Título: Lula: Obama não pode fracassar
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Fonte: Jornal do Brasil, 13/11/2008, Economia, p. A18
Presidente destaca desafios dos EUA e diz que não fará "pedidos específicos" na cúpula do G-20
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em Roma, que o presidente eleito dos EUA, Barack Obama, "não pode fracassar" ao enfrentar os desafios que deverá encarar nos âmbitos interno e externo quando assumir o cargo, no início do ano que vem.
¿ Uma pessoa que foi eleita como foi Obama, com as expectativas que despertou, não pode fracassar ¿ disse Lula em entrevista a jornais italianos.
O presidente, que se encontra desde o início da semana na Itália, em visita oficial, falou anteontem por telefone com Obama sobre a crise financeira mundial.
¿ Se Obama fracassar, a frustração será tão grande que seriam necessários muitos séculos para que um negro seja de novamente eleito presidente dos Estados Unidos ¿ comentou. ¿ Obama, que me parece uma pessoa muito inteligente, é consciente de que, se não tomar medidas rapidamente para enfrentar a crise, as mesmas acusações que foram feitas ao George W. Bush serão feitas contra ele. E Obama conta com um grande capital político para tomar as medidas, um capital que Bush talvez já não tenha ¿ afirmou Lula.
O presidente disse mais uma vez ter esperança de que Obama acabe o bloqueio mantido pelos Estados Unidos contra Cuba há mais de 40 anos.
¿ Obama deve entender que não existe uma só razão para manter o bloqueio contra Cuba. Nenhuma razão. A Guerra Fria acabou, o Muro de Berlin caiu. Os Estados Unidos têm força política para fazerem este gesto ¿ afirmou.
Como líder do grupo de países emergentes na reunião de cúpula do G-20, que ocorrerá em Washington no próximo sábado ¿ sem presença de Obama ¿ Lula adiantou que o Brasil não fará pedidos específicos.
¿ Não vamos fazer pedidos específicos, porque há anos solicitamos aos líderes políticos que se reúnam para discutir os problemas do mundo, assim como sobre o comércio mundial e os conflitos em curso. Se os Estados Unidos tivessem escutado os outros países, talvez não tivesse havido a Guerra do Iraque.
Sobre a crise, Lula repetiu o discurso que vem fazendo nos últimos dias, batendo na tecla da regulamentação:
¿ Acredito, antes de mais nada, que todo o sistema financeiro deve ser regulamentado e isso não se decide em uma só reunião.
Anteontem, o presidente obteve o apoio do chefe de governo italiano, o primeiro-ministro Silvio Berlusconi, na sua busca por uma saída conjunta para para a crise financeira, e esteve com os principais líderes sindicais e empresariais.
Ontem, cumpriu uma agenda menos apertada. Pela manhã, visitou a imponente sede renascentista da prefeitura de Roma, onde foi recebido pelo prefeito Gianni Alemanno, com quem conversou sobre os problemas que afligem as grandes cidades.
O presidente brasileiro concluirá sua visita a Itália e ao Vaticano hoje com um encontro com o papa Bento XVI, na biblioteca particular do pontífice.