Título: EUA adotam nova estratégia
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 13/11/2008, Economia, p. A18
Tesouro decide injetar dinheiro em empresas não-bancárias, para privilegiar consumidor.
Em um anúncio que surpreendeu e ajudou o mercado a desabar ontem, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, anunciou ontem que irá aplicar recursos do pacote de US$ 700 bilhões aprovado no início de outubro pelo Congresso em empresas fora do setor bancário, como companhias de cartões de crédito e de financiamento automobilístico e estudantil. O anúncio marca a ampliação do alcance do pacote, que tinha o objetivo inicial de comprar papéis "podres" (com baixíssima probabilidade de resgate, ou seja, com alto risco de calote) das carteiras dos bancos.
Paulson disse que, na época da elaboração do plano, "acreditávamos que esse seria o meio mais efetivo de fazer o crédito fluir de novo". O secretário disse, no entanto, que enquanto o Congresso avaliava a medida, as condições do mercado pioraram consideravelmente.
¿ Ficou claro para mim que, quando o pacote foi assinado, precisávamos agir rapidamente e com vigor, e que a compra de títulos problemáticos, nosso foco inicial, levaria tempo para ser implementada e não seria suficiente dada a gravidade do problema.
Além disso, o Tesouro avalia programas para minimizar o impacto do chamado TARP (Programa para Alívio de Ativos Problemáticos, na sigla em inglês) sobre os recursos públicos, impondo às empresas que se candidatarem para receber ajuda a levantar capital privado, "potencialmente igualando os investimentos."
Segundo Paulson, "o importante mercado de securitização de crédito fora do sistema bancário também precisa de apoio". Ele lembrou que cerca de 40% do crédito ao consumidor nos EUA é oferecido através da securitização (títulos emitidos como garantia de débitos) de dívidas de cartão de crédito, financiamentos de automóveis e créditos estudantis, entre outras categorias de crédito. Para ele, além dessa, outra prioridade na aplicação do pacote será garantir a estabilidade do sistema financeiro.
¿ Embora o sistema financeiro tenha se estabilizado, tanto bancos como outras empresas financeiras podem precisar de mais capital.
No final de setembro, quando o Tesouro pediu os US$ 700 bilhões ao Congresso, a justificativa foi que os recursos seriam usados para retirar das carteiras dos bancos os títulos lastreados em créditos imobiliários subprime, depreciados após o estouro da bolha imobiliária. O principal problema era determinar quanto pagar pelos títulos já que seu valor de mercado havia despencado.
Até agora, o Tesouro já usou US$ 290 bilhões dos US$ 350 bilhões iniciais liberados, mas não comprou um único "ativo tóxico". É provável que o Congresso condicione a liberação dos outros US$ 350 bilhões à aprovação de um plano de resgate ao setor automotivo, que pode custar US$ 25 bilhões. Ontem, Paulson disse que as montadoras "são chave para a indústria em geral".
Outra estratégia que ganha força é a de injetar parte dos US$ 700 bilhões nos bancos que adotarem planos de refinanciamento para as dívidas imobiliárias. Os imóveis retomados pelos bancos vêm se tornando um grande problema e, por outro lado, o refinanciamento evitará que mais pessoas percam as suas casas. O Citigroup está anunciando que poderá refinanciar até um terço de sua carteira que ainda não estão inadimplentes mas que correm o risco de ficar. O JP Morgan quer fazer o mesmo com 400 mil.
Com o refinanciamento, haverá uma diminuição da receita dos bancos, que pode ser compensada pelo Tesouro. Já as recém-estatizadas Fannie Mae e Freddie Mac, as maiores do ramo, devem refinanciar as dívidas dos mutuários inadimplentes por mais de 90 dias. Desde o início de 2006, quando o mercado imobiliário nos EUA começou a perder força, 5,6 milhões de famílias já receberam ordens de despejo pelo não-pagamento de prestações: 1,2 milhão em 2006, 2,2 milhões em 2007 e mais 2,2 milhões no ano só até setembro.
Em setembro, 1 entre cada 475 residências nos EUA estava passando pelo "forclosure", que antecede o despejo. Califórnia, Flórida e Arizona estão entre os Estados mais afetados. As famílias que perdem seus imóveis normalmente ficam no mesmo bairro, alugando um dos milhares de imóveis agora disponíveis e administrados por bancos ou empresas contratadas por eles. Normalmente, o custo do aluguel equivale à metade do valor que os pagavam em prestações e impostos.