou para os cuidados que devem ser adotados na ida aos postos de vacinação. “Ao estar nessa fila, com uma grande densidade de pessoas, eu estou me expondo a outras pessoas que estão ali, e algumas delas podem estar no início de transmissão”, disse ao jornalista Alexandre de Paula.

Qual a importância dessa etapa da vacinação e como isso vai impactar na cidade?

Nós conseguimos começar a imunizar o maior grupo de risco da doença, então é um momento importante, de muita alegria. A gente espera que, com isso, consigamos diminuir o número de internações e de casos graves, além de aliviar um pouco a rede hospitalar de alta complexidade no DF.

Qual a preocupação que as filas trazem?

O GDF (Governo do Distrito Federal), historicamente, tem uma dificuldade muito grande em termos de mobilização e comunicação social. Poderíamos ter trabalhado essa campanha de maneira mais esparsa, garantindo que os idosos soubessem quando deveriam ir para a unidade mais próxima de sua residência. Não foi o que aconteceu, e, com isso, tivemos o adensamento de pessoas na porta de unidades de saúde, causando um risco. Para as pessoas que ainda não foram, é importante recomendar que esperem, pois essa fila vai diminuir. Existem doses suficientes para todas as pessoas desse grupo de risco e, depois, ao final da semana, ela deve buscar essa unidade com mais calma.

As pessoas, quando estão em fila, estão se expondo. Muitos pensam que após a vacina não haverá mais perigo. Qual cuidado deverá ser adotado?

Ao estar nessa fila, com uma grande densidade de pessoas, eu estou me expondo a outras pessoas que estão ali, e algumas delas podem estar no início de transmissão. E estou me expondo a outros riscos, também. O próprio fato de sair de casa e se expor ao Sol, para uma pessoa de 80 anos, é um risco grande. Então, é importante evitar filas, tentar se organizar para que, quando as filas diminuam, buscar o atendimento com bastante tranquilidade.

Muitas pessoas têm questionado a vacina, com dúvidas a respeito de quanto tempo demora, como funciona, se tem que esperar a segunda dose. Qual a orientação?

Quando eu tomo uma vacina, estou expondo o meu organismo a um antígeno — que é um pedaço do vírus — para que eu possa conhecê-lo e preparar meu sistema imunológico para combatê-lo. Na maioria das vacinas, somente uma dose não é suficiente. Eu preciso fazer uma dose para que o organismo conheça o vírus e, depois, reaplico outra, para que o sistema imune produza uma grande quantidade de anticorpos. Em geral, teremos que esperar a segunda dose para que a pessoa esteja realmente imunizada. Já vimos, por meio de estudos, que, mesmo que receba as duas doses, não haverá 100% de proteção. Provavelmente, não terão a doença em estado grave, mas ainda podem ser infectados. Então, será importante manter as medidas de proteção.

A vacina é a nossa saída da pandemia, de fato?

A população fala disso agora, mas os especialistas debatem isso o dia todo. Não é simples colocar uma vacina no mercado. Não colocamos uma nova, no calendário, sem uma discussão importante e grande com grupos de especialistas. As vacinas que estão sendo colocadas no calendário brasileiro de imunização provaram ser muito seguras, sem reações adversas. Os estudos nos mostraram evidências de que elas são seguras e que podemos ter acesso a elas e, a partir disso, garantir a prevenção da doença, que é muito mais importante neste momento.

Alguns dos pontos que levaram as pessoas a questionarem a vacinação é o tempo que levamos para desenvolver a vacina. Quais fatores pesaram para o desenvolvimento tão rápido?

Em 2003, tivemos uma epidemia chamada Sars, na China, que causou surtos em vários países e levou à mudança do regulamento sanitário internacional. Os países se reuniram para criar um regulamento como forma de preparação para o caso de haver uma nova pandemia. Desde 2005, quando o regulamento entrou em vigor, os países desenvolveram capacidades básicas e vêm se preparando para isso. Quando houve a H1N1, nós conseguimos desenvolver uma capacidade maior de organização para produção em larga escala. Ainda tivemos o ebola, na África. Esse surto, por muita sorte e um trabalho muito competente dos epidemiologistas daquela região, foi contido e, por pouco, não se espalhou. Na época, o mundo se mobilizou para fabricar vacinas contra o vírus. Então, essa expertise de ampliação de capacidade de produção tem se acumulado no mundo. É importante salientar que o Brasil está fora dessa corrida, uma vez que não tem investido em ciência. Por isso, não conseguiu estar entre os países com vacinas no mercado e tecnologias novas para enfrentar o vírus.